Por Maricelio Almeida - JORNAL DE FATO
Dando sequência à série de entrevistas com os pré-candidatos à reitoria da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), a seção “Cafezinho com César Santos” abre espaço na edição deste domingo, 21, para o professor Adalberto Veronese, integrante do movimento denominado “Muda UERN”.
Adalberto Veronese é professor da UERN desde 2006. Atuou no Campus de Pau dos Ferros e atualmente faz parte do corpo docente do Curso de Educação Física no Campus de Mossoró. Graduado em Educação Física (Licenciatura Plena) é mestre em Ciências da Saúde pela UFRN e obteve o doutorado em Ciências do Desporto na UTAD, em Portugal.
Sua trajetória acadêmica na graduação e pós-graduação inclui a participação no grupo de pesquisa Cultura Corporal, Educação e Desenvolvimento Humano, coordenação de diversos projetos de extensão, como o Programa Mais Saúde, o FESTUERN e o Educarte/PROEXT. Atualmente, coordena o Laboratório de Avaliação do Desempenho Aquático - LADA/UERN e o Programa Pra Nadar na UERN; também é professor colaborador do Mestrado Acadêmico em Saúde e Sociedade da UERN.
Foi diretor de Educação, Cultura e Artes - DECA/PROEX, pró-reitor adjunto de Extensão, diretor de Assistência Estudantil DAE/PRORHAE e membro da equipe colaboradora 19 do Programa Segundo Tempo do Ministério dos Esportes. Na entrevista a seguir, o pré-candidato fala sobre suas propostas para a Uern, apontando o que deve, na opinião dele, ser revisto e melhorado na gestão da instituição. Acompanhe.
O que motiva o senhor a disputar o cargo máximo de comando da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte?
Vivemos hoje em um momento onde todos se preocupam com os rumos que o país está tomando. Nesses momentos de incertezas, as escolhas que fazemos e as que não fazemos são muito importantes porque elas definem o futuro próximo. Queremos mudar para uma situação melhor o mais rápido possível. A UERN está assim também, estamos vivendo um momento de incertezas quanto ao futuro da universidade e a atual gestão não nos dá a segurança necessária para enfrentar esse momento. Somos a única universidade do Brasil onde um reitor se afastou em pleno exercício do cargo para fazer um pós-doutorado. Mas já somos há muito tempo uma universidade dirigida por uma reitora em exercício, porém agora isso foi oficializado. A forma como a UERN vem sendo tratada por seus dirigentes máximos incomoda toda a comunidade acadêmica, que se sente desrespeitada por não ser representada como merece. Isso se refletiu na quase total estagnação da gestão. Eu tive a oportunidade de atuar por oito anos em duas gestões anteriores à atual e nesse período pude perceber com clareza a queda na qualidade dos serviços prestados à comunidade universitária.
Decidindo então se afastar...
Por não compactuar com os rumos que a gestão tomou, resolvi me afastar dela e fui para onde senti que poderia fazer a diferença, na Faculdade de Educação Física onde sou lotado. Nesse tempo, elaborei e executei ao lado de colegas, projetos de ensino, pesquisa, extensão e tecnologia, firmei parcerias com profissionais de diferentes áreas da UERN e de outras instituições. Posso afirmar que não é fácil fazer as coisas acontecerem na UERN, qualquer servidor ou estudante sabe do que estou falando. São muitas as dificuldades, mas o pior é a falta de apoio da gestão superior para o nosso trabalho. Sempre fui uma pessoa muito dinâmica, gosto de ver as coisas acontecerem e sinto hoje, mais do que nunca, a necessidade de mudar a UERN. Conversando com os três segmentos da comunidade acadêmica percebi logo que eu não estava sozinho neste ideal de mudança. Então, fui convidado por um grande grupo de docentes, técnicos e estudantes para fazer parte desse projeto onde fui escolhido juntamente com a Profª Maria José, do Campus de Natal, para representar o movimento. Essa representação se concretizará na nossa candidatura para a reitoria da UERN e nos sentimos totalmente preparados para fazer essa mudança acontecer.
