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Postado às 11h45 | 06 Fev 2022 | Luiz Eduardo: ‘Fui o único prefeito do Brasil que nunca nomeou parentes’

Crédito da foto: Jornal de Fato Luiz Eduardo, ex-prefeito de Maxaranguape e pré-candidato a deputado estadual

O empresário bem-sucedido Luiz Eduardo decidiu entrar para a política em 2016, incentivado pela proposta de reconstruir a cidade de Maxaranguape, localizada a 46 quilômetros de Natal, que sofria com administrações desastrosas. A sua candidatura a prefeito foi consagrada nas urnas por 64,16% dos votos. Quatro anos depois, em 2020, a sua gestão foi aprovada pelo eleitor e ele foi reeleito com 66,26%.

Agora, Luiz Eduardo entende que é o momento de alçar voos mais altos. Ele renunciou ao cargo de prefeito para concorrer a um mandato de deputado estadual nas eleições 2022.

É sobre a sua carreira política, vitoriosa até aqui, e seus projetos eleitorais que o ex-prefeito de Maxaranguape conversou no “Cafezinho com César Santos” desse domingo.

O senhor ficou menos de um ano no segundo mandato de prefeito, antecipando a renúncia para ser candidato nas eleições 2022. Por que se afastou tão cedo da função delegada pelo povo?

Eu fui eleito em 2016 com mais de 63% dos votos. Não era político de ofício, vim da iniciativa privada, e a minha ideia era exercer uma função de gestor de fato. A gente reergueu o município de Maxaranguape, que se encontrava há 16 anos com o político que não era bom. A gente não via para onde eram destinados os nossos impostos, não via a cidade crescer, o dinheiro ser bem aplicado. Convidado pela oposição para ser candidato, eu coloquei que para aceitar seria para fazer diferente como, por exemplo, que nenhum cargo de secretário seria político, mas, sim, técnico. Ganhamos a eleição, fizemos uma grande gestão. Eu fui o único prefeito do Brasil que não tinha um parente de primeiro, segundo ou terceiro grau empregado na Prefeitura. Em 2020, nós fomos reeleitos com mais de 66% dos votos, sem eu fazer uma visita porta a porta; fiz campanha de dentro de casa, só fui a quatro comícios e a uma carreata, porque eu tinha na mente que a população já conhecia meu trabalho, tinha condição de me avaliar. De fato, isso foi feito e nós ganhamos a eleição e elegemos oito dos nove vereadores, com a oposição elegendo apenas um, na sobra dos votos. É uma demonstração de aprovação popular e a certeza que fizemos o melhor por nosso município.

 

Mas, voltando à pergunta, por que se afastou tão cedo da função delegada pelo povo? O senhor não teme ser incompreendido pelo eleitor?

Não. Eu fiquei cinco anos na Prefeitura, fizemos uma gestão aprovada pela população, tanto que fomos reeleitos com mais de 66% dos votos. Passei para a vice-prefeita (Professora Nira) três anos de mandato, ela que foi a minha vice na primeira gestão, administrará Maxaranguape até 2024 e tenho certeza que fará uma grande gestão. Eu poderia renunciar ao mandato para me candidatar a um cargo de deputado estadual em 1º de abril conforme a lei, mas resolvi renunciar em dezembro para permitir que a nossa prefeita iniciasse um ano fiscal completo. Entendemos que eu adentrando o ano fiscal da atual prefeita eu estaria atrapalhando a sua gestão. Esse foi um dos motivos de anteciparmos a nossa saída. O outro motivo é que não queríamos que as pessoas achassem que eu estava usando a máquina pública em benefício de um projeto nosso para deputado estadual. A gente passou cinco anos na Prefeitura, não temos processo aberto pelo Ministério Público, tivemos zelo com o dinheiro público, fizemos uma grande gestão.

Essa convicção o faz achar que está credenciado para alçar novos voos na política?

Temos a convicção que fizemos uma grande gestão, isso é o principal. Quando assumimos o município, a Prefeitura devia três meses de salários atrasados, a cidade não tinha código de obra, não tinha código ambiental, havia uma completa desorganização. Eu fiz código ambiental, fiz código de obra, eu fiz georreferenciamento fundiário, eu fiz plano de saneamento, eu fiz código tributário. Reorganizei administrativamente a cidade, repassei a Prefeitura agora em dezembro com zero em resto a pagar, deixei mais de um milhão de reais na conta da educação, deixei dezesseis milhões de reais em convênio com o Governo Federal, quase nove milhões de reais em pavimentação. Então eu deixei a cidade pronta pra ser administrada. A cidade hoje tem mais de dois milhões de reais de negócios com o Banco do Nordeste. Nós aumentamos a produção agrícola vinte vezes mais, dando apoio à agricultura familiar e ao agronegócio. Levamos a maior fábrica de água de coco in natura do Brasil, ela corta em média de um milhão de cocos por mês, e levamos pousadas, restaurantes, que estão gerando mais empregos diretos e indiretos.

