Sexta-Feira, 07 de fevereiro de 2025

Postado às 10h00 | 22 Jul 2020 | Coluna César Santos - 22 de julho de 2020

Crédito da foto: Ilustração Economia do País precisa andar para sobreviver à pandemia do novo coronavírus

E SE A LOCOMOTIVA PARA?

O jornalista Gaudêncio Torquato faz uma avaliação precisa do cenário econômico do País, agravado com a pandemia do novo coronavírus, e as consequências no campo da política-eleitoral.

Haja terra para cobrir o buraco em que se encontra um país que nem se livrara, ainda, da recessão dos tempos de pré-pandemia. Como preencher a gigantesca lacuna, agravada nesse ciclo de enfrentamento da crise econômica (que se arrasta desde 2015), cujos recursos têm sido desviados para combater a pandemia da Covid-19? Se as novas toneladas de terra para tapar o buraco mexerem com o bolso dos consumidores na forma de um imposto que lembre a malfadada CPMF, conforme intenciona o ministro Paulo Guedes, a vaca irá logo ao brejo, inviabilizando a escada política em que tentará subir uma leva de candidatos comprometidos com o status quo.

O fato é que o país se encontra em recessão, com empresas autorizadas a suspender contratos, diminuir jornadas e reduzir salários, expandindo a massa de inativos e com apenas 83,7 milhões de brasileiros ocupados de um total de 170 milhões em condições de trabalhar. Alguém terá de pagar a conta logo nesse momento que aponta para o empobrecimento da população pós-pandemia. Parcela forte das margens sociais já padece de fome. O vírus se alastra do centro para as margens, abrindo um rastro de destruição e inaugurando a casa dos 2 milhões de contaminados.

O governo se vê diante de um impasse: arrumar recursos para poder cumprir tarefas de seu cotidiano em áreas fundamentais – saúde, educação, segurança, mobilidade urbana, programas de infraestrutura – e, ao mesmo tempo, alongar os braços sociais, com meios que possam garantir a sobrevivência de contingentes carentes. O auxílio emergencial será passageiro e Guedes afirma que o governo não tem caixa para bancar a fortaleza social. O que fazer?

Pelo andar da carruagem, será difícil que ela chegue nas localidades em condições normais. Veremos cavalos trôpegos, cansados e famintos. E não será recebida com festa pelas populações que irão às urnas em 15 de novembro. Todos os corpos da pirâmide social se encontrarão abalados pela catástrofe perpetrada pelo maldito vírus. Vejam o tamanho do impacto. As margens necessitadas, caso não disponham de ampla rede social, tendem a despejar sua revolta sobre aqueles que têm mexido no caldeirão da crise. Ainda mais se o desemprego continuar a fazer sua ronda persecutória.

A seguir, emergirá o vulcão das classes médias, aqui no plural, pela distinção entre uma classe média alta (A), uma média média (B) e uma classe média mais necessitada (C). No seu interior, fervilham adjetivos e substantivos de todos os tipos, dos mais baixos aos mais altos, versando sobre a corrupção na política, a roubalheira, a má gestão dos serviços públicos, a relação entre autoridade pública e endemoniados. São esses grupamentos que dispõem de maior capacidade de expressão, exercendo liderança sobre núcleos e setores. Arrastam consigo as turbas ignaras e dispostas a mudar o feitio da política.

É nesse sentido que a economia puxa a política. Comparemos a economia como a locomotiva que puxa os vagões das classes. Se emperrar ou correr em ritmo muito lento, criará balbúrdia e revolta nos passageiros. E essa revolta sinaliza nas urnas um voto discordante, dado a um candidato que encarne o espírito da indignação. É oportuno, ainda, lembrar a equação com a qual tento explicar a índole das massas. Parto dos quatro mecanismos, também chamados instintos, avocados por Pavlov, dois voltados para a sobrevivência/conservação do indivíduo e dois ligados à conservação da espécie: o combativo, o nutritivo, o sexual e o paternal.

Pois bem, os dois primeiros explicam o sentido de luta do ser humano para sobreviver, a luta contra as intempéries da natureza, a luta contra ameaças de outra pessoa, enfim, o combate por boas condições de vida. O segundo instinto apela para a comida, os insumos necessários à vida. Os dois últimos abrigam atos e valores voltados para a preservação da espécie, o sexo (perpetuação da espécie) e o paternal/maternal (amor, carinho, amizade, solidariedade). Valho-me do segundo, o nutritivo, para compor a equação que cai bem na política: BO+BA+CO+CA = BOlso cheio, BArriga satisfeita, COração agradecido e CAbeça mandando votar no protagonista que proporcionou a geladeira cheia.

