Quinta-Feira, 09 de maio de 2024

Postado às 09h00 | 14 Fev 2021 | Cicília Maia: ‘Vamos fazer uma gestão com novas perspectivas, novas metas e compromissos’

Crédito da foto: Cedida Professora doutora Cicília Maia está no Cafezinho com César Santos

Não é exagero afirmar que a professora doutora Cicília Raquel Maia Leite tem a cara da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). A sua identidade com a instituição começa em família, como ela mesma afirma: “Minha mãe terminou dois cursos superiores (Enfermagem e Ciências Sociais). Ela, por ser egressa da Uern e ser professora/enfermeira, sempre valorizou em sua missão de mãe o verdadeiro sentido da Educação. Isso me motivou muito.”

Cicília vive a Uern desde que sentou no banco acadêmico para se formar em Ciência da Computação, em 1999. Seguiu carreira dentro da própria instituição. Professora do Departamento de Informática, com doutorado e pós-doutorado no MIT, ela ganhou a confiança do reitor Pedro Fernandes, que foi o seu professor na graduação, ocupou espaços importantes e circulação entre os segmentos da instituição.

Cicília fez parte da equipe de Fernandes da época em que ele era pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, na gestão do reitor Milton Marques de Medeiros (falecido). Depois foi pró-reitora de Recursos Humanos, na primeira gestão de Pedro Fernandes. Na atual gestão, chegou a ser assessora técnica e está na Chefia de Gabinete da Reitoria desde julho de 2020.

No “Cafezinho com César Santos”, Cicília Maia fala sobre a sua candidatura à Reitoria e seus planos para a instituição de ensino superior.

 

Dentro da Uern é opinião comum que a senhora tem a cara da instituição, porque vive a Uern desde que sentou no banco acadêmico para se formar em Ciência da Computação. A reitoria é o caminho natural de sua história de vida e acadêmica?

Em minha trajetória na Uern, o orgulho e carinho por esta instituição me acompanham desde sempre, e por um motivo que deve ser semelhante ao de todos que têm suas vidas transformadas por ela: gratidão. Quando paramos para entender como uma universidade pública funciona, quantas pessoas trabalham todos os dias para que ela preste seus serviços à sociedade com qualidade, quantos desafios são enfrentados para que continuemos nossas atividades, essa gratidão se transforma num compromisso de ação em favor da universidade. Assim, em todos os espaços que ocupei na Uern, seja como estudante, professora, pesquisadora, ou gestora em espaços estratégicos da administração, o compromisso com o fortalecimento, crescimento e desenvolvimento da Uern é o que me move. E mais ainda. O compromisso com a garantia de construir bases sólidas para que outras gerações continuem sendo atendidas por esta universidade que tanto faz pelo Rio Grande do Norte.

Há um motivo a mais para a senhora enfrentar o processo de escolha junto à comunidade acadêmica?

Ter meu nome endossado por estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes, e pela comunidade em geral, num desafio tão importante como as eleições para reitoria da Uern, só me deixa extremamente agradecida, feliz e orgulhosa, pela oportunidade de, eleita, chegar ao principal posto da instituição e liderar a universidade nas lutas que virão pelos próximos quatro anos. Os apoios já percebidos a nossa pré-candidatura - minha e do professor Chico Dantas, pré-candidato a vice-reitor, nos mostram também um reconhecimento a nossa trajetória institucional e à dedicação que temos com a Uern desde sempre. Isso é gratificante e nos dá ainda mais força para este novo desafio.

 

A sua candidatura tem o sentido de continuidade do modelo de gestão do reitor Pedro Fernandes, ou há um modelo próprio para oferecer à Uern?

Vamos colocar à disposição da comunidade acadêmica um projeto de gestão liderado pela professora Cicília Maia e pelo professor Chico Dantas, com novas perspectivas, novas metas e compromissos, sem desconsiderar a história, a contribuição de todas as pessoas que já passaram por ela ou estão nela, e a ampliação de políticas e ações que têm sido fundamentais para a Uern. Políticas que estão no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da universidade, um instrumento fundamental de gestão que foi construído e chancelado através do seu conselho máximo da Uern, o Conselho Universitário (CONSUNI). Esse documento trata do planejamento da instituição para um período de dez anos (2016-2026), independente de quem esteja na reitoria. É um planejamento institucional e não personalista. A cada eleição ocorrida, a comunidade acadêmica escolhe de forma democrática quem deve gerir a universidade pelo período de quatro anos. Cada gestor tem sua história, seu perfil e seus resultados. A gestão do reitor Pedro Fernandes vai deixar uma marca positiva muito forte na história da Uern, principalmente no que se refere ao perfil acadêmico da universidade, com o reconhecimento e avaliação de todos os seus cursos de graduação, a consolidação de sua pós-graduação, a ampliação e valorização do quadro de servidores, o impulsionamento da assistência e permanência estudantil e a ampliação das políticas de acesso e inclusão. Desconsiderar todos estes resultados, obtidos em um dos períodos mais difíceis politicamente para a universidade, soa injusto e desonesto. Colocamos-nos à disposição da universidade para, juntos, conduzirmos a instituição pelos próximos quatro anos, tendo o trabalho pautado na coletividade, na democracia e na disposição de elevar ainda mais a Uern no cenário nacional. Isso é compromisso.

