(*) Por Ludimilla Oliveira
Ah! se estivéssemos numa noite da cultura. Não é 25 de setembro, data que por muito tempo sediou tal feito. Mas, no Panteão da cultura mossoroense, tenho a honra de fazer lembrar o timoneiro, o Cirineu iluminado nas letras, na história e na cultura. Entrementes, estamos no País de Mossoró, festejando 100 anos da memória viva do imortal Vingt-un.
Se já houve espaço para outros proferirem suas impressões, hoje, como disse o profeta, “há tempo para todas as coisas.” (Eclesiastes – cap.3). Chegou o meu tempo!
Tempo de relatar como andam os encaminhamentos das últimas notícias em Mossoró e dizer: Vingt-un Rosado, a luta continua!
O chão rachado e o forte calor permanecem. Mossoró cresceu, se desenvolveu, a ESAM passou a ser UFERSA, temos que aqui registrar, que eu preciso do entusiasmo do guardião e do ajuntador de papéis, do soldado que combateu o bom combate para, deveras Mossoró ter valorizada a sua cultura e memória, e como Reitora lutarei pelo Memorial ESAM, fincarei a bandeira da primeira mulher com um legado na cultura, na arte e na educação.
As representações sociais da atualidade, dão ares de que nem tudo vai tão bem e que a cultura outrora esteira de debate, de luta e mote para a sua mais famosa batalha: a Batalha da Cultura, hoje faz lembrar da memória saudosa, do inolvidável guerreiro Vingt-un Rosado. Sobretudo, a emblemática luta que venceu as amarras do tempo, com percalços nostálgicos das dificuldades. Mas, que foram enfrentadas de forma aguerrida pelo jovem sonhador.
O que no passado deixou as marcas da vitória, em prol da cultura e da memória, atualmente consiste na inversão de valores como o eixo de maior enfrentamento: a luta para manter viva a história da luta e do respeito à Mossoró.
Certa vez, o grande Câmara Cascudo, escreveu:
“ Lembre-se que Mossoró ainda não tem história e que você está na obrigação moral de ser o primeiro mossoroense que levantará do alvido as tradições de sua grande terra. Vá para diante e não desanime com as ironias dos pessimistas, espécies de lesmas que nem andam nem admitem que os outros andem”
O nosso combatente foi ao front de guerra e como embaixador da cultura fez o seu papel, durante a sua missão. E Mossoró, o que fez com a memória de Jerônimo Vingt-un Rosado Maia? Haverá espaço para a Coleção Mossoroense imortalizar os escritos com a história e a realização do sonho do jovem estudante de agronomia, que cantou a sua terra e pensou na sua aldeia?
Mas, ”entre as penas humanas, a mais dolorosa é a de prever muitas coisas e não poder fazer nada”, de acordo com o grande historiador Heródoto.
O seu reconhecimento, deveras e há muito foi destacado: pelas academias pelas quais se fez imortal, pelas medalhas de honra e pelos inúmeros elogios já realizados. Todavia a grandeza de sua maior lembrança está na sua atitude, em amar o seu lugar e dele nunca jamais esquecer. As linhas por ele descritas e o seu amor em cada folha de papel, precisa ser cuidado. Daí, tem razão Tolstoi, “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.”
A força de seu canto encantou o país de Mossoró e disseminou a sua fortaleza. No entanto, fez dos seus feitos heroicos da resistência e da liberdade, as colunas fortes e estruturantes do designe da arquitetura e de seus espaços, edificados na memória e na conjunção de forças, que fez e faz de Mossoró, ainda ser diferente, ser pioneira, ser gigante pela própria natureza.
Como bem descreveu Diógenes da Cunha Lima: ” Vingt-un é uma força da natureza. É um gigante “. Num dia sentiu desejo, noutro sonhou, lutou e realizou. O ajuntador de papéis, como gostava de se auto designar, organizou muito bem a sequência e soube articular seus ideais.
Em 1941, o jovem Vingt-un estudante de agronomia na cidade de Lavras, teve um sonho para a sua terra: criar uma Escola de Agronomia. Parece uma difícil missão, mas imagino que o sonho desejoso da sua realização foi mais forte, que os embates e as adversidades. Típico de quem tem missão para cumprir, agiu como um embaixador, nas idas e vindas diplomaticamente, conseguindo operacionalizar tudo e hoje, temos não apenas uma Escola, mas a Cinquentenária ESAM – UFERSA, já são 53 anos de história.
Entretanto, “sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz.” Já nos deixou de lição Clarice Linspector, e o imortal Vingt-un, soube muito bem fazer isso.
É, bem possível, que estejamos no auge da segunda Batalha da Cultura: dessa vez, para dar vida, por quem tanto lutou pela viva memória de vida de Mossoró. O embate é tão grande quanto o primeiro, é preciso ficar genuflexa diante do Eterno, erguer os olhos para o Alto e ver que que há esperança, ainda é possível, viver sonhos transformados em realidade.
(*) Ludimilla Oliveira - Reitora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.