Se o ex-senador Garibaldi Filho ocupou o noticiário político do RN na primeira quinzena de janeiro, com o anúncio de rompimento político-familiar com o ex-deputado Henrique Alves e lançamento da pré-candidatura à Câmara dos Deputados, agora é a vez de Henrique de ocupar os espaços e ganhar manchetes nos veículos de comunicação e redes sociais. A segunda quinzena de janeiro tem sido do herdeiro político de Aluízio Alves.
Isso não acontece por acaso. Com a sua reconhecida habilidade, Henrique pegou o bonde do noticiário político ativado por Garibaldi e vem trilhando caminho rumo às eleições 2022. Ele buscará o 12º mandato de deputado federal e enfrentará o primo dentro e fora do MDB, embora ainda não assuma o projeto de público.
Henrique viajou 265 quilômetros de carro para conceder entrevista à imprensa de Mossoró. O sacrifício para se fazer presente no quadro “Conversa de Alpendre”, do Canal 10 da TCM, não foi à toa. Ele levou em conta a importância do segundo maior colégio eleitoral do estado e do peso que tem o MDB local. Henrique foi recepcionado por emedebistas históricos, como as “senadoras” Edith Souto e Rose Cantídio, e por membros importantes dentro do partido como a presidente local da sigla, ex-vereadora Izabel Montenegro, e os vereadores Carmem Júlia, Costinha e Lucas das Malhas. Os emedebistas mossoroenses estão com ele. Essa posição terá peso importante no momento que o partido for definir os candidatos para as eleições 2022.
Mas, foi em Natal onde Henrique deu declarações importantes e tentou virar o jogo na disputa com o primo Garibaldi Filho e o presidente estadual do MDB, deputado federal Walter Alves. O ex-deputado disse que ainda está analisando a possibilidade de candidatura à Câmara, mas se posicionou como candidato e líder da “nação bacurau”. Henrique relembrou que já foi deputado federal junto a Aluízio Alves, seu pai, e a Ismael Wanderley, marido da irmã gêmea, Ana Catarina. Apesar disso, reforçou que ainda está avaliando a candidatura.
De pronto, ele mandou recado para Walter Alves ao deixar claro que não deixará o MDB e que, se for candidato, será pelo MDB. É que existe especulação, de bastidores, que a direção estadual do partido negaria legenda para Henrique ser candidato. Sobre isso, Garibaldi e Walter não se pronunciaram.
Henrique Alves também se posicionou sobre temas polêmicos e espinhosos como a sua prisão da Operação Lava Jato, quando diz que foi injustiçado. Ele passou 11 meses presos, sem ter condenação, por suposto envolvimento em crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro na construção da Arena das Dunas, em Natal.
Veja a sequência de declarações de Henrique Alves numa longa entrevista à rádio Jovem Pan News Natal, que foi selecionada pela Tribuna do Norte:
Sobre o MDB
“Eu não estou no MDB. Eu sou MDB. Há uma diferença. Ouvi de Ulisses Guimarães: partido não é hospedaria. Partido é a sua casa. Se as pessoas observarem o MDB como uma casa, se olhar o piso, as paredes, o teto e as janelas, verão as marcas das mãos de Henrique Eduardo Alves. E para fazer justiça, as minhas só não, as minhas e de Garibaldi. Como posso sair dessa casa que é minha se eu não estou incomodado? Estou bem acomodado e feliz. É minha vida e minha história. Não há possibilidade de eu sair do MDB, que é minha casa. Eu quero, pelo contrário, é que venham mais pessoas. Henrique e MDB ontem, hoje e sempre."