 

O senhor disse que não há qualquer processo aberto contra a sua gestão, mas o seu chefe de Gabinete, Edmilson de Oliveira Lima, foi condenado por desvio de recursos da agricultura familiar. Como é que o senhor agiu nesse episódio?

Ele tinha uma entidade aonde, segundo a Justiça, não foi prestado conta devidamente. Nós aguardamos a Justiça fazer o devido julgamento. Quem sou eu para julgar ele ou qualquer outra pessoa? A justiça é que tem que julgar. E se ele estiver errado, que seja responsabilizado. Cada um é responsável pelos seus próprios atos.

 

Mas ele continua na gestão, mesmo depois de condenado. Isso não depõe contra a sua imagem?

Continua. Ele foi meu chefe de gabinete durante cinco anos e continua com a atual prefeita. Na nossa gestão, não houve nenhum desvio de conduta, nem abertura de inquérito contra ele. Se ele cometeu erro ou se é inocente, cabe à justiça decidir. A gente não pode fazer um pré-julgamento. Agora, eu tive a oportunidade de conhecer os autos. Provavelmente, até o final do ano esse processo vai ser extinguido.

Então o senhor advoga que ele é inocente?

Não. Deixa a justiça dizer se é ou não. Não posso dizer que ele é inocente, nem posso dizer que é culpado. Eu acho que esse papel é da justiça, não é meu e nem de nenhum outro cidadão. O que nós podemos é dar nossa opinião quanto ao fato, nós temos esse direito e na minha opinião é que a justiça diga quem está errado ou certo, e se tiver errado seja punido, pague pelos seus erros. Mas, quanto aos cinco anos que ele passou ao meu lado, trabalhando juntos, tenho ele como uma pessoa de ótimo caráter, corretíssimo comigo. É um parceiro político, muito bom articulador e pessoa de confiança. Agora, que a Justiça faça o seu julgamento.

 

O senhor vem de duas vitórias maiúsculas em Maxaranguape, mas está saindo de um município pequeno, de menos de nove mil eleitores, para tentar se eleger deputado estadual. Como o senhor está construindo esse projeto para ser vitorioso?

Nós estamos na estrada desde março do ano passado. Eu acredito que só existe sucesso com dedicação e trabalho. Sucesso está ligado diretamente a quem trabalha, a quem se dedica. Hoje nós já temos parceiros em quase setenta municípios, onde estamos levando nossas ideias, nossos projetos, dialogando com lideranças, conhecendo as necessidades de cada cidade, conhecendo as suas peculiaridades e fechando parcerias. Graças a Deus a gente vem numa crescente muito boa porque eu tenho aquilo que é fundamental na política, o compromisso. Sou um homem de palavra, limpo e tenho projetos importantes para o Rio Grande do Norte. Estamos confiantes em razão do retorno positivo que temos recebido, por isso, acreditamos que seremos um dos 24 deputados estaduais eleitos, mas essa consagração só as urnas podem confirmar.

O senhor saiu do PSDB para o Solidariedade. Essa mudança leva em conta a concorrência dentro do PSDB e, digamos, uma possibilidade maior de eleição que o Solidariedade pode oferecer?

Exatamente. A mudança leva em conta uma possibilidade de vitória, claro. Eu fui eleito pela primeira em 2016 pelo PSD e em 2020 fui reeleito pelo PSDB. Fui para o PSDB porque tinha uma grande proximidade com Rogério Marinho (na época presidente estadual do PSDB, hoje ministro do Desenvolvimento Regional). Eu fiz amizade através do Rogério com o atual presidente do partido, deputado Ezequiel Ferreira. Mas, também, sempre tive amizade muito grande com Emilson Medeiros, que é o coordenador do deputado Kelps Lima (líder do Solidariedade no RN), e eles já tinham me convidado para ser candidato a deputado estadual desde 2018. Decidi não ir naquele momento porque eu ainda não tinha cumprido a minha missão com Maxaranguape. Eu dei a palavra em cima do palanque, eu tenho que cumprir essa missão para depois passar para outra fase. Naquela época, em 2018, já diziam que eu tinha o cavalo selado para ser deputado estadual, mas como eu dei a palavra à população de reerguer a cidade que estava afundada administrativamente, continuei prefeito e cumpri o meu dever. Nós criamos uma bandeira, um projeto, para que nos credenciasse a um crescimento que é esse salto pra deputado estadual. E provamos para as pessoas que com muito trabalho é possível fazer diferente. Pegamos uma cidade no caos, tendo a única fonte de recurso no pacto federativo, e hoje Maxaranguape está diferente, saneada, bem administrada. Hoje nós temos uma arrecadação anual de mais de três milhões de reais. Estamos fazendo a execução para recuperar mais de trinta milhões de reais de impostos perdido. E olhe que nós saímos de uma crise econômica mundial, de uma crise de saúde pública sem precedentes.

 

No início da entrevista o senhor falou que passou esses sessenta meses na Prefeitura de Maxaranguape e não nomeou um só parente, nem de segundo nem de terceiro grau. Evidentemente que o senhor faz um trabalho muito forte contra as oligarquias, mas o seu partido tem como pré-candidato a governador o Brenno Queiroga, que representa uma das antigas oligarquias da região do Alto Oeste. Como senhor vai defender essa candidatura?

