Segunda-Feira, 10 de fevereiro de 2025

Postado às 09h45 | 11 Fev 2020 | Coluna César Santos - 11 de fevereiro de 2020

Crédito da foto: Arquivo Presidente Bolsonaro ignorou a abertura do ano legislativo

NÃO É SÓ QUESTÃO DE LITURGIA

O jornalista Gaudêncio Torquato faz um passeio no passado para mostrar como o Brasil está ruim de político no presente. Ele é certeiro:

"Cada governante com suas manias. Idi Amin, ditador de Uganda, dizia que conversava com Deus. Um jornalista jogou a pergunta: “Quando”? Ele: todas as vezes que se faz necessário. Um contador de lorotas. A história registra casos de governantes que se colocavam em pé de igualdade com Deus. Em Gana, os ganenses comparavam o ditador Nkrumah a Confúcio, Maomé, São Francisco de Assis e Napoleão. Ele é “imortal, nosso messias”. Franco proclamava-se “Caudilho da Espanha pela graça de Deus”.

Giscard D’Estaing, chegando à presidência da França, inventou maneiras de popularizar sua imagem. Tocava acordeon em praças públicas, andava a pé por Paris, ia ao teatro com a família, tomava café com varredores de rua, desfilava com seu cão amestrado. Um adepto do dandismo, fenômeno que explica pessoas que têm o prazer de espantar. Foi criticado por exagerar a dessacralização do poder.

Nisso, inspirava-se em Luis XIV, o rei que se exibia em Versailles montado em seu cavalo crivado de diamantes. Dizia ele: “os povos gostam de espetáculo, com o qual dominamos seu espírito e seu coração”.

Já outros se levam mais a sério. Convidado numa festa a tocar cítara, Temístocles, o ateniense, altivo e poderoso, respondeu: “não sei tocar música, mas posso fazer de uma pequena vila uma grande cidade”. De Gaulle, eis um general que impunha respeito. Não precisava se enfeitar nem adoçar as palavras para impor autoridade. John Kennedy brilhava na frente de uma câmera de TV. Nixon, por sua vez, era uma lástima.

O fato é que os governantes, cada um a seu modo, se esforçam para dar brilho à imagem. E, frequentemente, trocam a semântica pela estética, o conteúdo pela forma. Quando o exagero sobe a montanha, a imagem se esfarela. O povo capta bem a fosforescência artificial de certos mandatários. Por isso, alguns sobem, outros descem.

Vejamos a questão da identidade - (do idem, latim, semelhante), abrangendo a história, o pensamento, a índole, as ações de um governante. Quando ele monta um circo ao seu redor, e esse circo passa a oferecer um espetáculo cotidiano, acaba contribuindo para tirar a força do conteúdo. Quando substitui a coisa maior pela menor, desmonta a liturgia do poder. Liturgia necessária para resguardar credibilidade. A banalização de situações arrogantes, com cargas de desleixo, embrulhadas em versões falsas, é um golpe na liturgia das instituições e de seus ocupantes.

Um presidente, um magistrado, mesmo um representante da esfera parlamentar, autoridades de quaisquer áreas se vestem com um manto litúrgico. Sob o qual se abrigam os valores do respeito, da ordem, da credibilidade, da disciplina, da norma imposta pelo cargo. Quando um destes figurantes maltrata uma liturgia criada pelo dever e princípios que regulam os comportamentos da autoridade, está ele rebaixando o seu conceito.

Deve-se respeitar as pessoas como elas são. Mas é sábio que todos procurem preservar a ordem que se estabelece para cumprimento retilíneo das tarefas que cabem a quem se investe de poder. É respeitável a figura que desce do altar para conversar com as pessoas nas ruas, nas praças, nos ambientes de trabalho. Mas há uma linha tênue que deve ser observada, a linha que separa a responsabilidade da demagogia, a seriedade do populismo.

Pequeno exemplo. O Brasil político de 2020 foi aberto com dois atos que integram a agenda nacional: a abertura do ano parlamentar, com sessão conjunta do Senado e Câmara; e a abertura do Ano Judiciário, com ato solene no Supremo Tribunal Federal. Esses eventos sempre contaram com a presença do mandatário-mor da Nação, o presidente da República. Que não compareceu, decidindo priorizar a colocação de uma pedra em terreno para construção de um colégio militar em São Paulo.

