Quinta-Feira, 19 de dezembro de 2024

Postado às 10h30 | 07 Mar 2021 | Larissa Rosado: ‘Certamente serei candidata à deputada estadual’

Crédito da foto: Blog do César Santos Vereadora Larissa Rosado no Cafezinho com César Santos, na sede do JORNAL DE FATO

Larissa Daniela da Escóssia Rosado, 46, foi eleita em 2020 para cumprir o seu primeiro mandato na Câmara Municipal de Mossoró. Chega ao Palácio Rodolfo Fernandes, sede do legislativo mossoroense, com a experiência de quatro mandatos de deputada estadual (entre 2003 e 2019), de ter sido secretária de Agricultura do Rio Grande do Norte e ter cumprido missões importantes na política local e estadual.

Essa experiência a coloca como um dos principais quadros da Câmara Municipal, inclusive, sendo a líder da bancada de oposição. No entanto, Larissa Rosado (PSDB) poderá não demorar muito como vereadora, uma vez que deseja voltar à Assembleia Legislativa.

“Eu serei candidata nas eleições do próximo ano”, sentencia em longa conversa no “Cafezinho com César Santos”, gravada na sexta-feira, 5, na sede do JORNAL DE FATO. Se tudo caminhar bem, Larissa voltará a fazer dobradinha com a ex-vereadora e ex-deputada Sandra Rosado (PSDB), sua mãe, que poderá ser candidata à Câmara dos Deputados, onde atuou por três mandatos.

 

Vamos aproveitar que estamos na véspera do Dia Internacional da Mulher e debater um pouco sobre esse tema. As câmaras municipais do RN possuem a maior participação de mulheres em todo o Brasil. De 1.607 cadeiras, 350 são ocupadas por mulheres, isso dá um percentual de 21,28%. Mesmo assim, nas eleições de 2020 houve uma queda em relação à legislatura de 2017/2020. Esses números, eles são pra comemorar ou ainda continuam muito tímidos em relação à presença da mulher na política?

Se a gente considerar a participação da mulher na política do Rio Grande do Norte, eu acho que nós temos que melhorar muito. Fazendo uma pesquisa essa semana na Câmara Municipal observei que, na história do Legislativo mossoroense, só duas mulheres foram presidentes da Casa, Maria Lúcia e a ex-vereadora Izabel Montenegro. Se não me engano, ao todo, são 24 vereadoras na história toda da Câmara, se a gente considerar desde a Heloísa Leão (primeira mulher a se eleger vereadora em Mossoró). Agora temos apenas três com Larissa, Carmem Júlia (MDB) e Marleide Cunha (PT). Eu entendo que embora o nosso estado esteja em destaque no ranking, nós temos 17 cidades que não têm uma só mulher nas Câmaras Municipais. Isso é muito pouco.

Instrumentos, como a cota de gênero e campanha da Justiça Eleitoral para incentivar mais mulheres na política falharam?

A cota partidária, ela, por si só, não estimula a participação da mulher na política. No meu entendimento, a cota é um limite que o partido tem que cumprir, mas para o partido ter a participação de mulheres na política, além de ter obrigatoriedade da cota, além de termos o financiamento de campanha, ele precisa estimular concursos, com qualificação, com sensibilização. Não é fácil para mulher, além de trabalhar na política, existe a exposição da vida dela, existe o cuidado com a casa, e mesmo que você tenha um companheiro feminista, que ajude no dia a dia, você vai ter ali um percentual de tarefas domésticas e, portanto, uma jornada tripla. Eu considero que a gente precisa ainda avançar nessa questão. Inclusive na Assembleia Legislativa, nós já tivemos mais deputadas do que temos hoje.

 

Em 2016, Mossoró elegeu a prefeita, vice-prefeita e cinco vereadoras. Em 2020 caiu para três vereadoras e no Executivo zerou. Nós tivemos também, na formação do primeiro escalão do município de Mossoró, uma diminuição de quase 80% da presença da mulher em cargos de destaque. Aqui a fato a senhora credita esse recuo?