Eu estou no partido. Eu faço parte do partido. Quando abraça uma causa, você tem que abraçar o ônus e o bônus, mas não quer dizer que eu conviva com tudo. A minhas opiniões são sempre expostas de forma muita clara. Eu acho o Brenno Queiroga um cara competente, inclusive ele trabalhou comigo em Maxaranguape, cuidando dos convênios que a gente tinha com o Governo Federal e os convênios que nós herdamos das outras gestões que estavam perdidos e nós recuperamos e colocamos as obras na rua.

Mas, o senhor não acha que há uma incoerência ser contra as oligarquias e pedir voto pra um representante de oligarquias?

De certa forma sim, é conflitante, mas na política você tem que conviver com os diferentes. Mas, em relação ao Brenno, ele foi prefeito na cidade dele (Olho d’Água do Borges) e saiu bem avaliado, inclusive foi candidato a governador em 2018 e o partido colocou o seu nome outra vez como pré-candidato a governador.

 

O senhor não acha que há um engano sobre a boa avaliação de Brenno Queiroga em Olho d’Água do Borges? Ele foi rejeitado pelo eleitor quando concorreu à reeleição, sendo derrotado...

Olha, ele é pré-candidato do partido e eu sou uma pessoa de opinião dentro do partido. Obviamente que minha opinião é relevante. Entendo que pela carência de candidatos da oposição ao atual governo do estado, o Solidariedade lançou a pré-candidatura de Brenno. A gente vai analisar sobre essa decisão. Se a pré-candidatura dele não apresentar crescimento, não teremos problemas nenhum de apoiar outro candidato. Vamos discutir isso dentro do partido, inclusive, essas questões familiares. Eu vou expor a minha opinião que sou contra você empregar parentes dentro da administração pública. Sou totalmente contra beneficiar parentes, sou contra oligarquias. Disse isso em Maxaranguape e comprovei em cinco anos de gestão sem nomear um só parente. Aliás, eu não tenho nenhum filho, nem esposa, com indicação no estado, até porque eu sou o único político lá de casa. A minha família trabalha nas nossas empresas, somos do ramo do turismo há mais trinta anos e nós temos empresa em Maxaranguape, Maracajaú, que é um distrito, há mais de vinte anos. Portanto, eu sou o político e a minha família cuida das empresas.

 

Mas, o senhor vai apoiar ou não uma candidatura de um representante de oligarquias?

Essa é uma decisão do partido. Como eu já lhe disse, a minha opinião é importante dentro do partido e me sinto à vontade para falar das coisas que eu não concordo. No momento oportuno eu vou expor a minha opinião. Agora, eu não posso deixar de dizer que acho o Brenno um cara muito competente, preparadíssimo, mas também acho que ninguém é perfeito, principalmente na política. O Brenno perdeu a reeleição porque ele fez uma campanha sem gastar dez centavos, ele queria ser eleito com o mérito do trabalho. Eu consegui isso em Maxaranguape. Em 2020, como já disse, não fiz visita porta a porta e consegui ser reeleito. Mérito do nosso trabalho na primeira gestão.

O senhor disse que Brenno não foi reeleito porque não gastou dez centavos, e quando ele foi eleito ele ganhou gastando?

Acredito que não.

 

Quer dizer que quando ganha eleição não gasta, quando perde é porque o adversário gasta?

Você sabe que na reeleição existem algumas rejeições. É natural de quem está na gestão pública desagrade algumas pessoas, principalmente quando você toma atitudes impopulares. Nós sabemos que em Olho d’Água do Borges é sempre a família de Brenno que ganha, ou é uma tia, um primo. Hoje, salvo engano, a prefeita é prima dele. Foi quem ganhou dele na eleição.

 

Uma das bandeiras que senhor defende é a do municipalismo, a exemplo de outros ex-prefeitos que fizeram campanha com a pauta, mas quando foram eleitos mudaram o discurso. O que pode garantir que o senhor será diferente?

Primeiro, eu sou um homem de palavra, de compromisso, quem me conhece sabe disso. Segundo, não falo nem prometo aquilo que eu não posso cumprir. Costumo brincar dizendo que eu só prometo o pássaro na gaiola, não prometo o pássaro voando. Trabalhamos muito como municipalista, como prefeito municipalista agora. Nós fomos várias vezes a Brasília e tivemos vários resultados positivos junto à Confederação Nacional dos Municípios, apoiando a nossa Femurn (Federação dos Municípios do RN), inclusive eu cheguei a ser o segundo vice-presidente, depois vice-presidente, sempre trabalhando a pauta do municipalismo. Nós pensamos na coletividade para o crescimento, portanto, não tenha dúvida que eu vou ser um dos maiores representantes municipalistas do estado e um dos maiores incentivadores do turismo no Rio Grande do Norte, que será bandeira de luta na Assembleia Legislativa, se eleito, claro.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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