Quarta-Feira, 05 de fevereiro de 2025

Postado às 09h15 | 16 Nov 2020 | Coluna César Santos - 16 de novembro de 2020

Crédito da foto: Cedida Chapeu de couro fez parte do marketing do candidato vitorioso Allyson Bezerra

ELEITOR FEZ A SUA ESCOLHA

O eleitor escolheu o deputado Allyson Bezerra (Solidariedade) para governar Mossoró pelos próximos quatro anos, a partir de 1º de janeiro de 2021. Ele terá a responsabilidade de conduzir o destino da cidade de mais de 300 mil habitantes, a segunda mais importante do Rio Grande do Norte, e referência para regiões que concentram mais de 1 milhão de habitantes, distribuídos em municípios do Médio e Alto Oeste, Vale do Açu, Salineira, Central e até o Vale do Jaguaribe, no Ceará.

A vitória de Allyson foi maiúscula – e surpreendente - porque ele venceu a maior e mais vitoriosa política do interior e uma das maiores do Estado, Rosalba Ciarlini (Progressistas). Prefeita no quarto mandato, senadora da República e governadora do RN, ela nunca havia perdido, como candidata, na sua cidade, batizada de “canteiro da Rosa”. Venceu em Mossoró todas as eleições que disputou em 1988, 1996, 2000, 2006, 2010 e 2016.

Por isso, o triunfo de Allyson deve ser analisado de forma muito mais ampla do que os números extraídos das urnas. Precisa ser contextualizado no cenário em que as eleições foram disputadas, com um ponto incontestável: não foi Allyson, em si, que o eleitor escolheu, mas, sim, a mudança no comando do Palácio da Resistência.

Allyson não tem perfil de gestor, nunca administrou um carrinho de picolé e, por ser ainda muito jovem, não passou a garantia de que pode governar uma cidade do porte de Mossoró e com suas desafiadoras complexidades. Na campanha eleitoral, ele sequer apresentou propostas confiáveis, se limitando ao discurso: “vamos fazer mais pela educação, pela saúde, pelo campo, pelos jovens, pela economia...” Como?

O eleitor, que garantiu a sua vitória, não se preocupou com a resposta. O sentimento era outro: mudar o perfil do inquilino do Palácio da Resistência – sede da Prefeitura – mesmo correndo todos os riscos de eleger o “menino” sem experiência administrativa. Se Allyson não corresponder, vai para o paredão daqui a quatro anos. É assim que funciona nas democracias.

Rosalba Ciarlini sabia que seria a campanha eleitoral mais difícil de sua trajetória política. Ela tinha consciência que seria julgada por sua quarta gestão e não por todas as gestões exitosas que esteve à frente da Prefeitura. As pessoas, em sua maioria, não iriam julgar a Rosalba das obras estruturantes, que criou o Mossoró Cidade, o Auto da Liberdade, que transformou a zona norte, que elevou a cidade ao patamar de destaque e que assinou todas as grandes obras das últimas três décadas. As pessoas iriam, sim, julgar a gestão atual, sem levar em conta os enormes problemas que Rosalba herdou do prefeito anterior, Silveira Júnior, que – ironicamente – foi apoiado por Allyson.

Foi esse o julgamento feito, de maneira fria, porque a oposição potencializou os problemas que afetam a cidade, como forma de sobrepor o que está dando certo. É fato que a atual gestão Rosalba não se compara com as suas administrações anteriores, porque ela se concentrou em reconstruir o que foi destruído por Silveira, principalmente as contas públicas. Daí, não teve como realizar as grandes obras como no passado. Por isso, o eleitor entendeu, em sua maioria, que ela não deveria ter uma nova chance para continuar na Prefeitura.

Quando isso acontece, o eleitor vulnerável torna-se presa fácil e compra a primeira oferta. Pouco importa se o produto é bom, até porque ele vai ser testado após as eleições. Geralmente, as campanhas eleitorais viram campo de batalha, de amigos x amigos, vizinhos x vizinhos, com torcidas de lado a lado. Isso impede a boa avaliação, o voto consciente, porque o que está em jogo numa disputa é a vitória, e só a vitória interessa.

Pois bem.

Allyson queria ganhar a Prefeitura de Mossoró e foi o jogo. Teve a competência e marketing de criar um personagem e ofereceu ao eleitor como algo bom. Passou a usar um chapéu de couro, explorando que é filho de agricultor, se vestiu de pobrezinho, chorou em lives, se vitimizou. As pessoas embarcaram. Nem sequer se deram conta que o menino fez uma campanha milionária, mas isso é outra história que um dia será contada.

O fato é que Mossoró escolheu Allyson. Em janeiro ele assumirá o destino de 300 mil habitantes. De sorte, receberá uma Prefeitura equilibrada, com R$ 150 milhões (FINISA) em obras para ele tocar e inaugurar. O cenário será bem favorável. É se despir do personagem e assumir a responsabilidade de gestor.

Boa sorte.

 

FRASE

Uma coisa é certa, nós temos Deus e vocês ao nosso lado"

ALLYSON BEZERRA - Prefeito eleito de Mossoró

 

AGLOMERAÇÃO

A Justiça Eleitoral se esforçou, lançou plano de segurança sanitária para as eleições deste domingo, 15, mas os eleitores não colaboraram. Houve aglomeração em todos os municípios do Rio Grande do Norte. É bem verdade que em alguns casos houve problemas como alteração de endereço de locais de votação, mas as pessoas não colaboraram. No duro, repetiram o que haviam feito durante a campanha eleitoral.