Sobre a acusação que ele teria tentado derrotar Walter Alves em 2018
"O deputado Walter perdeu 110 mil votos. Em 2018, a eleição foi em outubro e em maio eu estava saindo da prisão de 328 dias. Fiquei em casa. Naquele pior momento da vida, que força danada esse homem teria para transferir 100 mil votos de um candidato para outro? Não estou falando de 10, 20 mil votos. Transferir 100 mil votos para Benes", questionou Henrique. O deputado Fábio Faria perdeu 90 mil votos de 2014 para 2018, o deputado Rafael Motta perdeu 91 mil votos, o ex-senador José Agripino ficou na segunda suplência, o senador Garibaldi, na sua reeleição, foi o 4º colocado para senador em Natal. Então não foi uma coisa contra o deputado Walter. Foi uma ventania de mudanças, contra lideranças tradicionais, uma nova política (que é pior do que a que quiseram mudar), atingiu Walter, o deputado Fábio, Rafael, Garibaldi, José Agripino. O deputado João Maia, com a irmã bombando sendo senadora, perdeu 45 mil votos. Então não foi Henrique. Eu desafio aparecer um prefeito - não são dois -, um prefeito de 2018, do MDB, que tenha falado comigo, que tenha dito que ia votar em Walter e eu tenha dito a ele (não ele entendido), não vote em Walter e vote em Benes. Quero que apareça um que venha dizer que iria votar em Walter e que tenha dito que eu orientei a votar em Benes. Isso não existiu. Isso não é verdadeiro. A verdade sempre aparece.”
Sobre candidatura em 2022
“Não sei (se há espaço para ele e Garibaldi na disputa para Câmara). Estou conversando para ouvir, para saber se eu vou ser candidato, se o povo quer que eu seja candidato, se acha que eu ainda posso ajudar depois de tudo que ajudei. Só tenho gratidão. O sujeito com 11 mandatos tem que pedir mais o quê? Tem só que agradecer e muito pelo que o Rio Grande do Norte me deu e fez, deu a chance de construir o que eu construí. O que vier a mais é se o povo entender que eu posso ajudar ainda mais. Não sei o que acontecerá. Mas o RN não perderá nada. Imagine o RN com Henrique e Garibaldi, com a história que têm, pelo que aprenderam nesses anos, como deputados. Se eu ajudar e Garibaldi chegar e eu não chegar, é bom para o RN, que terá um deputado como Garibaldi. Se eu chegar e Garibaldi não chegar, se eu for candidato, estará lá Henrique, que é um cara experiente, que pode ajudar. Nesse caso, é aposta tripla para o estado. Mas vamos esperar se isso vai acontecer. Não tenho uma decisão tomada ainda, mas tem uma coisa mexendo dentro de mim que não posso negar. Cada viagem que eu faço isso fica muito mexido e o carinho das pessoas é algo generoso", disse Henrique. "Há duas frases de meu pai que eu levo muito comigo e consigo praticar, são coisas que não saem da minha cabeça: fazer a luta sem ódio e sem medo, e a esperança não morre. Essas duas frases estão se encontrando no meu caminho e espero que Deus me mostre qual o melhor caminho", disse o deputado.
Sobre a prisão
“Fui vítima de uma trama. Porque o procurador (Rodrigo) Janot queria ser reconduzido e o presidente Michel Temer já tinha feito chegar a ele que ele não seria reconduzido. E a partir daí ele teve como obsessão de destruir Michel (Temer) e tirá-lo da Presidência. Até se dizia que ele se articulou com Rodrigo Maia, que era o presidente da Câmara e assumiria se ele saísse. E isso se confirmou quando chegou o mandado de prisão, chega um de Brasília de Janot e um do representante Regional de Janot. Chegaram os dois pedidos juntos na mesma hora, na minha casa às 6h. E eu percebia que o oficial de Justiça que lá estava, olhava para a janela. Tinha uma multidão lá embaixo. Como podia todas aquelas pessoas lá, sabendo disso antes de mim? E daí minha revolta, que eu superei, graças a Deus, naquele dia seria julgada a chapa Dilma/Temer, às 17h. Se a decisão fosse pela cassação, Rodrigo Maia assumiria e foi a estratégia que depois a gente descobriu. Todo o noticiário apontava mais para Temer do que o deputado Henrique. Fui vítima dessa armação. Tínhamos a expectativa que a chapa venceria por 5 a 2, tão frágil era o argumento, mas foi por 4 a 3, um voto apenas. Mas Michel manteve a chapa e continuou, só que esqueceram de mim lá. O sujeito que serviria para atacar Michel, que seria usado para atingi-lo, foi esquecido lá. E fiquei 328 dias. Prisão preventiva. Qual o mal que eu poderia fazer à sociedade? Uma pessoa que tive a vida que tive?"
