Sexta-Feira, 07 de fevereiro de 2025

Postado às 09h45 | 17 Jun 2020 | Coluna César Santos - 17 de junho de 2020

A verdade se cobrirá com as cores de fake news

RAZÃO SOBRE A EMOÇÃO

Com a devida licença do jornalista Gaudêncio Torquato, autor do texto que segue, faça a boa leitura:

O voto, a maior arma de defesa da democracia, está deixando o coração para subir à cabeça. A hipótese pode até parecer estrambótica nesses tempos de intensa polarização, quando o frenesi das emoções parece ganhar de capote para o jogo da razão. Enganam-se, porém, aqueles que imaginam emoção como sinônimo de explosão, catarse, palavras de baixo calão (que passaram a frequentar a linguagem dos governantes), slogans, refrãos, culto aos mitos. Quando alguém, ante uma tragédia como a que estamos vivenciando com a pandemia da Covid-19, diz - “nunca vi tanto desgoverno, não aguento mais, estou arrependido do meu voto na última eleição” - está falando pelo coração ou pela cabeça?

À primeira vista, as expressões parecem sair das veias do coração. Ocorre que elas são o resultado de um somatório de conhecimento, acompanhamento da política, comparação com outros ciclos históricos, observação acurada do que se passa ao redor. Nesse caso, temos de convir que um processo racional se desenvolveu. A razão prevaleceu, admitindo-se, claro, que coabita com a emoção na vida dos interlocutores. O fato é que, nas últimas décadas, decepcionadas com representantes e governantes, as pessoas dão as costas à política e iniciam uma jornada de revisão em sua maneira de escolher os quadros públicos.

Na Europa, o desenvolvimento do sentido crítico ocorre ao longo dos ciclos políticos. Políticas sociais fracassadas, os desvios da social democracia, projetos liberalizantes que não deram certo, projetos inadequados e mesmo a corrupção têm sido o pano de fundo para a alteração dos comandos entre partidos. O afastamento de uns e a chegada de outros ao poder ocorre sob o fluxo de um conceito que os franceses designam como “autogestão” técnica, pela qual as pessoas definem o que esperam e o que querem dos governos e estabelecem meios e condições para atingir sua meta. Nos EUA, onde dois partidos dominam a cena, democrata e republicano, é mais fácil selecionar representantes e governantes. Vota-se naquele que melhor atende as expectativas do eleitor.

Por nossas plagas, a paisagem é deserta. De ideias e líderes. Imensos buracos negros se multiplicam na constelação política, abertos pela ausência de expressões de porte, quadros qualificados, pensadores e formuladores políticos de alta densidade. Não se formam mais políticos como antigamente. Lembre-se, no entanto, que mudaram as condições da política. Os parlamentos já não têm mais a força de antigamente, as oposições perderam parte de seu tradicional vigor, o discurso se torna grupal/partidário/fisiológico, enquanto as tribunas não conseguem traduzir a liturgia e o calor dos grandes embates.

O carisma, brilho próprio e nato que serve para emoldurar perfis, também fenece sob a frieza calculista da política de resultados. As causas nacionais cedem lugar a interesses de grupos e setores. As linguagens se aproximam. Os comportamentos se igualam. O varejo se instala na esteira do conceito da política, que deixa de ser missão para ser profissão. A ética ganha contornos adjetivados para servir às circunstâncias.

A coragem, a audácia, o zelo e a obstinação, valores inerentes às lideranças, tornam-se escassos. O rigor na apuração de escândalos só ocorre sob o paredão de pressão da opinião pública. Quando a sociedade reclama, o sistema político corta dedos para não perder os braços.

E o que faz o líder? Defende frentes de interesse. Grupamentos corporativos. A liderança natural está agonizante. O caso de Lula é emblemático. Seu estoque de carisma está se esvaziando. Tem o PT como seu trono, onde assume o papel de onipotente e onisciente. Diz que o PT não assina lista de Frente Ampla porque o partido não é mais aquele do dito politicamente incorreto: “Maria vai com as outras”. Falha de razão e excesso de emoção.