Quais os diferenciais que o senhor apresentará durante a campanha à reitoria da UERN? O que a comunidade pode esperar da chapa Adalberto/Maria José?
Primeiro, para além de temas essenciais que acredito que serão muito debatidos no período de campanha como Autonomia Financeira e o Plano de Cargos, Carreiras e Salários, iremos propor alterações na estrutura administrativa que consideramos necessárias no momento em que conseguirmos essas duas conquistas. Outro diferencial nosso está na visão ampla que temos da paridade, estamos elaborando uma proposta: de ampliação da paridade na UERN como, por exemplo, a de gênero, e de segmentos docente e técnico-administrativo no primeiro escalão da gestão. Iremos inovar na criação de editais de fomento interno para temas emergentes para o fortalecimento da indissociabilidade entre ensino, extensão e pesquisa; estamos propondo alternativas para retorno das bolsas de produtividade em pesquisa financiadas pela UERN. Vamos discutir com a comunidade acadêmica com vistas a executar a proposta do expediente corrido para as técnicas e técnicos administrativos. Vamos propor a descentralização administrativa do ponto de vista de recursos materiais, de atendimento aos estudantes, aos servidores docentes e técnicas, sendo este último, por meio de um Núcleo de Atendimento Especializado em cada campus. Vamos propor a reorganização e ampliação imediata dos auxílios vigentes aos estudantes, especialmente aos campi que não possuem restaurante popular e residências. Enfim, essas são algumas das muitas propostas que temos construído a várias mãos para apresentar à comunidade acadêmica da UERN.
O norte da sua pré-campanha, que deverá também balizar a campanha propriamente dita, é a mudança. O que pode e deve ser mudado na condução da Uern?
Compreendemos que a mudança se dá pelo sentimento das pessoas. Todas e todos que fazem a UERN, inclusive as outras chapas que se apresentaram, dizem querer essa mudança. Assim, isso parece ser um consenso. A questão está no tipo de mudança que se está propondo. A UERN não poderá mudar se for mantida sob a gestão do grupo atual, porque eles estão na reitoria há mais de 50 anos. Foi esse grupo, inclusive, que levou a administração da UERN à estagnação, a ponto de o reitor abandonar o seu cargo. Por outro lado, a comunidade acadêmica já está cansada de uma disputa entre os mesmos grupos tradicionalmente conhecidos como a velha situação e a velha oposição, onde a primeira sempre levou vantagem. O que tem de novo nisso? Nós, por outro lado, já chegamos nessa pré-candidatura mudando os personagens do jogo. Nós ampliamos as discussões para além da disputa polarizada, propomos uma nova chapa de oposição com um professor profissional, sindicalizado, com experiência administrativa ampla, inclusive na gestão, ao lado de uma professora profissional, com experiência de gestão dentro e fora da UERN, além de um vasto histórico de atuação em movimentos sociais e uma das mais atuantes na defesa da UERN.
E como surgiu essa chapa, como ela foi construída?
A nossa chapa, composta com esses dois perfis, surgiu nas bases, de docentes, técnicos e estudantes que participaram direta e livremente do processo de escolha dos nomes. Ela abrange todas as qualidades necessárias para fazer a mudança que a UERN precisa. Sobre o que deve e pode mudar na UERN podemos citar várias coisas, mas podemos especificar, por exemplo, a falta de capacidade da gestão de se articular com os sindicatos da UERN para juntos buscar benefícios para a comunidade acadêmica; reduzir os entraves burocráticos que prejudicam o trabalho acadêmico, em particular nos excessos de judicialização; promover o fim do assédio administrativo ao segmento técnico-administrativo concretizado, por exemplo, nas remoções arbitrárias; aumentar o respeito ao segmento estudantil, fortalecendo as ações da PRAE, hoje notadamente insuficiente para atender nossos estudantes. Assim, acreditamos que a partir desta pré-campanha estamos nos apresentando, sim, como uma opção diferente. Por fim, queremos mudar a UERN fortalecendo a democracia na instituição, pois recentemente temos presenciado um forte retrocesso nesse campo.
