Quinta-Feira, 09 de maio de 2024

Postado às 11h00 | 13 Dez 2020 | Reitora Ludimilla: ‘Nosso trabalho tem sido uma resposta à resistência’

Crédito da foto: Cedida Reitora Ludimilla Oliveira completa 100 dias de gestão na Ufersa

Por Maricelio Almeida - JORNAL DE FATO

Na quarta-feira, 9 de dezembro, a gestão da reitora Ludimilla Oliveira completou 100 dias à frente da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Uma gestão, de acordo com a reitora, plural e comprometida com o semiárido brasileiro. Na entrevista desta semana da seção “Cafezinho com César Santos”, Ludimilla Oliveira faz um balanço desses primeiros 100 dias de gestão, apontando ações que já foram concretizadas e apresentando novas metas a serem efetivadas.

A reitora também aborda a polêmica instalação e retirada do quadro do ex-presidente Costa e Silva em seu gabinete de trabalho, relata que sua relação com a comunidade discente tem sido tranquila, de forma geral, mas que alguns excessos foram registrados. Ludimilla Oliveira também adianta que o retorno das atividades presenciais na Ufersa só se dará com as condições sanitárias adequadas. “O trabalho para o retorno das atividades vem sendo planejado criteriosamente”, afirma. Acompanhe.

 

Reitora, a senhora completou 100 dias à frente da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Qual é o balanço que a senhora faz da gestão até aqui?

O nosso balanço, se a gente pudesse resumir em poucas palavras, é positivo. Nós temos sim feito um diferencial na instituição. Nossa gestão começou com um tema que é um lema e que é a nossa marca e a nossa oração forte de todos os dias. Nós somos uma só Ufersa e é por ela que nós temos trabalhado todos os dias. Então, temos feito um diferencial. Qual, por exemplo? Chamamos servidores. Tivemos já três posses de servidores, avançamos bastante com as nossas idas a Brasília, na verdade, nossa transição de gestão foi toda diretamente em Brasília, e aí nós temos dialogado sobre a conquista de novos códigos de vagas, sobre o aumento de gratificações e também sobre a própria condição da nossa universidade, porque na nossa gestão, nós assumimos o nosso nome, que é rural e que é do semiárido também.

 

A senhora mencionou novos códigos de vagas, novos concursos que podem vir a ser lançados em 2021. Como está esse processo? Qual é a expectativa em relação a esses novos certames?

Olha, nós já temos aí um certame para ser aberto em 2021 para servidores técnicos administrativos em nível superior. Isso nós anunciamos em nossa rede social. E com relação a novos códigos de vagas para docentes também, até abril nós vamos ter novidades na nossa universidade. Já protocolamos no MEC a abertura do curso de Direito em Pau dos Ferros, estamos lutando por isso, e o curso de Psicologia em Mossoró também será uma realidade para nós. Vamos trabalhar também para a área da Medicina, consolidar o nosso curso aqui, temos algumas demandas, vamos formar a primeira turma. No que concerne à excelência acadêmica, encontramos a universidade com alguns cursos nota três, outros próximos ao dois, mas a nossa meta dentro de pelo menos dois anos é ter o maior número de cursos nota quatro e nota cinco.

 

A senhora destacaria algum ponto em específico nesses dias quanto à determinada área dentro da instituição?

Sim, o nosso olhar para a área de agrárias. Nós vamos revitalizar a nossa Fazenda Experimental Rafael Fernandes, inclusive já fizemos algumas visitas. E qual é o objetivo? O que que a gente chama de revitalização? Queremos uma Fazenda Experimental bem mais próxima da sociedade e também do ponto de vista didático-científico, ou seja, nós tínhamos alguns experimentos que não estavam acontecendo, vamos levar à EMBRAPA para dentro da fazenda, reunir alguns outros setores e integrarmos mais a dimensão de agrárias, que é a área forte da nossa instituição. Outro diferencial da nossa gestão também é a reitoria itinerante. Dentro de 100 dias de gestão já fomos pelo menos três vezes trabalhar nos campus fora da sede. Entendemos que não é possível fazer um trabalho diferenciado e próximo da realidade de cada campus sem ir lar. A gestão se desloca, a gestão tem ido, a reitora tem ido, tem dialogado com os prefeitos dos municípios, tem recebido a sociedade em seu gabinete. Então, graças a Deus, estamos trabalhando para que essa uma só Ufersa venha ter resultados, impactos positivos diretos aqui na nossa sociedade também.

 

A nomeação da senhora gerou polêmica na comunidade acadêmica. Por onde a senhora tem passado, como é que tem sido essa recepção nos campus?