A esfera política não vê a nova identidade em desenvolvimento no Brasil. Que cresce sob o signo da razão, do planejamento, do aproveitamento de oportunidades. No paiol das lideranças, as cores da mesmice se instalaram há muitos anos, gerando um discurso que não afeta, não entusiasma, não entra na alma. Nomes ali expostos são os mesmos de 20, 30 anos atrás.

Nesse ano de pandemia, a ser seguido pelo calendário eleitoral, o superlativo dominará a expressão política, a verdade se cobrirá com as cores de fake news, e o mundo real dividirá suas cores com o mundo virtual. Esperemos que a passarela entre esses dois universos seja pavimentada pela prevalência da razão sobre a emoção. E que não deixemos a polarização eleger radicais. Que o cabo de guerra seja substituído pelo tronco da paz.

 

FRASE

Só vamos autorizar a reabertura do comércio com segurança; a vida em primeiro lugar

ROSALBA CIARLINI - Prefeita de Mossoró ao anunciar a prorrogação do isolamento social por mais uma semana

 

MOSSORÓ

O baixo índice de isolamento social pesou na decisão da prefeita Rosalba Ciarlini (PP) de adiar a reabertura da economia por mais uma semana. Também teve influência decisiva o alto índice de ocupação dos leitos para pacientes do novo coronavírus. A prefeita adiou a decisão para terça-feira, 23. Se até lá o quadro apresentar evolução, o plano de retomada das atividades será anunciado.

 

APODI

Três meses do início da pandemia do novo coronavírus, o Governo do Estado anuncia a reabertura de oito leitos no Hospital Regional de Apodi. Nenhum de UTI. O paciente grave é encaminhado para Mossoró. O mais grave é que Apodi tem um grande número de infectados e óbitos para o tamanho da cidade, sem que o hospital regional tenha, até aqui, cumprido a sua missão de salvar vidas.

 

TÁ FORA

O professor Jean Berg, segundo colocado na lista tríplice à Reitoria da Ufersa, com 24,48% dos votos, anunciou que se for nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro não aceitará o cargo. Entende que deve prevalecer o primeiro colocado da consulta acadêmica, o professor Rodrigo Codes, que recebeu 37,75% dos votos.

 

TÁ DENTRO

Já a professora Ludimilla Oliveira, terceira colocada com 18,33%, afirma que aceita o cargo de reitora se for nomeada pelo presidente Bolsonaro, porque é legítimo. E, de fato, é a regra do jogo. O presidente pode escolher qualquer um dos três nomes escolhidos pela comunidade acadêmica.

 

UM OU OUTRA

Com Jean Berg se autoexcluindo, a Presidência da República terá que escolher entre Rodrigo e Ludimilla. A nomeação do futuro reitor ou reitora sairá até o dia 5 de setembro, quando se encerra a gestão do atual reitor José Arimatea Matos.

 

APOSTA

O presidente Bolsonaro vai nomear Rodrigo Codes, respeitando a vontade da maioria da comunidade acadêmica. Há um entendimento político nessa direção, para o bem da instituição.

 

É NOTÍCIA

1 - Corretíssimo o entendimento da Justiça de que o adicional de insalubridade para servidores da saúde de Mossoró não é conduta vedada em ano eleitoral. É, sim, assistir aos que salvam vidas.

2 - As livrarias e papelarias de Mossoró estão autorizadas a funcionar, desde que adotem medidas preventivas. A flexibilização consta no decreto da prefeita Rosalba Ciarlini (PP), que prorrogou por mais uma semana o isolamento social.

3 - A unidade hospitalar de campanha, na UPA do Belo Horizonte, atendeu mais de 1,4 mil pessoas em maio. A unidade é a porta de entrada dos pacientes do novo coronavírus em Mossoró e região.

4 - O Congresso Nacional deve votar em duas semanas a proposta que adia as eleições municipais para 15 de novembro (primeiro turno) e 6 de dezembro (segundo turno). Há um entendimento nesse sentido na Câmara dos Deputados e no Senado da República.

5 - O Hospital da Polícia Militar em Mossoró continua de portas cerradas. Há três meses, a governadora Fátima Bezerra (PT) prometeu reabri-lo para receber pacientes da Covid-19, dentro dos 170 leitos que a cidade receberia. Espumas ao vento, até aqui.

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Coluna César Santos
JORNAL DE FATO
Mossoró
RN

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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