Quais são, na visão do senhor, os principais problemas que a universidade enfrenta atualmente? E quais os caminhos para reverter essas dificuldades?
A escassez de recursos para a manutenção da UERN é hoje um dos principais problemas. A falta de manutenção das estruturas, a carência de apoio às atividades acadêmicas e a precarização do trabalho na instituição em grande parte podem ser explicados pela falta de recursos. O atual grupo que comanda a universidade já deu claras demonstrações de não ter a competência para pelo menos amenizar esses problemas. Sim, porque a situação se torna cada dia mais grave. No que pese a competência dos seus servidores, com professores arrecadando milhões para a instituição em investimentos, por meio de projetos individuais de pesquisa, o esforço e alta capacidade do nosso corpo técnico para elaborar projetos, falta direção para todo esse potencial. Houve e haverá recursos, sim, mas faltam gestores com competência para ir buscá-los. Cabe à gestão fazer uma melhor articulação política junto ao Governo do Estado e aos deputados no sentido de garantir a execução do seu orçamento, sujeito constantemente a cortes volumosos. Faltam projetos institucionais com vistas a conseguir emendas parlamentares e gestão para executá-las. Falta competência para buscar parcerias com vistas a promover melhorias nos campi. Falta dinheiro, sim, mas parece claro que falta principalmente uma gestão mais atuante.
Qual a visão do senhor sobre a autonomia financeira da Uern? É uma prioridade no plano de governo do senhor?
Sabemos que o nosso principal problema está no nosso orçamento anual. Caso ele não seja bem administrado ou que não seja cumprido como planejado a fonte de recursos, a comunidade acadêmica sofre com este resultado. A maior parte do orçamento investido na UERN volta-se para o pagamento de pessoal e uma pequena parcela para custeio com diferentes rubricas, ou seja, o recurso deve ser gasto ao que se propõe o orçamento e se precisássemos, por exemplo, de mais recursos para uma demanda da assistência estudantil, não poderia legalmente utilizá-lo. Mesmo diante dessa dificuldade, todas e todos nós temos conseguido formar para o mercado de trabalho excelentes profissionais que estão presentes nas mais diversas áreas do conhecimento. A autonomia financeira é o caminho! Com ela, uma equipe de gestão disposta a realmente compartilhar os desafios da universidade e não centralizar em um pequeno grupo de gestores para apresentar uma proposta pronta à sociedade, poderemos ter o uso do recurso público de forma menos burocrática e mais eficaz.
Fale um pouco mais sobre o movimento Muda Uern.
Podemos dizer o que não foi comum na história da UERN em seus períodos de eleições: O movimento Muda UERN é diferente e realmente novo. A começar pela forma como surgiu. Fruto de um processo de escolha dentro de um grande grupo de oposição à atual gestão, fomos escolhidos pelo voto para representar o movimento. Podemos afirmar que a escolha dos nossos nomes se deu de forma bastante diferenciada com relação ao que se costuma fazer tanto na situação quanto na oposição. Na situação, não há participação das bases, a escolha dos nomes se dá em gabinetes fechados com, talvez, alguns diretores opinando. Os apoiadores são obrigados a aceitar o resultado, sob pena de exoneração como ocorreu a dois pró-reitores que discordaram da indicação do Prof. Pedro Fernandes para ser o candidato da gestão em 2013. Na oposição, embora a escolha se dê nas bases, é o segmento docente que majoritariamente tem escolhido os candidatos. A escolha dos nossos nomes, por outro lado, se deu dentro de um grupo de oposição com mais de cem pessoas e onde os três segmentos estavam bem representados, inclusive em proporções semelhantes. Assim, o movimento Muda UERN também renova a oposição, com um modelo mais inclusivo na escolha, além de estar determinado a fazer uma campanha crítica, mas propositiva com ideias e propostas inovadoras.