Olhe, nós temos tido uma resposta: trabalho. O nosso trabalho tem sido uma resposta à resistência. Respeitamos as diferenças, respeitamos os valores, as posições políticas, as posições ideológicas, a universidade é um espaço plural, é natural em toda e qualquer gestão a resistência. E eu posso até dizer da importância dela, porque as correlações de forças, elas aprimoram o nosso trabalho. Isso para gente não tem sido atenuado ou visto como uma atenuação, pelo contrário, não tem atrapalhado o nosso trabalho, temos feito o nosso compromisso dia após dia com a nossa realização na universidade. Alguns excessos têm sido vistos, mas a gente tem tratado isso onde tem que se tratar. No cotidiano da nossa universidade, o nosso compromisso com a nossa gestão é o que nos importa. Então, a resposta para toda a resistência tem uma só palavra, trabalho.

 

De maneira geral, como a senhora avalia a relação da reitora com a comunidade discente, com os alunos da Ufersa?

Muito tranquila, nosso trabalho com os discentes é muito tranquilo, até porque eu sou a professora Ludimilla, que tem uma história de trabalho muito próxima dos discentes. Eu não posso comparar o meu trabalho ou desprezar a história que eu tenho de trabalho junto à comunidade discente por conta de uma bolha, uma perspectiva política ideológica, isso não interfere, não interferirá de modo algum com o nosso zelo para com nossos discentes, inclusive vamos fazer todo o esforço para, com o retorno das atividades, tão logo isso venha acontecer, que os nossos residentes venham ter todos os dias café, almoço e jantar. Essa é uma luta nossa. Estamos trabalhando para que a comunidade acadêmica ela venha se esforçar ainda mais pelo zelo, porque não é possível ter excelência acadêmica se nós não cuidarmos da qualidade de vida do nosso estudante. Então, a condição sine qua non para o nosso trabalho, com os estudantes, não depende de modo algum de uma bolha política ideológica. Se nós já tratávamos bem os nossos estudantes, nós temos apreço e vamos tratar ainda melhor.

 

Algumas medidas tomadas pela senhora geraram polêmica, como a afixação do quadro do ex-presidente Costa e Silva no gabinete da reitoria. Gostaríamos que a senhora comentasse também esse episódio.

Bom, a afixação do quadro do presidente Costa e Silva gerou uma polêmica desnecessária, polêmica que foi encerrada. Mas qual foi o sentido do quadro? O quadro que eu coloquei aqui, na minha sala, foi entregue a esta universidade à época da inauguração da ESAM. Hoje, nós somos Ufersa com 15 anos, mas nós temos 53 anos de história. Então, a afixação do quadro memorava simplesmente, não era uma homenagem, como foi colocado, eu fui colocada como que estivesse homenageando um ditador. Enfim, o perfil histórico do presidente Costa e Silva e toda a condição dele é que foi apreciada pela Comissão da Verdade e também pelo próprio Conselho Universitário e destoava completamente daquilo que afirmado quando da afixação do quadro, mas assim, não é o momento para que um enfrentamento deste viesse atrapalhar o nosso cotidiano aqui. Houve uma polêmica ainda maior, porque foi feita uma judicialização, mas a judicialização não foi nossa, foi da Procuradoria Geral da União, quando do patrimônio histórico era necessário que ele permanecesse na instituição, porque a primeira decisão é que fosse dado um fim de qualquer maneira. E a gente não podia dar um fim de qualquer maneira. Não era uma homenagem. O quadro já existia e faz parte da história da instituição. Quem inaugurou, quem trouxe recursos, foi o presidente Costa e Silva.

 

E onde está o quadro agora?

O quadro está em trâmite de doação. Nós estamos conversando com o alto comando do Exército Brasileiro, para nós organizarmos esse processo de doação. Como ele veio pra cá por meio da vinda de um ex-presidente da República, que visitou/inaugurou a instituição, então a gente só pode entregar em Brasília, porque foi de lá que nós recebemos à época. Eu sou mossoroense, e além de ser mossoroense, como membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, nós temos um apreço pela memória. Eu entendo que não é possível nós vivermos o presente sem também remetermos a nossa memória. Acredito que nossa história tem um valor. Nós só seremos lembrados se nunca formos esquecidos e foi isso que nós fizemos.

 

Inclusive, com outros elementos históricos resgatados, não é isso?