 

FALHOU

O e-Título, uma das novidades do TSE, apresentou falhas e gerou reclamação do eleitor em todo o País. A tecnologia não funcionou como se esperava. O TSE orienta que quem não conseguiu fazer a justificativa neste domingo, ainda tem 60 dias a contar de hoje, 16, para apresentar um Requerimento de Justificativa Eleitoral (RJE). Isso pode ser feito pela internet ou presencialmente em alguma na zona eleitoral.

 

NOTA TRISTE

O delegado Leocádio encerrou a sua participação nas eleições de Natal da pior forma possível. O candidato do PSC agrediu, de forma covarde, a equipe de reportagem do jornal Tribuna do Norte, atingindo o repórter Ícaro Carvalho e o fotógrafo Magnus Nascimento. O delegado fez uma campanha de agressão, desrespeitosa e decidiu finalizar atingindo os profissionais da TN. Triste.

 

CABRESTO

Almino Afonso e Rafael Godeiro optaram pela manutenção do coronelismo, com a tradicional família Abel mantendo o poder nos dois municípios. O líder, deputado Bernardo Amorim (Avante), elegeu a filha Jéssica (MDB) em Almino Afonso e a cunhada Keké em Rafael Godeiro. São os últimos currais eleitorais no Alto Oeste potiguar, mantido pelo cabresto dos "favores" dos Abéis.

 

VOTO A VOTO

Allyson Bezerra (Solidariedade) foi eleito com 47,52% dos votos, enquanto Rosalba Ciarlini (Progressista) recebeu 42,96%. A diferença foi de apenas 4,56% ou 6.263 votos. Os números confirmaram a disputa acirrada e a contagem foi voto a voto.

 

ALGEMAS

No sábado, 14, a menos de 24 horas do pleito, pesquisa do instituto Exatus apontou Allyson com 17% de vantagem sobre Rosalba. Já o Agora Sei, jurou que sabia que a vantagem era de 13,4%. E agora? O Ministério Público Eleitoral vai se sentir provocado para investigar esse tipo de fraude nas eleições?

 

DERROTADÍSSIMA

A ex-prefeita Cláudia Regina (DEM) contou 4.046 votos, apenas 2,94%. E o desastre foi ainda maior com a não reeleição do seu pupilo Petras Vinícius (DEM). A urna mandou o recado, resta a Cláudia entender ponto e vírgula.

 

DERROTADÍSSIMA II

Os 8.051 votos (5,86%) foram decepcionantes para a deputada Isolda Dantas (PT). O eleitor a rejeitou nas urnas, uma resposta ao mandato sofrível que a petista exerce na Assembleia Legislativa. De quebra, Isolda não conseguiu eleger a sua fiel escudeira Plúvia (PT) à Câmara Municipal. A vaga no PT no legislativo ficou para a sindicalista Marleide Cunha.

 

CARA NOVA

A Câmara Municipal de Mossoró receberá 17 caras novas na próxima legislatura, a partir de 1º de janeiro de 2021. São novatos eleitos neste domingo, 15, por mais de uma dezena de partidos. A renovação é histórica.

 

GATOS PINGADOS

Apenas seis dos atuais vareadores renovaram mandato: Zé Peixeiro (PP), Ricardo de Dodoca (PP), Francisco Carlos (PP), Raério Cabeção (PSD), Didi de Arnor e Genilson Alves (Pros).

 

É NOTÍCIA

1 - Pau dos Ferros terá a primeira mulher prefeita a partir de 1º de janeiro de 2021. Mariana Almeida (PSD) fez história neste domingo, 15, ao eleger-se para governar a principal cidade do Alto Oeste.

2 - Também, pela primeira vez, o município de Grossos terá uma mulher no comando. A ex-vereadora Cinthia Sonale (PSDB) foi eleita prefeita com 3.007 votos, derrotando Erasmo Carlos (PCdoB), apoiado pelo atual prefeito Mauricinho, que teve 2.520 votos.

3 - O TSE prometeu apuração dos votos em tempo real, mas não cumpriu. O processo foi lento e cansativo, decepcionando quem esperava melhor tecnologia da Justiça Eleitoral.

4 - A presidente da Câmara de Mossoró, Izabel Montenegro (MDB), saiu vitoriosa das urnas, mesmo não sendo candidata. A sua filha Carmem Júlia se elegeu com votação expressiva: 3.112 votos.

5 - À frente de Júlia de Izabel apenas Isaac da Casca, o campeão de votos com 3.113. Um voto separou o líder da vice-líder. Isaac e Júlia são duas das 17 caras novas da próxima legislatura.

6 - O prefeito Álvaro Dias (PSDB) vai continuar governando Natal por mais quatro anos. Reeleito já no primeiro turno, neste domingo, 15, com 56,58% dos votos. Os natalenses não quiseram arriscar.

7 - Salomão Gurgel (Psol) está de volta à Prefeitura de Janduís, de onde ele começou a sua carreira política em 1982. Ele foi eleito neste domingo, 15, superando a adversária Sílvia Helena.

8 - A Câmara de Mossoró terá representantes de 14 partidos a partir de 1º de janeiro de 2021: Solidariedade elegeu 4, MDB e Progressistas 3 cada um; PSC e Cidadania 2; e depois vem os com 1 vereador eleito: Democracia Cristã, PT, PSB, Pros, PSD, Patriotas, Republicanos, PSDB e Podemos. Verdadeira salada de letrinhas

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Coluna César Santos
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Mossoró
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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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