Seria natural que a candidata à sucessão na Uern, apoiada pelo grupo do reitor Pedro Fernandes, fosse a atual reitora em exercício Fátima Raquel. O que foi que mudou ou pesou para que o nome da senhora fosse o escolhido?

A professora Fátima Raquel é uma mulher inspiradora. Tem vasta experiência de gestão, além de ser importante pesquisadora e professora de forte atuação junto à sociedade, numa área fundamental que é a saúde pública. Um perfil com total capacidade de liderança, o que pode ser visto desde março do ano passado, por exemplo, quando assumiu a reitoria em exercício e tem conduzido muito bem a universidade num período extremamente difícil, que é o da pandemia do novo coronavírus. Trabalhar todos os dias ao seu lado tem me ensinado bastante. Nesse contexto, ser a pessoa na qual ela deposita confiança e apoio para a sucessão à reitoria é motivo de honra. Uma coisa que ela e o reitor Pedro Fernandes sempre fizeram questão de pôr em destaque é a coletividade desta gestão, onde todos são importantes e fundamentais ao sucesso do trabalho. Dessa forma, aceitamos o desafio apresentado e, juntos, vamos levar à comunidade a melhor proposta de trabalho para a Uern para os próximos quatro anos. E destaco, César, que estaremos em um momento extremamente importante que será a construção do PDI dos próximos 10 anos, já que o atual tem a validade até 2026.

 

A escolha do professor Chico Dantas, do campus de Natal, para ser o candidato a vice-reitor em sua chapa objetiva ampliar a participação de toda a comunidade no processo de escolha da futura gestão? Há uma lacuna de representatividade de todas as unidades na gestão da Uern?

Na gestão da universidade há uma participação ativa fundamental que é a dos diretores de unidades acadêmicas. Estas direções têm uma interlocução direta com a reitoria e com as pró-reitorias. A presença do professor Chico Dantas como pré-candidato a vice-reitor no projeto que estamos apresentando à comunidade fortalece ainda mais a participação das unidades neste diálogo direto e próximo com a administração central. Um professor que traz a experiência de direção de um campus avançado, com suas particularidades e necessidades. Estar ao lado do professor Chico Dantas neste desafio nos deixa muito feliz, principalmente por saber que, eleitos, seremos a primeira gestão com um vice-reitor oriundo de um campus avançado da universidade. Isso é simbólico e representativo. Entendemos que é possível avançar na descentralização de gestão administrativa, possibilitando maior autonomia no funcionamento dos campi, numa articulação e diálogo direto com os setores da administração central. Aliado a isso, atuaremos de forma firme para garantir melhores condições estruturais aos campi avançados e suas comunidades, ampliando também as ações de ensino, extensão e pesquisa em todas estas unidades, fortalecendo a atuação multicampi da Uern.

Alguns pontos que são debates antigos, mas continuam atuais, como a autonomia financeira da Uern, tem espaço na sua agenda de campanha? Há, nesse momento, um ambiente mais propício para concretizar a autonomia?

A autonomia financeira da Uern é uma pauta de toda a universidade, que iremos conquistar coletivamente. Entendemos ser o momento propício para esta pauta pelo fato de termos o compromisso e a garantia, dada pela governadora Fátima Bezerra, de que a autonomia da Uern será concretizada em sua gestão. Não abrimos mão desse direito da instituição. Toda a universidade discutiu, debateu e construiu uma proposta de autonomia que hoje tramita no Governo do Estado. Apostamos numa autonomia que valorize a universidade e garanta o investimento adequado e justo para sua manutenção e fortalecimento. Da mesma forma, consideramos ser urgente a aprovação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários dos servidores da Uern, que enfrentam defasagem salarial duríssima. Temos hoje um dos quadros mais eficientes e valorosos do funcionalismo público estadual. É preciso que se garanta a valorização desses servidores. Atuar nesta defesa é um dos nossos compromissos. Temos certeza que, eleitos, seremos a gestão que vai conduzir os primeiros anos da Uern com sua autonomia financeira, o que será um novo marco na história da universidade. Para isso, precisamos estar juntos. União e amadurecimento institucional serão essenciais neste momento decisivo. 