Um desprestígio para as esferas política e judiciária. Possivelmente, os próprios militares, que cumprem rigorosamente a liturgia da caserna, tenham desaprovado, em seu íntimo, aquele gesto presidencial.

O general Temístocles, o general De Gaulle e tantos outros grandes personagens deram exemplos de grandeza e autoridade. Mulheres também. Margareth Tatcher foi zelosa governante. Imbuída de princípios. Tinha um repertório cheio de grandes ideias. Até o Brasil mereceu dela esta reprimenda: “Parece-me bem claro que o Brasil não teve ainda um bom governo, capaz de atuar com base em princípios, na defesa da liberdade, sob o império da lei e com uma administração profissional.”

 

FRASE

"Eu me expressei muito mal. Peço desculpa a todos os funcionários públicos."

PAULO GUEDES – Ministro da Economia, que havia chamado servidores públicos de parasitas.

 

FABIANO SHOW

 O artista mossoroense Fabiano Almeida, o “Fabiano Show”, está necessitando da solidariedade de todos. Vamos estender a mão. Os seus amigos, cantoras e cantores, estão organizando uma feijoada beneficente, com sorteio de brindes, como forma de levantar recursos para ajudar ao colega. O evento será realizado domingo (16), no Clube Carcará, a partir das 12h. Senha: R$ 10,00.

 

ALVIRRUBRO

 A Associação Cultural Desportiva Potiguar celebra hoje 75 anos de fundação. Nasceu em 11 de fevereiro de 1945, da fusão do Esporte Clube Potiguar e Sociedade Desportiva Mossoró. Seu primeiro presidente foi o sargento Edwardo Monteiro de Medeiro. Potiguar foi o primeiro clube de Mossoró no Campeonato Estadual, em 1974, e o primeiro a conquistar o título, em 2004.

 

ELEFANTE

 Os gastos com servidores públicos comprometem 79,2% da arrecadação própria do Estado, o que coloca o Rio Grande do Norte no incômodo primeiro lugar no ranking nacional. Traduzindo melhor português, o governo trabalha apenas para pagar a folha no final do mês.

 

ELEFANTE II

 O RN não tem uma obra em andamento bancada com recursos próprios. A maioria é do projeto RN Sustentável, criado ainda na gestão da então governadora Rosalba Ciarlini, com dinheiro do Banco Mundial. A outra parte é bancada com recursos federais, através de convênios entre Estado e União.

 

SEM DIÁLOGO

 A governadora Fátima Bezerra (PT) se recusa a receber o Fórum dos Servidores; os dirigentes sindicais só negociam a reforma da Previdência com a presença da governadora. De quebra, acusam que Fátima não dialoga, contrariando o discurso oficial. O fato é que a proposta vai à Assembleia Legislativa sem negociação. Até aqui.

 

COM DIÁLOGO

 As entidades esperam que a negociação ocorra quando a proposta chegar ao Legislativo. Eles acreditam que os deputados irão receber o Fórum para discutir o que o governo não se dispôs.

 

 É NOTÍCIA

1 - O Rio Grande do Norte tem mais de 48 mil pessoas esperando pela concessão do Bolsa Família. Todas cadastradas. A burocracia no Cadastro Único entrava a vida de quem está na extrema pobreza.

2 - A Secretaria Municipal de Saúde assinou o convênio com o Hospital São Luiz viabilizando a contratação de 10 leitos de UTI pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O credenciamento dos novos leitos é para suprir necessidade urgente na rede municipal de saúde.

3 - O avião ATR da Azul da linha Recife–Mossoró teve dificuldade para aterrissar no aeroporto Dix-sept Rosado na tarde desta segunda-feira (10). A forte chuva não permitiu boa visibilidade.

4 - O coronavírus já matou mais de 900 pessoas na China continental. E o número de mortos vai continuar subindo, segundo autoridades chinesas. No Brasil, nenhum caso foi confirmado. Apenas oito suspeitos estão sendo investigados. Mas, há riscos.

5 - O ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu desculpa por ter chamado servidores públicos de parasitas. Admitiu que foi desrespeitoso. Foi, sim. E agora parece tarde. Ele já é o inimigo número 1 dos barnabés, e não se livrará do rótulo.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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