Trouxemos à memória aquilo que nos traz esperança, traz esperança hoje ter revitalizado toda a mobília da época de Vingt-Un Rosado, ele foi um entusiasta da cultura, um colecionador de papéis, um escritor, um homem que lutou, um homem que acompanhou sentado presencialmente a construção de alguns prédios da nossa universidade, que existem até hoje. Então, a gente não pode apagar, porque nós não nascemos há 15 anos, nós nascemos há 53 anos. E essa foi a maneira que eu encontrei de valorizar a história das pessoas que aqui passaram, assim como também estão registrados na nossa instituição todos os feitos dos ex-gestores. Para vocês terem ideia, para que a comunidade tenha ideia, nós iremos inaugurar daqui mais uns dias quadras de esportes que vêm da gestão anterior. Pedimos uma exceção de sobremodo para que ficasse registrada a execução da obra do ex-reitor, que lutou, que fez. Nós só queremos aquilo que é nosso. Tudo aquilo que os outros fizeram, que deixaram de história, que deixaram de marca, ele vai ficar registrado. Nossa gestão terá esse zelo pela história da instituição e pelo valor e pelo trabalho das pessoas.

 

Reitora, qual a expectativa a partir de agora, passado esse marco inicial de 100 dias de gestão? Que outras metas a senhora pretende alcançar ao longo do mandato?

Estamos trabalhando para renovar a nossa frota. Isso é um marco importante. Em breve, se Deus quiser, a universidade irá receber carros novos. Nossa próxima meta agora, após essas inaugurações todas, é trabalhar a revitalização e trabalhar a melhoria desses espaços. Inclusive, um espaço melhor para os nossos estudantes. Vamos estar trabalhando uma vivência diferenciada no campus Oeste para o próximo ano. Queremos dar vida à instituição. A pró-reitora de Assuntos Estudantis tem feito o seu trabalho, a pró-reitoria de Planejamento tem trabalhado avidamente também para que não deixemos de modo algum de fazer contratações e de parar as atividades da instituição. O nosso trabalho daqui para frente, ele assume ainda mais uma responsabilidade maior.

 

A senhora esteve recentemente com o ministro da Controladoria Geral da União. O que foi discutido no encontro?

Tivemos de todas as nossas visitas em Brasília, nós tivemos um diferencial esses dias, estivemos com o ministro da Controladoria Geral da União, fizemos cooperação técnica e aquilo que nós falamos durante a nossa campanha, que iriamos trabalhar bem próximo com os órgãos de controle, vai ser uma realidade, porque isso vai dar qualidade de vida, tranquilidade, vai evitar o retrabalho e vai otimizar a aplicação e a eficiência de recursos públicos na nossa instituição. Essa é uma grande meta nossa. Queremos ampliar a Fundação Guimarães, estamos trabalhando nisso, depois que nós entramos, já contratamos novas pessoas, temos trabalhado para sistematizar melhor essas questões. E esse trabalho todo tem uma meta que é a máxima, que é ser uma só universidade, porque nós temos a Ufersa em campus diferentes com dimensões geográficas diferenciadas, mas nós queremos que todas as pessoas que aqui estão tenham um sentimento que é uma só universidade que nós estamos construindo.

 

Para finalizar, como a Ufersa tem se preparado para o retorno das atividades presenciais? Quando a senhora acredita que esse retorno deve, de fato, acontecer?

Bom, o trabalho para o retorno das atividades vem sendo planejado criteriosamente e discutido com a pró-reitoria de Graduação, chefias de departamentos, centros acadêmicos, coordenadores de curso, porque nós temos cursos em que as especificidades para o trabalho presencial realmente são essenciais, e existem cursos que a questão remota vai permanecer de maneira muito tranquila, mas existem cursos que a condição de utilização de laboratório e o que a gente chama de ensino híbrido, nós estamos pensando, como é o caso da questão das medicinas, tanto da medicina humana como as especificidades no que diz respeito à própria medicina veterinária, assim como os cursos de engenharia também, que têm atividades laboratoriais, o curso de Agronomia, o curso de Engenharia Agrícola, enfim, os cursos que necessitam de atividades laboratoriais, a pró-reitoria de Graduação está se preparando com toda segurança sanitária, para que as atividades venham acontecer de maneira tranquila. Assim como, nós já podemos adiantar, de maneira bem clara, que a questão remota ainda está sendo mantida, e ainda será mantida por uma questão de segurança mesmo, porque a universidade precisa se preparar não só do ponto de vista técnico, já que os docentes têm que se organizar, e também não é só pensar na questão dos discentes e as acomodações deles, deslocamento, mas a própria condição arquitetônica das nossas salas, é necessário ter uma segurança sanitária mais clara. Esse é um ponto.

 

Qual seria o outro ponto?

Nós temos nos preocupado muito com a excelência acadêmica, daí, essa parte das atividades de retorno exigir da pró-reitoria de Graduação, assim como das outras pró-reitorias e atividades administrativas, trazerem para nós, na universidade, um esforço maior para poder manter a excelência acadêmica dos cursos, mesmo de maneira remota. Então, esse é o nosso desafio, mas nós vamos, em tese, manter remoto até que tudo venha se organizar, pensando nas condições sanitárias. É como nós temos dito, o retorno das atividades tem que acontecer de maneira gradativa como um todo.

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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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