 

Outro ponto importante, e que parece inadiável, é a realização de concurso público para renovação dos quadros da Uern. Qual o patamar de prioridades a senhora coloca essa luta?

Exato, César. Essa pauta é urgente. E falo sobre esse tema com o conhecimento e experiência de quem esteve à frente da pró-reitoria responsável pela condução do processo do concurso público de 2016. Uma pauta que a gestão da universidade defendeu incansavelmente e que tornou possível que hoje possamos ter condições de suprir necessidades que surgiram no decorrer do tempo. Já temos demanda para preenchimento de vagas, tanto de docentes como de técnicos-administrativos, e em alguns casos já não temos candidatos aprovados para estas vagas. A garantia de um novo concurso é urgente para a instituição. O concurso de 2016, por exemplo, tornou possível o preenchimento de lacunas históricas na Uern. Foi neste concurso que conseguimos incluir cargos como bibliotecários, psicólogo educacional, psicopedagogo, contador, engenheiro de segurança, arquiteto, engenheiro eletricista, analista de sistemas e jornalista. Uma universidade forte é aquela que se moderniza e se adequa ao seu tempo, e isso passa pela formação de um quadro de pessoal alinhado com as necessidades institucionais.

 

Apenas duas mulheres ocuparam o cargo máximo da Uern, nas décadas de 70 e 90. A última reitora, Maria das Neves Gurgel, encerrou sua gestão em 1997, há 24 anos. A sua candidatura também representa a necessidade de avançar o processo de mais mulheres em cargos de comando?

Acredito que sim. Como você bem pontuou, na Uern, tivemos duas reitoras até hoje, sendo a última há mais de duas décadas. Temos hoje a experiência da professora Fátima Raquel conduzindo a universidade, como reitora em exercício, e vemos que o protagonismo feminino é uma base importante de transformação social. Hoje contamos com muitas mulheres nos cargos de gestão da Uern, e nosso compromisso, na proposta de gestão que iremos apresentar à comunidade, é de garantir a equidade de gênero nos cargos de comando da universidade. E não somente nisso. Mas numa política de gestão que terá o olhar necessário e justo para as mulheres, negros e negras, indígenas, as pessoas LGBTQIA+, pessoas com deficiência, tudo isso no compromisso de uma universidade socialmente referenciada. A luta pela igualdade de gênero e empoderamento de mulheres e meninas é tão necessária que está entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, da ONU, que é um plano de ações que visa a erradicação da pobreza e a promoção do desenvolvimento econômico, social e ambiental em todo o mundo até 2030. A universidade não pode ficar de fora dessa luta. Sou muito grata pela oportunidade de colocar meu nome à disposição da comunidade uerniana para vermos novamente uma mulher eleita no principal cargo de direção da universidade.

A governadora Fátima Bezerra encaminhou à Assembleia Legislativa o projeto que define eleição direta para reitor e acaba com a consulta para lista tríplice. Porém, a proposta ainda não foi aprovada pelos deputados. É possível que a nova regra entre em vigor na sucessão da reitoria deste ano?

A governadora Fátima Bezerra encaminhou o projeto em questão à Assembleia Legislativa, mas não houve aprovação ainda. Com o calendário eleitoral já definido pelo Consuni, com a eleição prevista para 14 de abril, a aplicação da lei para estas eleições, depois de sua aprovação, deve ser analisada pela comissão eleitoral, responsável pela condução e acompanhamento de todo o processo. Independente disso, pelo histórico da universidade, o compromisso de todos que a constroem e também da governadora Fátima Bezerra, não temos dúvida que não haverá qualquer tipo de ameaça à democracia no processo sucessório da Uern.

 

Qual a mensagem que a senhora deixa para a comunidade da Uern, diante da proximidade do período de campanha para as eleições?

Primeiro, agradecer a você, César, pelo espaço e pela parceria de sempre com a Uern. A imprensa tem papel vital na visibilidade das ações realizadas pela universidade e de todo o impacto social que a Uern promove no estado. Neste momento de pré-campanha, temos focado na escuta de nossa comunidade para construção de nossa carta programa, entendendo que é um momento importante para a construção coletiva. Estamos ouvindo os segmentos, e percebendo um grande interesse dessa construção conjunta. Isso é muito bom. Convidamos todas as pessoas da Uern e da sociedade em geral a contribuírem com esse projeto. Para isso, criamos uma plataforma on-line colaborativa que pode ser acessada pelo endereço: bit.ly/ciciliaechico. Envie suas sugestões, propostas, e vamos juntos construir uma Uern maior e mais forte. A Uern é um patrimônio vivo do povo potiguar e é nossa missão zelar e fazer dela um instrumento permanente de educação, cidadania e da igualdade social. Estamos preparados. Vamos juntos.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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