Por César Santos – Jornal de Fato
A gestão do prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade) volta a ser chamada para prestar conta com a saúde da população mossoroense. Desta vez, está no centro da polêmica um tomógrafo de última geração, recebido pela Prefeitura de Mossoró há 8 meses e que continua encaixotado, sem servir à população. O tomógrafo foi adquirido com recursos do Ministério da Saúde.
Reportagem do Jornal de Fato, publicada nesta quarta-feira, 26, mostrou o importante aparelho estocado no almoxarifado do município. No mesmo local, também em caixa, está um raio-X móvel. A imagem foi registrada pelo vereador Paulo Igo (Solidariedade), após ele receber denúncia de pessoas que estão na fila de espera por um exame de alta complexidade e que precisam do tomógrafo em funcionamento para resolver o problema de saúde.
O caso é grave. A gestão municipal recebeu o tomógrafo no dia 15 de agosto de 2022. Na oportunidade, a mídia oficial fez propaganda na página eletrônica da Prefeituras e nas redes sociais. Fotos, vídeos e entrevistas enalteceram o “feito” e afirmaram que o equipamento estaria à disposição da saúde dos mossoroenses.
Houve empolgação e a renovação de esperança das pessoas que dependem das políticas públicas para terem acessos a exames feitos pelo aparelho como de tórax, hérnia de disco, joelho, ombro, entre tantos outros solicitados pelos médicos.
Após a denúncia estampada na capa do Jornal de Fato, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura se manifestou por meio de nota, enviada ao jornalista Vonúvio Praxedes, do sistema TCM. A nota oficial diz:
“A Prefeitura de Mossoró informa que a sala onde funcionará o tomógrafo no PAM do Bom Jardim passa por adaptações em sua estrutura e está em processo de finalização para que possa receber o equipamento adequadamente. Dessa forma, a previsão é que o tomógrafo seja montado no mês de maio.”
É exatamente a demora para concluir a obra no Centro Clínico Professor Vingt-un Rosado, conhecido como “PAM do Bom Jardim”, que reside o desleixo da gestão municipal. O vereador Paulo Igo levou o caso para o plenário da Câmara Municipal. Na sessão desta quarta-feira, ele apontou o descaso. Ele cobrou da Prefeitura explicações sobre a demora da reforma do PAM do Bom Jardim.
“É absurdo que uma obra se arraste há tanto tempo, sem explicação, e penalize tanta gente que precisa do tomógrafo”, disse o vereador.
Igo afirmou que visitou o PAM do Bom Jardim para verificar o andamento da obra. “Estranhamos a baixa movimentação de pessoas, apenas dois operários trabalhando, a reforma já dura oito meses, e a placa da obra informa a entrega em oito meses”, afirmou.
O vereador disse ainda que na sala onde será instalado o tomógrafo, há indícios de inadequações, como portas pequenas e falta de acessibilidade. “Como não encontrei o tomógrafo no PAM, fui ao almoxarifado da Prefeitura e encontrei lá o tomógrafo, encaixotado, e também um aparelho de raio-X móvel. Poderiam estar servindo à população”, criticou.
“Será que em oito meses não haveria condição de preparar uma sala para receber o tomógrafo? Gostaríamos de uma posição da Secretaria Municipal de Saúde sobre a demora da reforma do PAM do Bom Jardim”, reforçou.
Caos na saúde havia sido tema de reportagem do Jornal de Fato em março
Em março deste ano, uma reportagem do Jornal de Fato já havia denunciado o cenário de abandono da saúde pública municipal de Mossoró. Mostrou, para comprovar as péssimas condições da Unidade Básica de Saúde (UBS) Maria Ferreira, localizada na localidade rural da Barrinha, distante apenas 11 quilômetros do perímetro urbano de Mossoró.
Casa velha, material encalhado, entulhos, mato tomando de conta e galinhas soltas no quintal. Não fosse o letreiro na parede, ninguém conseguiria identificar que ali funciona uma unidade de saúde pública. O caso é grave e afeta diretamente os cerca de 1.800 moradores da Barrinha.
Um vídeo circulou nas redes sociais, como forma de denúncia e, também, de pedido de socorro às autoridades públicas, mostrando um médico atendendo paciente na sombra de uma árvore no quintal da UBS. É possível ver galinhas no local, dividindo espaços.
O profissional decidiu ir para a área aberta porque a velha estrutura do prédio está comprometida, e não oferece condições mínimas de funcionamento e de segurança. Inclusive, o sistema de ar condicionado não funciona, impossibilitando o uso da sala de atendimento em razão do forte calor.
Os moradores, que protestaram contra o descaso, afirmaram que falta de tudo na UBS. Eles denunciaram que até um dentista lotado na unidade está impedido de atender as pessoas porque não tem material para usar nos procedimentos. A situação só não está pior porque a Secretaria Municipal de Saúde, quando soube da realização dos protestos, enviou caixas de medicamentos, como forma de amenizar o cenário.
A moradora Larisse Alves de Menezes Silva atestou, na reportagem, que a falta de medicamentos é constante, inclusive, ela fez uma lista de remédios que não são encontrados na UBS. O documento foi entregue ao vereador Paulo Igo, que naquele momento visitou a comunidade para constatar a situação in loco. “Realmente, é muito grave o que está acontecendo na Barrinha, pude ver de perto o caos instalado no local”, afirmou.
Paulo Igo atestou que o caos na saúde é visto em outras Unidades Básicas de Saúde de Mossoró. As reclamações surgem todos os dias, apontando principalmente falta de medicamentos e de materiais. As pessoas atendidas pelos profissionais das UBSs são avisadas que precisam comprar os remédios e materiais. Os relatos são feitos todos os dias em todas as regiões da cidade e da zona rural.
Médico atende paciente na sombra de uma árvore (cedida)
UBS da Barrinha foi promessa de campanha de Allyson
A reportagem do Jornal de Fato mencionou que a construção da sede própria da UBS Marina Ferreira foi uma promessa de campanha do candidato Allyson Bezerra (Solidariedade). Ele discursou na localidade de Barrinha em 2020, afirmando que tão logo assumisse o mandato, a sua gestão construiria a nova unidade de saúde.
Mas, nada havia feito até o dia da reportagem publicada na edição de 8 de março de 2023. Pelo contrário. A situação se agravou com o avançado estado de deterioração da casa (alugada) onde funciona a UBS. “Na campanha ele esteve aqui, fez críticas à gestão anterior e prometeu que a Barrinha ganharia nova unidade de saúde. Não cumpriu com a palavra e fez pior ao abandonar a comunidade”, critica o vereador Paulo Igo.
Larisse Alves, moradora que fez contato com Paulo Igo, disse que há informação, não oficial, que o prefeito Allyson tencionava transferir os servidores da UBS Marina Ferreira para a UBS da Penitenciária Agrícola Mário Negócio, na comunidade de Riacho Grande. Se isso ocorrer, os moradores da Barrinha teriam que se deslocar para a vizinha localidade, distante 5 quilômetros.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.