Quando a gente fala da gestão municipal, eu acho que é uma falta de sensibilidade do prefeito para a igualdade de gêneros, eu tenho certeza que as mulheres têm a mesma capacidade dos homens, de trabalhar e de gerenciar. Nós temos prefeitos como o de Recife, uma capital de estado, que o prefeito garantiu lá no secretariado 50% de homens e 50% de mulheres. Quando eu fui formar o meu gabinete na Câmara Municipal, escolhi 50% homens e 50% mulheres, então, é interessante que os homens também tenham essa sensibilidade de dar o espaço e o respeito que a mulher merece. No nosso estado, César, apenas 37 cidades são administradas por mulheres, de 167 municípios. A gente tem dois fatos aqui colocados, do eleitor, que eu acredito que se nós tivermos mais mulheres também se candidatando e se colocando, nós vamos poder ampliar essa presença, e da escolha do chefe do Executivo.

 

De que forma o PSDB Mulher, que é presidido pela senhora do Rio Grande do Norte, tem trabalhado para mudar essa realidade?

Trabalhamos fazendo cursos, mantendo o contato direto com as mulheres que fazem parte do partido. No ano passado, César, o PSDB criou uma plataforma do partido, chegou a pandemia e a gente não podia mais se encontrar, não podia promover o curso presencial. O PSDB disponibilizou, de forma concreta, qualificação e oportunidade de cursos para as mulheres. Assim, a gente se sente mais segura para fazer um discurso, para tratar de um tema, para defender determinadas bandeiras. Então, o PSDB trabalha dessa maneira, a gente vem fazendo curso presencial e teve que mudar. O PSDB Mulher, agora, teve o seu mandato prorrogado, aliás, o PSDB de todo o país, desde presidente nacional até o presidente estadual, passando também, pelo ITV e PSDB Mulher, e nós já devemos começar os encontros virtuais agora a partir de abril.

Nós tivemos recentemente a primeira mulher nomeada e empossada reitora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), a professora doutora Ludimilla Oliveira. Desde então, ela passou a sofrer todo tipo de enfrentamento. Não houve uma defesa firme dos ditos movimentos organizados. Nós podemos dizer que temos aí um caso clássico da política partidária se sobrepondo ao processo de ocupação da mulher em cargos de destaque?

César, a gente pode analisar por dois aspectos. Por esse aspecto e pelo fato de que o processo em que a reitora foi empossada, ele é legal, porque está registrado lá na lista tríplice, mas muitas pessoas quiseram dizer que não era legítimo, porque ela não foi a primeira colocada na votação. Eu acredito que a gente pode ter um pouco aí de política, né? E a gente pode ter aí um pouco de discriminação. Inclusive, eu defendo que essa questão do trabalho da mulher, da defesa do trabalho da mulher, não é só feito por mulheres de ideologia A ou de ideologia B, acredito que enquanto mulher que represente e que reconhece o seu papel na sociedade, todas nós estamos aptas a fazer a defesa das bandeiras, assim como os homens também.

 

A senhora foi eleita agora presidente da União dos Vereadores do Rio Grande do Norte. Foi uma eleição consensual, no entanto, o desafio, penso eu, não foi tanto para se eleger, mas para reorganizar essa entidade. Qual vai ser a grande luta da sua gestão à frente da UVERN?

César, a Uvern é uma entidade muito voltada para os vereadores do estado do Rio Grande do Norte, e eu recebi uma convocação de um grupo de vereadores e ex-vereadores que já fazem parte da entidade para que eu trabalhasse essa condução desse processo de fortalecimento da entidade, e construímos a chapa consensual. O grande desafio agora realmente é ampliar o número de filiados da entidade, tanto individualmente, porque existem dois tipos de interligação, pode ser a Câmara, pode ser o próprio vereador, mas o desafio é dar assistência a esses vereadores. Nós temos realidades totalmente diferentes de vereadores que trabalham em Mossoró, Parnamirim, Natal, Macaíba, Guamaré. Essas câmaras que eu citei são câmaras em que os vereadores têm assessores, que a gente consegue se movimentar da maneira mais forte. Já os vereadores das menores cidades, eles muitas vezes não têm gabinete, não têm assessores. Então, a Uvern ela pode chegar junto com assessoria contábil, com a assessoria jurídica, cursos de qualificação, por exemplo, na área do Legislativo, já que eles não têm assessores e eles têm que se virar em todos os aspectos do mandato. O intuito é exatamente fortalecer o mandato dos vereadores e o Legislativo no estado do Rio Grande do Norte.

