Terça-Feira, 19 de novembro de 2024

Postado às 07h45 | 09 Abr 2023 | Pablo Aires: ‘Mossoró viverá o risco de instabilidade financeira pública’

Crédito da foto: Jornal de Fato Vereador Pablo Aires no Cafezinho com César Santos

O vereador Pablo Ares (PSB) desponta como um nome viável para disputar a Prefeitura de Mossoró em 2024. A sua atuação na Câmara Municipal em defesa de pautas que, historicamente, não são visitadas pela política tradicional, o colocou em posição de destaque.

Pablo tem sido a voz mais forte em defesa da causa animal, do público LGBTQIA+, das famílias que estão em situação de rua e de pessoas que sofrem sem ter acesso às politicas públicas. Essa posição de destaque, porém, ainda não o convenceu de disputar a Prefeitura de Mossoró nas próximas eleições.

“Hoje, eu não me sinto candidato a prefeito”, afirma, nesta entrevista ao Cafezinho com César Santos. Pablo fala com preocupação sobre o pedido de empréstimo feito pela gestão municipal, que pode comprometer as contas públicas; da luta para levar água de beber às pessoas em situação de rua; e de como a oposição atua para enfrentar o poderio governista. Leia:

A Prefeitura de Mossoró pediu empréstimo de R$ 200 milhões à Caixa Econômica com juros de 135,27%, o que fará o município pagar mais de R$ 185 milhões só de juros. Como o seu mandato observa essa operação de crédito?

Eu vejo com muita preocupação. Entendo que a cidade precisa de novos investimentos, mas o município ficará com um grande endividamento nos próximos anos, comprometendo boa parte do seu dinheiro para pagar esses empréstimos. Hoje, Mossoró já paga o empréstimo do Finisa que se somará a esse novo empréstimo da Caixa, que só de juros o município deve pagar R$ 185 milhões. A Prefeitura, que diz não ter condições de pagar o Piso dos Professores, segue fazendo dívidas com juros altíssimos nos bancos com os empréstimos. E vale lembrar que essa dívida aos bancos deve aumentar, já que a Prefeitura fará outras tomadas de empréstimo.

 

O valor global que o município terá que pagar é de mais de R$ 385 milhões, quase o dobro do dinheiro que receberá emprestado. Se a gestão do prefeito Allyson Bezerra assinar esse pedido de empréstimo, quais as consequências que o senhor espera acontecer?

A lei que autoriza o empréstimo no valor de R$ 500 milhões feito pela Prefeitura colocou como garantia os impostos do município e até transferências obrigatórias constitucionais, o que gera um grande risco. Isso quer dizer que se em algum momento a Prefeitura não conseguir pagar o empréstimo, o município deixará de ofertar serviços básicos, gerando atraso nos salários dos servidores, falta de medicamentos nas unidades de saúde, desfalque na alimentação escolar, além de outros problemas gerados à população. A cidade viverá nos próximos anos com o risco de instabilidade financeira pública.

O pedido de empréstimo bate de frente com o fato de a gestão municipal alegar que não implanta o novo piso salarial dos professores porque não tem orçamento suficiente para arcar com o impacto financeiro. Essa é uma questão de prioridade?

Sim, mais uma contradição. A Prefeitura não está dando prioridade à educação quando se nega a pagar o piso dos professores. Desde a criação do piso, todos os Prefeitos cumpriram essa lei e agora é a primeira vez em Mossoró que a Prefeitura se nega e ainda tenta criar uma narrativa dizendo que já paga e colocando a população contra os professores, sendo que não é uma verdade.

 

Aliados da gestão municipal criticam que o senhor não defende os educadores do estado, que estão em greve, como defende os grevistas do município. Como o mandato do senhor está atuando em relação à greve dos professores?

O pagamento do Piso é Lei. Tanto o Governo do Estado quanto a Prefeitura devem cumprir a lei e pagar o Piso da educação. Já falei sobre isso em entrevistas e nas minhas redes sociais, cobrei do Prefeito de Mossoró e cobrei da Governadora do Estado do RN. A educação parou, as escolas municipais e estaduais de Mossoró estão vazias novamente depois de 2 anos de pandemia, e a culpa não é dos professores. Agora a minha atuação enquanto vereador exige de mim uma fiscalização sobre a gestão municipal, mas reafirmo o meu posicionamento e a minha cobrança também ao governo do estado.

A greve dos professores, ao mesmo tempo em que o Ministério Público Estadual denuncia negligência da gestão municipal com a educação de alunos, desclassifica o programa Mossoró Cidade Educação?