Como o senhor acredita que a Uern deve construir o processo de retorno das aulas presenciais?
Compreendemos que o retorno das aulas não deveria ser totalmente presencial, até porque estamos percebendo a demora para que a vacina chegue a todas as pessoas. Acreditamos que deveria ser híbrida, conforme o planejamento de aulas proposto pelo segmento docente. Deve ser pensando no decorrer deste semestre que está remoto por meio de um programa pautado nos seguintes pontos: vacina para todas as pessoas envolvidas na universidade - docentes, técnicos e estudantes, bem como profissionais terceirizados de limpeza, transporte e segurança; verificação das condições de saúde da comunidade acadêmica por meio de pesquisa, preparação dos espaços abertos, laboratórios e salas de aula como medidas de distanciamento; uso de aparelhos de aferição de temperatura, uso de álcool 70% e tapetes sanitizantes. Todas essas ações unidas a um trabalho de conscientização nos meios de comunicação da instituição. Este, por exemplo, a meu ver, poderia ser um edital interno de ação emergencial com recursos envolvendo o ensino, a pesquisa e a extensão atuando de forma indissociável.
O senhor defende a realização de um novo concurso público? Como se daria a relação entre o reitor Adalberto Veronese e os servidores da universidade?
No que se refere a um novo concurso público defendo sim, é necessário, porém não deve ser tratado como moeda de campanha como uma das chapas vem apresentando. Nós temos a Lei de Responsabilidade Fiscal, onde podemos completar o quadro de servidores da UERN no caso de falecimento ou aposentadoria; desta forma, seria possível anualmente depender destes critérios quanto à abertura de concurso público. No Departamento de Educação Física, o qual faço parte, temos professores que se aposentaram e carecemos de vagas, não muito diferente quanto ao segmento técnico administrativo. Para cada concurso é necessário analisar as prioridades focadas em dar mais qualidade aos serviços que prestamos aos estudantes e à comunidade.
E a comunidade discente, o que pode esperar de uma eventual gestão do senhor?
Uma gestão que pensa nos anseios dos estudantes. Não adianta abrir editais e elaborar uma política de assistência estudantil no achismo. É necessário que façamos uma pesquisa para saber o que os estudantes mais estão precisando. Na época em que fui Diretor de Assistência Estudantil, apresentamos aos estudantes o ID UERN, foi um questionário socioeconômico e cultural para que conhecêssemos o perfil dos estudantes da UERN. Com informações obtidas nele, poderíamos saber os locais que mais precisam de um auxílio e que tipo de auxílio seria este, por exemplo. Não tenho conhecimento se fizeram uso das informações obtidas, uma pena. Na nossa gestão vamos procurar atender o que os estudantes precisarem, seja na assistência, no esporte e nas políticas de ações afirmativas.
Para finalizar, que mensagem o senhor deixaria para a comunidade uerniana?
O Movimento MUDA UERN tem escutado os problemas recorrentes da atual gestão, onde as redes sociais têm sido a melhor ferramenta de comunicação e de aproximação das pessoas. É um movimento democrático de construção participativa com pessoas da sociedade e dos três segmentos respeitando a diversidade que é necessária para uma UERN que precisa mudar para melhor. A UERN como um todo sabe, é preciso uma mudança! Não nos enganemos com o recorrente discurso da atual gestão em época de campanha, de que dessa vez agora tudo vai melhorar. Também não nos deixemos levar pelas críticas não propositivas, precisamos inovar nisso também. Juntem-se a nós nessa mudança que já começou e que quer transformar a UERN em uma universidade melhor.
Tags:
César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.