Terça-Feira, 19 de novembro de 2024

Postado às 08h00 | 16 Abr 2023 | Luiz Eduardo: ‘O prefeito foi deselegante com a sociedade e a padroeira de Mossoró’

Crédito da foto: Jornal de Fato Deputado estadual Luiz Eduardo no Cafezinho com César Santos

“Ele foi, no mínimo, delegante.” A afirmação é do deputado estadual Luiz Eduardo (Solidariedade) reagindo à ausência do prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade) na audiência pública que debateu o projeto de construção do Santuário de Santa Luzia.

Para o parlamentar, o chefe do Executivo não deveria ter ignorado um evento de grande importância, que contou com lideranças políticas, empresarias, Igreja Católica e tantos outros segmentos que assumiram compromisso com a causa.

“Ele despeitou a sociedade como um todo”, critica nesta entrevista ao Cafezinho com César Santos, gravada na tarde de sexta-feira, 14, na sede do Jornal de Fato. Como defensor do turismo, segmento econômico no qual tem origem, Luiz Eduardo acredita na viabilidade do complexo turístico religioso de Mossoró e se coloca entre os incentivadores e batalhadores pela construção do santuário.

Leia a entrevista.

O senhor se inseriu na luta pela construção do Santuário de Santa Luzia e teve participação ativa na audiência pública que debateu o projeto. Qual é a impressão que o senhor tem em relação à proposta de dotar Mossoró de um complexo turístico religioso?

Quando se fala de turismo eu tenho um olhar bem diferente em relação à boa parcela das pessoas, porque na maioria das vezes só se usa o turismo como plataforma eleitoreira. Eu posso falar e fazer diferente, porque venho da atividade empresarial no setor do turismo. Sempre fomentei o turismo, sempre participei das promoções e das divulgações do destino turístico Rio Grande do Norte, seja nacionalmente ou internacionalmente. Então, eu não tenho dúvida que o turismo muda a vida das pessoas, resolve a vida de muita gente com emprego, renda e dignidade. Eu faço parte disso, eu cresci na vida, tive sucesso como empresário, pude educar melhor meus filhos, sempre trabalhando e investindo nesse importante setor da nossa cadeia econômica. Faço questão de sempre afirmar, com muita convicção, que o turismo é o setor mais importante do nosso estado, é a indústria que não polui e a maior geradora de emprego e renda. Portanto, é importante o trabalho que o presidente da Câmara de Mossoró, Lawrence Amorim, está fazendo agora. Acreditamos na proposta que teve o ponto de partida nesta audiência pública da qual participamos representando a Assembleia Legislativa. O Santuário de Santa Luzia é um projeto viável, diria de grande importância para a economia local e regional e, com certeza, essa é a luta viável e possível de ser concretizada. O complexo religioso será um salto muito importante para fomentar o turismo de Mossoró.

O senhor defendeu na audiência a tese de que os complexos religiosos estão mudando a vida das pessoas por meio da atividade turística. É a visão do empresário que aponta para essa possibilidade econômica?

Não é só a visão do empresário ou do político. São fatos, experiências exitosas concretas, por exemplo, o que acontece com a cidade de Santa Cruz, na região Trairi, com o Santuário de Santa Rita de Cássia. Antes do santuário, Santa Cruz contava com menos de 100 leitos na sua rede hoteleira, hoje são mais de 700 leitos. A cadeia econômica se fortaleceu naquela cidade com mais restaurantes, bares, estabelecimentos comerciais de pequeno, médio e grande porte. Temos outros bons exemplos como o Padre Cícero em Juazeiro do Norte, o Santuário de Nossa Senhora de Fátima e tantos outros.

 

Estamos falando de uma obra que demandará grande volume de recursos, então, qual é o caminho para viabilizar a construção do Santuário de Santa Luzia?

Primeiro, é preciso afirmar que todos nós temos que acreditar no projeto. Estou falando da classe política, empresarial, da Igreja e de tantos outros segmentos. Precisamos acreditar que o santuário trará benefícios para a economia, a infraestrutura e a vida da população de Mossoró. Só por isso, temos a convicção que vai dar certo. Vejo que esse projeto não tem um viés político-partidário, não é de governo, não é de oposição, não tem um dono, porque se trata de um desejo coletivo. É um projeto que pertence ao povo de Mossoró. Então, todos precisam ter sensibilidade para fazer acontecer. Acredito que, a partir desse sentimento, todos se unirão em busca dos recursos para viabilizar a construção do Santuário de Santa Luzia. Na audiência que participamos, a classe política presente assumiu compromissos e acredito que todos irão cumprir, inclusive, a bancada federal vai garantir meios para a elaboração do projeto, por meio da chamada “emenda pix”, que viabiliza a liberação dos recursos.

