Os eleitores de Guamaré voltam às urnas neste domingo, 7, para eleger o prefeito que governará a cidade pelos próximos três anos. O pleito suplementar acontece em razão do prefeito eleito em 2020, Hélio Miranda, ter sido cassado pela Justiça Eleitoral. Aliás, cassação de prefeito em Guamaré é recorrente. Nas últimas duas décadas, quase todos que passaram pelo cargo foram afastados por desordens contra o cofre público.
Fincada no corredor do petróleo potiguar, Guamaré é uma cidade rica por natureza, mas de pouca sorte com gestores públicos. A riqueza vem da extração e refino do petróleo, por meio da refinaria Clara Camarão; e a pobreza do seu povo é consequência de gestões incompetentes e pouco zelosas com o dinheiro público.
Era para ser diferente, dada a força econômica da cidade de 15 mil habitantes. Guamaré tem um Produto Interno Bruto (PIB) per capta maior que o do Brasil. A receita orçamentária da Prefeitura bate a casa dos R$ 200 milhões por ano, o que representa cerca de R$ 2 bilhões em uma década. É muito dinheiro, mais do que o suficiente para transformar numa cidade próspera sob todos os aspectos.
O PIB per capta de uma cidade deve ser dividido pela população. Quanto maior o PIB, maior a riqueza da população, diz a lógica. Na prática, porém, não é o que acontece em Guamaré. Para se ter ideia, em 2016 o PIB per capta chegou a ser de R$ 125 mil; em 2018 caiu para R$ 90 mil, um patamar bem superior ao PIB per capta do Brasil, que é de pouco mais de R$ 30 mil. O povo, porém, continua pobre, sem saúde e educação de qualidade. Guamaré ocupa apenas a 43ª posição no Índice de Desenvolvimento (IDH) entre os 167 municípios potiguares.
Quando observado o Ideb - índice que mede a qualidade da Educação em uma cidade – de Guamaré, o cenário também é desalentador. Entre todos os municípios do estado, Guamaré ocupa a colocação 92, e os outros levantamentos apontam que a cidade não melhorou nem cumpriu a meta de avanço.
Essa realidade, absurda e inaceitável, desafiará o prefeito que será eleito neste domingo. É o mínimo, dentro de um contexto lógico. No entanto, levando em conta os dois candidatos que disputam o pleito, as esperanças não são animadoras. Eles têm origem na velha política e ligações familiares e/ou bem próximas com ex-gestores que não fizeram bem ao município.
O candidato da situação, arquiteto Arthur Teixeira, segue a orientação política do pai Auricélio Teixeira, cassado quando esteve prefeito, e tem apoio do ex-prefeito Hélio Miranda, cassado duas vezes. Logo, se vencer, Arthur manterá o poder de Hélio na Prefeitura.
O candidato da oposição, vereador Gustavo Santiago (Solidariedade), tem como companheiro de chapa o ex-prefeito Mozaniel de Melo Rodrigues, que também foi cassado quando passou pela Prefeitura.
Portanto, a população de Guamaré volta às urnas sem ter muito o que esperar. Parece em voga a sabedoria popular: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Infelizmente.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.