Então, a Uvern vai chegar aonde a Fecam não chega?

Na verdade, nós temos duas entidades: a Federação das Câmaras ela é mais voltada para os presidentes de câmaras, isso sem dúvida. E eu acho que hoje, não sei se a Fecam consegue chegar em assistência a todos os presidentes, acredito que sim, mas a Uvern ela tem o foco mais no Vereador. Agora, nós precisamos ampliar também a nossa atuação para chegarmos a todas as cidades. Inclusive, temos dentro do projeto da Uvern, coordenações regionais, para que a gente possa chegar mais longe. Nós vamos começar em março, com cursos virtuais, nós tínhamos uma programação onde realizaríamos um grande encontro em Guamaré, já não vamos fazer por conta da pandemia.

 

A senhora foi deputada estadual por quatro mandatos. Depois de concluir esse processo, esse tempo, 16 anos na Assembleia Legislativa, a senhora nunca negou o desejo de voltar para a Casa. Em 2020, a senhora se elegeu vereadora pela primeira vez e logo se observou que seria o trampolim para o retorno à Assembleia Legislativa. Resumindo, a senhora pretende disputar as eleições de 2022, como candidata à deputada estadual?

Certamente serei candidata à deputada estadual, é uma coisa que a gente vem discutindo no nosso grupo político, também aí com a possibilidade da ex-deputada Sandra Rosada voltar à cena como candidata, já que ela abriu mão nesse momento. Nunca escondi esse desejo, mas eu tenho uma compreensão da responsabilidade que eu tenho que ter nesse momento do desempenho do mandato como vereadora da cidade de Mossoró. Não posso perder o foco da minha terra, desse mandato que foi a mim confiado, e defender as questões que estão na pauta do dia, como a agilização da vacinação, a transparência dessa vacinação, a questão do emprego e da renda na nossa cidade. Muita coisa precisa ser discutida de Mossoró. Então, acredito que essa discussão política está colocado o desejo, mas ela acontecerá um pouco mais à frente.

 

Mas pode-se esperar uma dobradinha Larissa estadual e Sandra Rosado federal?

Sim, pode-se esperar essa dobradinha Larissa e Sandra, assim como, César, eu tenho colocado que a gente pode conversar com outros grupos políticos. Existe também aí um diálogo que será aberto, porque nós vamos ter candidaturas para o Senado, Governo do Estado, que a gente, hoje, ainda não sabe quais candidaturas estão colocadas de fato.

 

Nas eleições de 2018, a senhora foi candidata à reeleição a deputada estadual e foi bem votada. No entanto, a coligação da qual a senhora participou foi muito concorrida. A senhora hoje está filiada ao PSDB, partido que tem cinco deputados estaduais. Isso supõe uma concorrência muito grande. Diante disso, existe a possibilidade da senhora buscar outro partido que possa encaminhar melhor esse processo de eleição?

Não existe na pauta essa mudança de partido. Eu compreendo que realmente eu fiquei de fora, mesmo tendo sido a mais votada da cidade, tendo tido mais votos do que cinco deputados estaduais que estão na Assembleia Legislativa, por causa da legenda partidária. Nós vivemos um momento diferente agora na eleição de 2020, quando acabaram as coligações e houve a necessidade do fortalecimento dos partidos em si. Os partidos vão ter que olhar pra dentro, mais uma vez, e se fortalecerem, então, a gente tem que ver como vai ficar essa nominata do PSDB. Eu tenho um diálogo muito aberto, muito franco com o presidente do partido, Ezequiel Ferreira, e nós vamos conversar sobre essa questão da nominata. Não existe nenhum desejo de fazer essa mudança partidária hoje.

Trazendo a discussão aqui para Mossoró, a senhora assumiu a liderança da bancada de oposição, uma bancada de apenas três vereadores: a senhora, Francisco Carlos e Marleide Cunha. Do outro lado, há uma bancada com 18 vereadores, uma maioria esmagadora, que é a bancada governista. Como é liderar uma bancada de oposição com esse desafio tamanho?