Em ocasião passada, outros personagens da política fizeram a mesma promessa e o Santuário de Santa Luzia serviu apenas para discurso e palanque eleitoral. O que faz acreditar que agora será diferente?

É verdade que muitos gostam de discursar. No setor do turismo, a gente vê isso com muita frequência. Muitos reclamam, mas poucos atuam. Por exemplo, muitos pedem a interiorização do turismo, mas a gente não vê a aproximação dos gestores municipais com a Secretaria do Turismo do estado, com o trade turístico e com outros órgãos que fomentam essa cadeia econômica. A Emproturn, que é a empresa de promoção do turismo, está no mesmo local, o calendário do turismo é feito todos os anos, colocado à disposição de todos, mas poucos aparecem. É aquela velha história, quem quer vai atrás, quem não quer fica parado. Então, se o secretário do turismo não fizer o dever de casa, nada vai acontecer. Falo assim com muita tranquilidade porque sou um deputado que faço oposição saudável, criticando o que tem que ser criticado e apoiando o que deve ser apoiado. Não faço política para mim ou para minha família; faço política pensando na coletividade. Só para citar exemplo, eu fui o único prefeito do Brasil (em Maxaranguape) que nunca nomeou um parente para cargo público. Mas, voltando ao projeto do Santuário de Santa Luzia, quero acreditar na união de todos para fazer acontecer. Penso que o projeto será viabilizado e que Mossoró terá o santuário de sua padroeira.

 

De que forma o mandato do senhor pode colaborar com esse projeto?

Antes, quero parabenizar Lawrence Amorim pela excelente proposição e a sensibilidade de convidar toda a classe política, independentemente de cores ou ideologias, para fazer parte dessa importante luta. Ele é um político de sensibilidade, um excelente anfitrião. Veja que Lawrence conseguiu reunir na audiência pública sete deputados estaduais, um federal, representantes de senadores, do Governo do Estado, universidades, lideranças empresariais e da Igreja Católica. A sociedade estava presente, o que deu a dimensão da importância do Santuário de Santa Luzia. O presidente da Câmara de Mossoró é um municipalista nato, está de parabéns, e digo mais, tem gente que deveria prestar mais atenção nele, ser mais humildade e aprender com Lawrence Amorim. Quero afirmar, aqui, que o nosso mandato está comprometido com a construção do Santuário de Santa Luzia, isso pode ter certeza. Vamos ajudar dentro das nossas possibilidades. Sabemos da importância de Mossoró, que é a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, e do papel que ela cumpre como líder regional. Então, creio que a nossa experiência no segmento do turismo pode ser importante na luta pela construção do santuário, e nós nos colocamos à disposição.

O seu mandato vai direcionar emendas para a o Santuário de Santa Luzia?

As emendas de 2023 foram indicadas pelos deputados da legislatura passada, mas, com certeza, indicaremos emenda para o próximo orçamento do estado. No entanto, é importante ressaltar que cada deputado estadual tem direito a apenas três milhões e meio de reais de emendas individuais, o que é muito pouco para atender aos municípios. Se nós colocamos 100 mil reais para cada município, nós só vamos alcançar 35 das 167 cidades do estado. É muito pouco. Mesmo assim, nós vamos priorizar os projetos mais importantes e o Santuário de Santa Luzia está entre as nossas prioridades. É bom lembrar que o RN tem hoje uma situação favorável, porque é administrado pelo partido, o PT, que governa o país. A deputada Isolda Dantas, que representa Mossoró, pode pedir à governadora Fatima Bezerra e ao presidente Lula para apoiarem a luta dos mossoroenses pela construção do santuário.

 

O senhor destacou que Lawrence Amorim é um municipalista, sabe fazer política, entre outras referências, e ressaltou que tem gente que precisa observar ele com mais humildade. Foi um recado para o prefeito Allyson Bezerra?

Pode ser, poder ser.

 

Por quê?

Politica se faz com humildade, política se faz dialogando. Você não faz política sozinho, você não se elege sozinho. É preciso conversar com a sociedade, respeitar os correligionários, ter simplicidade e humildade. Isso não é uma coisa que se conquista, isso vem do caráter, da índole das pessoas. É importante que o político tenha humildade, converse com as pessoas para juntar forças para o bem coletivo. É isso que eu penso. O Lawrence é competente, inteligente, tem uma visão importante do coletivo, tanto que iniciou a luta pelo Santuário de Santa Luzia, convocou a todos para esta audiência pública, e isso pode ser um ponto de partida para conquistas futuras.