O teste das urnas passa pelo vestibular da equação acima. Quem for reconhecido como esse candidato terá chance de chegar ao pódio da vitória. Os altos figurões da administração - Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, o governador do Estado e o prefeito - estão na linha de frente conduzindo a locomotiva. Isso vale para hoje e para 2022. Se a locomotiva for daquelas antigas, uma Maria Fumaça, pode faltar lenha no meio da jornada. Parada nos trilhos, sem fumaça e sem esperança de chegar ao destino, os passageiros só terão uma alternativa: virar as costas a candidatos sem lenha e andar a pé até a próxima estação.

 

FRASE

Parcela forte das margens sociais já padece de fome.

GAUDÊNCIO TORQUATO - Jornalista, professor e consultor político e de comunicação

 

TESTE RÁPIDO

A Prefeitura de Mossoró conseguiu junto ao Ministério da Saúde mais um lote com 20 mil testes rápidos da Covid-19. A Secretaria Municipal de Saúde vai organizar mais um drive thru para testagem em massa. Na primeira vez, sexta-feira da semana passada, mais de 1.600 pessoas fizeram o teste no drive thru instalado na Estação das Artes. 177 pessoas testaram positivo, 11,16%.

 

DE FORA

Dos 63 leitos de UTI ocupados nesta terça-feira, 21, em Mossoró, apenas 18 pacientes são da cidade. Cerca de 70% dos leitos ocupados por pacientes de outros municípios da região. Só de Assú havia 15 pacientes da Covid-19 internados em Mossoró. Isso ocorre porque esses municípios não têm rede de assistência à saúde, muito menos leitos para atender e salvar os pacientes locais.

 

ESVAZIADA

A bancada governista voltou a esvaziar a sessão da Assembleia Legislativa para evitar derrota na votação da PEC da reforma da Previdência estadual. O governo continua precisando de dois votos para aprovar a proposta. As investidas, com argumentos recheados, ainda não surtiram efeito. Hoje, tem mais uma tentativa.

 

FUGA

Os deputados do "grupo dos 11", que se negam a aprovar a reforma da previdência, querem a presença da governadora Fátima Bezerra (PT) para conduzir o debate. O deputado Getúlio Rêgo (DEM) diz que Fátima está "fugindo" e transferindo responsabilidade. Até aqui, a estratégia não deu certo.

 

MAIS UMA

Surgiu mais uma pré-candidatura à Prefeitura de Mossoró: Dra. Ângela Schneider, do PRTB. Ela tem o incentivo do deputado federal General Girão (ainda no PSL). O projeto de Dra. Ângela tem a simpatia do PRTB nacional.

 

SETE NOMES

Quatro mulheres estão no tabuleiro da sucessão mossoroense: Rosalba Ciarlini (PP), Isolda Dantas (PT), Irmã Ceição (PTB) e Dra. Ângela (PRTB). Outras três pré-candidaturas são de homens: Allyson Bezerra (SDD), Daniel Sampaio (PSL) e Gutemberg Dias (PC do B).

 

É NOTÍCIA

1 - A Igreja Católica do RN confirma que o arcebispo dom Jaime Vieira da Rocha testou positivo para Covid-19. O comunicado diz que o religioso está assintomático e com assistência médica.

2 - A Ricardo Eletro vai fechar 200 lojas em todo o País no processo de recuperação judicial. A loja de Mossoró, que funcionava na Coronel Gurgel, no centro comercial, foi desativada. No local já está instalada outra loja, a Diniz Importados.

3 - Shoppings e galerias sem uso de ar condicionado voltam a funcionar a partir de hoje, depois de quatro meses. É a terceira fase do plano de reabertura das atividades econômicas de Mossoró.

4 - A Prefeitura de Natal editou decreto autorizando fechamento de ruas, principalmente, as que dão acesso às praias urbanas. A decisão do prefeito Álvaro Dias (PSDB) reage à aglomeração na praia de Ponta Negra, ocorrida no fim de semana.

5 - O mosquito Aedes Aegypti, esquecido nesses tempos de pandemia da Covid-19, agiu com força em Mossoró. A cidade já tem 1.030 casos confirmados, um aumento de 1.484% em relação ao ano passado, que teve apenas 65 casos confirmados.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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