(*) Carlos Brickmann
Sim, a CPI da Covid é importante – mas investiga denúncias de corrupção no Terceiro Mundo. O que acontece agora nos Estados Unidos – e repercute no Brasil – é mais um episódio da tentativa de fazer com que todos pensem a mesma coisa, sob pena do que chamam de “cancelamento”.
Os fatos: o professor Blake Bailey, autor de uma biografia do monumental escritor Philip Roth, foi acusado de estupro por algumas ex-alunas. Devido às acusações, a editora americana WW Norton interrompeu a distribuição do livro; no Brasil, a Cia. das Letras suspendeu a tradução da obra, “dadas as graves acusações de abuso sexual contra Blake Bailey”.
Vamos admitir que o autor tenha cometido todos os crimes de que foi acusado e mais alguns. Deve, diz a lei, ser processado, condenado, cumprir pena.
E que é que o livro tem a ver com isso?
É preciso saber separar a vida pessoal do autor de sua obra – ou não teríamos no Brasil os poemas de Bocage, condenado e preso pela Inquisição; nada veríamos de Caravaggio, assassino confesso, nem de Cellini, preso por roubar pedras preciosas da tiara papal, assassino de pelo menos três pessoas; não ouviríamos Paganini, preso por dívidas. Ezra Pound traiu os EUA para apoiar os fascistas na guerra.
Chega: que os criminosos paguem por seus crimes, depois do julgamento e da condenação. Mas sua obra não é criminosa. Lembremos a revolucionária polonesa Rosa Luxemburgo: liberdade é sempre a liberdade dos outros.
(*) Carlos Brickmann é jornalista
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.