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Postado às 09h15 | 26 Dez 2020 | Casamento político em via de separação

Crédito da foto: Arquivo Fátima Bezerra e Ezequiel Ferreira de Souza no dia 1o de janeiro de 2019

A derrubada de nove vetos da governadora Fátima Bezerra (PT) às emendas aprovadas na Lei de Diretrizes Orçamentária de 2021, na Assembleia Legislativa, tem leitura que vai além de explicações e/ou justificativas técnicas. A decisão por maioria do plenário é um viés político-eleitoral que abre as portas da sucessão estadual 2022, com DNA do presidente da Casa, Ezequiel Ferreira de Souza (PSDB).

Antes dos vetos, o grupo de Ezequiel já havia mandado recado a Fátima Bezerra, quando aprovou e promulgou a PEC das emendas impositivas, para desgosto da governadora. De autoria do deputado Tomba Farias (PSDB), a PEC acrescentou o artigo 107-A à Constituição do RN, para autorizar a transferência de recursos estaduais aos municípios mediante emenda ao projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA). Na prática, permite aos municípios receberem recursos sem a necessidade de firmar convênios. Ou seja, tira o poder de negociação do governo junto aos gestores municipais.

As duas derrotas do governo no plenário da Assembleia partiram do presidente da Casa, chanceladas pelo numeroso bloco de deputados que seguem a sua liderança.Para os mais açodados, Ezequiel antecipou o rompimento político com Fátima Bezerra. Já os observadores mais atentos apostam que houve uma separação de corpos, devendo o divórcio ser oficializado no finalzinho do semestre de 2021 ou no mais tardar quando começar o período do “BRO” (setembro, outubro, novembro e dezembro). Até lá, vão viver de aparências.

Mas, por que Ezequiel e Fátima vão romper politicamente? Resposta simples: no palanque da governadora não cabe o projeto eleitoral do presidente da Assembleia. Ezequiel trabalha para ser candidato ao Senado da República e Fátima já tem um candidato natural que é o senador Jean-Paul Prates (PT), com direito à reeleição. Aliás, Paul foi consultado pelo partido se teria condições de viabilizar a estrutura de campanha e a resposta foi “sim”. Ou seja, ele não abre mão de disputar as eleições 2022.

Ezequiel foi importante na campanha vitoriosa de Fátima em 2018, quando desembarcou no palanque no segundo turno das eleições. Ele assumiu os louros do triunfo. Fátima reconheceu a sua importância e o levou para o discurso da vitória. No primeiro ano de gestão, em 2019, Ezequiel mostrou-se fiel e sustentou os projetos do governo encaminhado ao Legislativo. Por gravidade ocupou espaços na máquina estadual e ainda mantém cargos importantes, mas com as gavetas devidamente arrumadas.

O distanciamento de Ezequiel da Governadoria se mostrou mais claro no último mês, quando ele se tornou passageiro da caravana do ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), possível adversário de Fátima Bezerra na disputa pelo Governo do Estado. Ezequiel iniciou andanças pelo RN com Marinho no início de dezembro e, antes, foi a Brasília para a solenidade de lançamento do projeto Seridó, cujo DNA o ministro disputa com a governadora.

Pois bem.

Ezequiel Ferreira vai entrar 2021 com a disposição – azeitada – para consolidar a candidatura ao Senado da República. E Fátima Bezerra, com a missão de viabilizar a reeleição, consciente da resistência que encontrará na Assembleia Legislativa. O diálogo direto com o povo parece ser o melhor caminho.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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