O palanque que ganha a campanha eleitoral não é o mesmo que governa. Há uma distância entre se eleger e governar. E, em nome da governabilidade, está inserida a atração de adversários. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou o recado para os companheiros de luta e de história tão logo as urnas confirmaram a sua vitória, ao afirmar que não faria um governo para o PT, o seu partido.
A distribuição de cargos, do mais alto ao menor escalão, faz parte do processo. Lula vem trabalhando para construir uma base sólida no Congresso Nacional. Para isso, faz partilha da Esplanada dos Ministérios, entregando as partes de “porteira fechada”, ou seja, transferindo o controle para os partidos contemplados.
Por gravidade, esses partidos vão atendendo as suas bases nos estados com a nomeação de filiados e correligionários. Os indicados nem sempre são parceiros ou amigos do PT de Lula. Pelo contrário, boa parte são adversários históricos, inclusive do próprio presidente da República. Daí, a crise política nos estados por conta da distribuição de cargos.
O Rio Grande do Norte está inserido nesse contexto. Pelo menos duas indicações estão tirando o sono do PT: Getúlio Batista, presidente do PTB estadual, foi indicado para o comando do Dnit no estado; o ex-prefeito de Assú, Ivan Júnior, indicado para a direção da Codevasf no RN. Os dois fizeram campanha contra Lula e não economizaram em acusações radicais, devidamente registradas nas redes sociais e na imprensa convencional.
Getúlio foi indicado pelo presidente estadual do MDB, Walter Alves, com aval da direção nacional do partido. Getúlio, na campanha de 2022, potencializou propaganda radical que dizia: “Cuidado, temos um ladrão visitando Natal”, em referência ao então candidato Lula. O fato de Walter ser vice-governador e parceiro político da governadora Fátima Bezerra (PT) atenua o desgaste da indicação de Getúlio Batista, mas não acalma os petistas potiguares.
O deputado federal Fernando Mineiro (PT) chegou a comentar que os políticos que apoiaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deveriam não assumir cargos no governo Lula, até por uma questão de coerência.
Já Ivan Júnior, indicado pelo União Brasil, sofre maior rejeição do petista por ter sido candidato a vice-governador na chapa do candidato a governador bolsonarista Fábio Dantas. O secretário-chefe do Gabinete Civil da governadora Fátima, Raimundo Alves, chegou a considerar “indignidade” de Ivan Júnior se ele aceitar o cargo de comando da Codevasf no Rio Grande do Norte.
A questão é que o cargo pertence ao União Brasil, recém-convertido à base política do presidente Lula, e que não tem qualquer preocupação com questões políticas no RN. O União avisou que as indicações para a Codevasf serão feitas pelo partido, sem interferências.
A Reportagem ouviu Ivan Júnior sobre a polêmica. O ex-prefeito de Assú disse ter estranhado a reação do PT, mas garantiu que não irá responder, até porque, segundo ele, não recebeu convite para assumir cargo no governo federal.
Ivan disse que vai conversar com o presidente do União Brasil no estado, ex-senador José Agripino Maia, para se inteirar sobre o assunto. “Por enquanto, não estou sabendo de nada”, afirmou.
O fato é que até esta segunda-feira, 24, não haviam sido oficializadas as nomeações para os comandos do Dnit e da Codevasf no Rio Grande do Norte. Mas, a fervura dos nomes indicados está em alta temperatura.
Tags:
César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.