Sim, como Mossoró é a Cidade Educação se os alunos não conseguem se matricular nas escolas e os professores estão em greve? Olha só, enquanto a gente era bombardeado por todos os canais de imprensa e redes sociais, com a publicidade feita pela gestão municipal sobre o programa Mossoró Cidade Educação, o nosso gabinete recebia diariamente pais e mães desesperados que não conseguiam matricular seus filhos, isso lá em janeiro durante o período de matrículas. Inclusive, na ação do Ministério Público está anexado um documento do nosso gabinete fazendo essa denúncia. Enquanto os professores buscavam diálogo com a Prefeitura sobre o cumprimento do Piso da Educação, todos foram surpreendidos com uma fake news onde a Prefeitura afirmava que já pagava acima do piso. Uma publicidade absurda financiada com o dinheiro público. Infelizmente até aqui, só vejo a Prefeitura tratando o programa Mossoró Cidade Educação como um produto que vende na mídia, mas que não chega para os alunos e professores.

 

O senhor apresentou projeto, com pedido de urgência, para levar água de beber para as pessoas em situação de rua. Como o projeto foi recebido na Câmara e de que forma ele deve ser desenvolvido?

O nosso projeto de lei prevê a instalação de bebedouros públicos com água potável em alguns pontos da cidade. Esse é um programa que já acontece em outros munícipios e é viável de acontecer aqui também. Porém, na Câmara Municipal, a sede de pessoas em situação de rua em Mossoró, infelizmente, não foi vista como um assunto urgente e o nosso requerimento foi rejeitado. Agora me responda: se água potável para matar a sede de pessoas vulneráveis não é urgência, o que mais será? O projeto nasceu em conversa com algumas pessoas que vivem nas ruas, ali na praça em frente à catedral. Elas falaram que são frequente as ações de pessoas com entrega de comida, principalmente à noite, porém a água para beber durante todo o resto do dia é o mais difícil. O meu compromisso é que não vamos desistir. E enquanto vereador e presidente da Frente Parlamentar de combate à fome e desigualdade social, iremos continuar o debate e buscar soluções rápidas para que o mínimo seja oferecido. Enquanto isso, o nosso projeto segue a tramitação pelas comissões temáticas da Câmara Municipal.

O senhor quer dizer que as políticas públicas da gestão municipal não estão chegando à ponta onde se encontram as pessoas mais necessitadas?

Infelizmente, as políticas públicas não estão chegando aos que mais precisam. A própria população pode ver o aumento de pessoas nos sinais e dormindo nas ruas pedindo o básico que é comida e água. Na educação também não é diferente, o relatório do Ministério Público sobre a denúncia de negligência da Prefeitura no ensino municipal, duramente fala sobre a “metodologia de exclusão” e aponta que os alunos que não conseguiram vagas nas escolas municipais são de famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social.

 

A oposição na Câmara dá sinais de fadiga, com alguns membros visivelmente, digamos, acomodados. Qual avaliação o senhor faz da bancada? Há um enfraquecimento?

Olhe, as nossas fiscalizações e opiniões às vezes são engolidas por um marketing pensado para pintar uma cidade perfeita e isso pode parecer em alguns momentos enfraquecimento. Alguns amigos me falavam que era impossível lutar contra a máquina da Prefeitura e até hoje minha resposta para essa afirmação é a mesma. Enquanto vereador, continuarei realizando a minha função de fiscalizar a gestão municipal e mostrar no parlamento e nas redes sociais a verdade. Quero conversar com as pessoas que querem saber a verdade e construir uma cidade melhor para as próximas gerações, então se o meu trabalho chegar até essas pessoas eu estarei certo de que meu dever está sendo cumprido.

O senhor acredita que a oposição terá capacidade de construir uma chapa forte para disputar a Prefeitura de Mossoró em 2024?

Tem alguns nomes com um bom trabalho já realizado e que mostraram força nas eleições do ano passado, onde o Prefeito com toda a máquina não conseguiu êxito. Mas até 2024 muita coisa ainda pode acontecer, os partidos estão conversando sobre a formação de novas federações, então alguns nomes podem nascer ou saírem mais fortalecidos com essas mudanças.

 

O senhor pode colocar o seu nome à sucessão do prefeito Allyson Bezerra?

Olha, hoje eu não vejo o meu nome como candidato a Prefeito em 2024. 

 

O senhor preside o PSB de Mossoró, mas o partido parece sem quadros para formação de nominata à Câmara Municipal. Como o senhor vai solucionar essa questão? Há possibilidade de mudança de partido?

O PSB é um dos partidos que está discutindo a formação de uma nova federação com outros partidos, então por enquanto estou aguardando o avanço desse diálogo para que possamos entender como será o cenário de 2024.

Tags:

Pablo Aires
vereador
política
entrevista
Jornal de Fato

voltar

AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

COTAÇÃO