O desafio é muito grande, César, mas nós temos feito uma oposição muito propositiva também, fazendo críticas, mas mostrando ao prefeito que existem caminhos a serem seguidos. A vereadora Marleide e o vereador Francisco Carlos são vereadores muito preparados ideologicamente, são pessoas de luta e quando diz assim: ‘Larissa é a líder da oposição’, eu acho que a questão de ser líder da oposição é muito pra conciliar as posições que nós vamos externar, mas todos nós vamos fazer a nossa atuação nessa linha e também de maneira independente. Nós temos, realmente, uma bancada de situação muito grande, mas vamos fazer o trabalho com respeito aos colegas, mas sem arredar o pé da firmeza e dos propósitos de fiscalizar o Executivo e de acompanhar as suas ações.

 

Na Câmara Municipal tem um projeto que democratiza a gestão da escola pública Municipal de Mossoró. A Legislatura passada, devido a esse projeto ter chegado já em novembro ou dezembro, não teve o tempo hábil para discutir e para levar à votação. Essa será uma bandeira de luta da oposição, já que há um sentimento, parece que muito claro que a situação ou o Governo não pretende levar adiante?

César, como deputada estadual eu tive a oportunidade votar um projeto semelhante colocado pela governadora Vilma de Faria, e nós votamos de forma favorável a esse projeto, por entender que a democratização das escolas fortalece os vínculos da família e da escola, dos servidores, dos trabalhadores da educação e do seu diretor. A partir do momento que o diretor é escolhido pela comunidade, a partir do momento que esse diretor é escolhido pelos seus colegas de trabalho, a coisa muda com relação à responsabilidade, como ele se sente perante a comunidade. Eu defendo a democratização das escolas, não é uma coisa de agora, tanto que já dei esse voto na Assembleia Legislativa e vamos pedir, sim, que esse projeto seja pautado o mais rápido possível.

 

Temos aí a nova gestão municipal, entrando no terceiro mês, e é impossível fazer uma avaliação de uma gestão com 70 dias, impossível. No entanto, é possível enxergar se a gestão tem um projeto para a cidade. A senhora consegue enxergar um projeto da gestão Allyson Bezerra para Mossoró?

Eu não consigo enxergar que o prefeito fez um planejamento para chegar ao poder, convencionou-se que essas análises de como está a gestão, elas sejam feitas a partir dos 100 dias de administração e a administração ainda realmente não tem esses 100 dias, mas a gente já percebe uma quebra de ritmo da gestão passada para a gestão atual. A gente acompanhou o final da gestão Rosalba com muitas obras na cidade, de asfaltamento, foi muito divulgado também pela prefeita a quantidade de recursos que estava deixando através do Finisa e de emendas do deputado Beto para que obras fossem feitas. Se você anda em Mossoró, hoje, você percebe que parou, que tem um vácuo aí entre um e outro. Embora as licitações tenham ficado feitas, o prefeito optou por cancelar muitas delas ao invés de dar seguimento. Nós temos aí o trabalho de enfrentamento à pandemia, que é uma grande preocupação. O prefeito demorou praticamente dois meses para nomear o seu comitê de enfrentamento à Covid.

 

Um tempo considerável...

No meu entendimento, ele deveria ter feito o comitê a partir do momento que nomeou os secretários, e aí já destinar secretários para cada lugar nesse comitê, garantindo aí que o enfrentamento não pararia. Depois, o prefeito vem e deixa inativa uma unidade de campanha de Mossoró, quando a gente vê, declarado mesmo pelos próprios cargos comissionados e servidores da prefeitura, que houve um aumento muito grande na procura pela testagem rápida. Então, a gente sente que ele não fez o planejamento para enfrentar um problema que já existia, que não era novidade, ele pode até dizer de alguma coisa da gestão: ‘ah, eu não sabia que estava assim’, mas o enfrentamento à pandemia já era uma coisa colocada, e agora com essa crise, eu acho que o prefeito precisa urgentemente dar respostas à sociedade sobre compra de vacinas, agilização dessas vacinas, sobre os boletins também nas redes sociais da Prefeitura e nos meios de comunicação de como está a covid em Mossoró.

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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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