Sobre o prefeito Álvaro Dias
“Tenho ouvido muito sobre Álvaro (como candidato). É impressionante a administração que vem fazendo, o trabalho na pandemia e os horizontes para Natal. Quem mora no Seridó e Agreste, vem a Natal, o trabalho de Álvaro está tendo grande repercussão. Como escuto isso, transmito por onde passo. Converso sempre com Álvaro, somos amigos há tantos anos, estou sempre ligando para ele, nos falamos. O RN dos estados deve estar vivendo a maior incógnita entre todos os outros. Além de Fátima, não se sabe quem será o candidato ao Governo. É incrível para um estado que sempre teve lideranças chegou a um ano eleitoral e não sabe os nomes de candidatos definidos em momentos tão importantes. Acho que o mês de fevereiro é decisivo e vamos ver as opções que surgem. Mas vamos tratar de ideias e não de nomes.”
Sobre o Governo Fátima
“Ela vive muitos problemas no governo, pegou a pandemia e tem uma oposição muito acirrada na Assembleia. Tem a questão da saúde pública e da educação, que reclamam-se. Eu acho que essa conjuntura nacional atinge muito brutalmente ao governo do Estado. Acho que tem lacunas aí, por essas razões e outras da própria administração, que não foram plenamente atendidas as expectativas do Rio Grande do Norte. Talvez falte ao governo Fátima a humildade em ouvir a oposição. Para ver dentro daquelas propostas, tirando radicalismo e oposição por ser, as boas ideias, construtivas. Então é um governo que vejo com essa ressalva, mas torcendo que dê certo".
Sobre Simone Tebet à Presidência do Brasil
“Estou com ela para o que der e vier.”
Herdeiro de Aluízio Alves
Henrique Eduardo Alves, 73, entrou na política ainda muito jovem, para ver erguida a bandeira da esperança de Aluízio Alves, seu pai, hoje rompidos politicamente. Antes de entrar para a política, Henrique cursou Direito do Centro de Ensino Unificado de Brasília (UniCEUB) e depois se transferiu para a Universidade Federal.
Após a cassação de Aluízio Alves, pelo Ato Institucional Número Cinco (AI-5), em 7 de fevereiro de 1969, Henrique decidiu seguir a carreira política junto com o seu primo ex-senador Garibaldi Alves Filho. Ingressou no MDB, elegendo-se deputado estadual 1970, 1974 e 1978. Com a extinção do partidarismo no governo militar de João Figueiredo, ele se transferiu para o PP em 1980, permanecendo até que seus membros decidiram incorporar-se ao PMDB. Henrique assumiu diretório estadual do partido e em 1982 renovou o mandato de deputado federal. Naquele ano, seu pai estava de volta e disputou o Governo do RN, sendo derrotado pelo ex-senador José Agripino Maia (Arena, hoje DEM).
Henrique foi eleito mais sete vezes à Câmara dos Deputados (1986, 1990, 1994, 1998, 2022, 2006 e 2010), tendo chegado à presidência da Casa em 4 de fevereiro de 2013 ficando até 1º de fevereiro de 2015.
Em 2014, tentou se eleger governador do RN, sem sucesso, perdendo para o ex-governador Robinson Faria (PSD). Henrique também disputou duas vezes a Prefeitura de Natal, sendo derrotado em 1988 por Wilma de Faria e em 1992 por Aldo Tinoco.
Henrique foi ministro do Turismo no governo Dilma Rousseff (PT), entre 16 de abril de 2015 a 28 de março de 2016, e ocupou a mesma pasta no governo Michel Temer (MDB), entre 12 de maio a 16 de junho de 2016.
Depois daí, veio o pior momento de sua vida pública. Na manhã de 6 de junho de 2017, Henrique foi preso pela Polícia Federal na Operação Manus, que investigava corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro na construção da Arena das Dunas, de Natal. Em 13 de julho de 2018, o juiz Francisco Eduardo Guimarães Farias, da 14º Vara Federal de Natal, revogou a prisão domiciliar, e Henrique Alves passou a aguardar o julgamento em liberdade.
No final de 2021, ele se livrou da sentença da 10ª Vara Federal de Brasília. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região acatou o argumento da defesa para reconhecer a incompetência da Justiça Federal para processar e julgar a ação penal referente à Operação Sepsia.
Henrique Eduardo Alves reconquistou seus direitos políticos e está apto a ser votado a partir das eleições 2022.
Tags:
César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.