O fato de o prefeito Allyson não ter comparecido à audiência, ignorado as lideranças políticas presentes e a importância do debate em torno do santuário, representa um pouco da crítica que o senhor está fazendo?

Acho que o prefeito foi deselegante com o presidente da Câmara, com o Legislativo e com a sociedade que esteve representada na audiência. O parlamento é a casa do povo, é nela onde o povo está representado e se manifesta. Quando o gestor público se afasta do parlamento, ele está se afastando do povo. O político precisa ter um comportamento republicano, principalmente aquele que está no exercício de mandatos conferido pelo povo. O Santuário de Santa Luzia é um projeto de todos os mossoroenses, não é uma coisa individual do presidente da Câmara. Acho que o prefeito errou ao não comparecer ao debate, ele poderia ao menos ter passado na Câmara para cumprimentar as autoridades que ali estavam. Veja que nós saímos de Natal às 5 horas da manhã para chegarmos na hora marcada da audiência, respeitando a importância que é a construção do Santuário de Santa Luzia, enquanto o prefeito, que mora na cidade, estava na cidade, não compareceu à audiência. Então, repito, o prefeito foi delegante com a Câmara, com os convidados, com a padroeira da cidade e com a sociedade em geral.

 

O senhor disse que faz oposição saudável na Assembleia Legislativa. O que é uma oposição saudável?

É a oposição que critica o governo quando deve ser criticado, mas apoia quando deve ser apoiado. O político com mandato tem que ter essa responsabilidade. Quero dizer que o meu mandato segue exatamente a proposta que apresentei durante a campanha eleitoral. Não temos duas caras, duas versões. Eu vou servir à cadeia produtiva mais importante do estado, capaz de mudar a vida das pessoas, que é o turismo. Essa é a minha principal bandeira de luta. Eu tenho certeza que através do turismo podemos melhorar a vida dos potiguares, garantindo emprego, renda e dignidade. O trabalhador não se incomoda de dormir cansado, extenuado, ele vai dormir satisfeito sabendo que o final do mês terá o dinheiro para pagar as suas contas, isso é ter dignidade. Sou convicto que a cadeia econômica sustentada pelo turismo pode proporcionar isso. Claro que meu mandato também prioriza outras áreas importantes como segurança, saúde e educação. Fomos eleitos com essa missão e cumpriremos até o último dia.

Quando o senhor fala de priorizar a segurança, também se refere ao momento delicado que estamos atravessando, com a violência, inclusive, dentro das escolas?

É uma das nossas grandes preocupações, inclusive, estamos defendendo uma proposta de colocar portas giratórias em todas as escolas públicas do Rio Grande do Norte. Essas portas, com detectores de metal, podem atenuar os riscos de eventos violentos como os ocorridos recentemente no Brasil. Defendemos, inclusive, que as portas sejam vigiadas por profissionais treinados e com experiência, podendo o governo requisitar policiais da reserva, que têm condições de realizar o serviço. Quero também aqui pontuar que estamos fazendo críticas ao governo pelo grande número de pessoas que estão na fila de espera por cirurgias eletivas e vasculares. O estado tem muita gente na fila de espera para amputar membros e se isso não for feito logo, essas pessoas poderão ter a saúde agravada e até correr risco de morte. São mais de 100 pessoas nessas condições. A governadora, em sua leitura anual, disse que receberia recursos do Governo Federal para zerar as filas por cirurgias, mas até agora não deu uma resposta positiva.

 

Dos 24 deputados estaduais, dez assinaram um decreto legislativo para derrubar o reajuste da alíquota do ICMS de 18% para 20%. Esse é o placar das bancadas governista e oposicionista?

Quero dizer que eu assinei o decreto para derrubar o aumento da alíquota do ICMS. Entendemos que se o governo federal vai recompensar os estados por perdas de arrecadação, o governo não pode transferir essa conta para a população. Veja que a União vai recompensar o RN com mais de 250 milhões de reais. Aliás, é importante lembrar que os municípios, que também sofreram com a queda de arrecadação do ICMS, também deveriam ser recompensados agora. O estado precisa repassar parte dos valores da recompensa às prefeituras de todo o estado. Quanto à formação das bancadas na Assembleia Legislativa, acredito que o placar é o que você citou, 14 deputados do governo contra 10 da oposição. Os comentários, inclusive na imprensa, é que o deputo Neilton Diógenes e Terezinha Maia, que são do PL e foram eleitos pela oposição, transferiram-se para o governo. Parece até que o PL está convidando para elas saírem do partido.

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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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