Terça-Feira, 19 de novembro de 2024

Postado às 11h15 | 07 Mai 2023 | Paulinho Silva: ‘Todas as lideranças políticas, partidárias e populares são imprescindíveis’

Crédito da foto: Divulgação Professor Paulinho Silva é presidente do comitê municipal do PCdoB

O presidente do comitê municipal do PCdoB, professor Paulinho Silva, ofereceu um fato novo à agenda política-eleitoral de Mossoró ao propor uma frente ampla para governar a cidade e livrar a população do “descaso” da atual gestão municipal. A ideia vai além de uma frente de esquerda e abre portas para a união dos contrários que tenha compromisso com o futuro de Mossoró.

Dessa forma, é possível, inclusive, inserir o rosalbismo, ala política da tradicional família Rosado, no contexto amplo da proposta.

É sobre isso que o professor Paulinho responde ao “Cafezinho com César Santos”. Ele está convicto da possibilidade de a frente ampla acontecer: “O protagonismo não pode ser apenas de um grupo ou liderança; o nosso êxito depende de cada liderança ou agrupamento despertar o sentimento de pertencimento à Frente Ampla, sentir-se parte de um todo.”

Leia-a:

A proposta de uma frente ampla para governar Mossoró, defendida pelo PCdoB, ganha respaldo para um embate eleitoral ou ela vai além da disputa pelo poder municipal?

Primeiro, vamos buscar essa união, a nível local. Neste sentido, a maturidade política é fundamental para alcançarmos esse objetivo. Como são muitas forças políticas, não temos como acomodá-las na chapa majoritária. Daí trabalhar também a questão da proporcional. Vencendo o pleito, as forças que compõem a frente deverão participar da gestão. À medida que vai avançando as discussões e a construção do projeto para a cidade, vai-se superando as dificuldades iniciais e se fortalecendo laços de confiança. Isso poderá levar essa frente até 2026. O importante é combater qualquer prática de exclusivismo. Todas as lideranças políticas, partidárias e populares são imprescindíveis para o êxito da Frente, todos devem se considerar protagonistas. A chave para a vitória da Frente Ampla é a sua unidade.

O senhor tem consciência que a oposição parece anêmica, sem um norte, sem um projeto para sugerir à população. A construção de uma frente ampla tem, como primeiro objetivo, tirar a oposição desse marasmo?

Diria dispersa, o que a fragiliza. Daí a nossa iniciativa de oferecer essa contribuição. Consideramos que demos o primeiro grande passo: sentarmos. Agora é acertar com as lideranças os próximos passos. Definir uma agenda, a partir de um planejamento e dialogar com a sociedade.   Pensar ações coordenadas, organizadas. Envolver todos os segmentos organizados da sociedade civil. Esse é o caminho que a oposição deve seguir.

 

Como o PCdoB acredita ser possível protagonizar o processo de união de forças para enfrentar o prefeito Allyson Bezerra nas eleições 2024?

Dialogando e demonstrando que a nossa união é uma necessidade. Parcela da cidade está decepcionada com a atual gestão, por sua inércia e falta de políticas públicas substantivas. Temos que estar juntos na defesa dos interesses da cidade, da população. Temos que mostrar que a oposição tem diálogo aberto tanto com a gestão estadual quanto com a gestão federal. Isso é importante para atrair investimentos, fazer parcerias. Dessa forma, as pessoas passarão a acreditar que é possível construir uma Mossoró diferente e melhor que a atual. O protagonismo não pode ser apenas de um grupo ou liderança; o nosso êxito depende de cada liderança ou agrupamento despertar o sentimento de pertencimento à Frente Ampla, sentir-se parte de um todo.

O senhor afirma que a proposta não é formar uma frente de esquerda, mas, sim, uma frente que possa reunir todos que defendem novo projeto para governar Mossoró, inclusive, membros da tradicional família Rosado. É possível colocar perfis tão diferentes, ideologicamente, na mesma mesa de união política?

Uma Frente de Esquerda não dá conta da tarefa de devolver a cidade ao seu povo. Por isso a proposta de unir todos e todas as lideranças. Na nossa avaliação, nenhuma liderança oposicionista tem força para ser vitoriosa sozinha. Essa verdade levará essas lideranças a compreender que a união é a saída. A família Rosado vive uma crise política, é fato. Isso levará a ressignificar seus projetos futuros. Se forem para uma disputa sozinhos serão derrotados e a esquerda sozinha também não tem forças para tal. Como falara antes, a Frente Ampla é uma necessidade. Devemos contribuir com aquilo que nos une, a defesa de uma cidade para todas as pessoas, sem nenhum tipo de preconceito, uma Mossoró para as mulheres, para a juventude, para os negros e negras, para o empreendedor, produtor urbano e rural, para a comunidade LGBTQI+, para as pessoas especiais, para o meio ambiente e os animais; uma cidade que dialogue e respeite os segmentos organizados, laica e plural. As dificuldades do nosso povo são maiores que nossas divergências, devemos, sim, apostar na Frente Ampla.  Não há, de nossa parte, dificuldade de recepcionar quem se disponha a defender o projeto da Frente.

 

Outras tentativas de construção de frente ampla com proposta de governar Mossoró não vingaram no passado, inclusive com a participação do PCdoB e PT. O que leva a crer que agora a ideia será vitoriosa?

Vivemos outro contexto que ajuda a compreender a necessidade e a importância de uma Frente Ampla. Os últimos anos foram muito caros para o nosso povo. Estivemos à porta de um golpe. A fome e a miséria batendo à porta das famílias brasileiras; todos os tipos de violências, em destaque aquelas direcionadas contra as mulheres, as crianças, os povos originários, os negros e a comunidade LGBTQI+. A democracia e a vida da população sofreram fortes ataques. Foi necessária a formação de uma Frente Ampla para derrubar o retrocesso.

Onde a proposta da frente ampla em Mossoró se insere nesse contexto?

Em Mossoró, assistimos o abandono da cidade. A promoção midiática da gestão do prefeito não consegue mais tornar invisível a falta de condução concreta de geração de empregos, sua política de atendimento às demandas do funcionalismo público, o descuido com a cidade e seu povo.  A cidade clama por melhorias nas unidades de saúde, nos bairros e zona rural. Educadores e profissionais da saúde denunciam as péssimas condições de trabalho nas escolas e nos postos de saúde. A luta dos educadores pelo cumprimento do piso salarial mostrou que o prefeito atual não quer saber de negociação com trabalhadores/as da cidade.  O diálogo com divergentes não faz parte da gestão do prefeito. A ausência de ação de infraestrutura expõe os buracos nas ruas de Mossoró. A cidade pede providências e isso está estampado na mídia, embora a mídia ligada ao palácio da resistência promova o espetáculo em torno de sua gestão. Nesse contexto, sentimos a necessidade também de aproximação entre quem pensa diferente, mas tem a democracia como base de sua existência política. Propaganda, marketing não fazem milagres; enganam um tempo, mas não enganam a vida toda. A tarefa de devolver Mossoró para seu povo é uma tarefa hercúlea, precisamos de todos, todas e todes. O contexto atual é favorável a uma Frente Ampla, a vitória de Lula e de Fátima são dois exemplos recentes.

 

A frente ampla, caso concretizada, vai defender um nome de esquerda para disputar a Prefeitura de Mossoró? A deputada Isolda Dantas, do PT, seria uma opção?

Todos os partidos que comporão a Frente Ampla têm todo o direito e legitimidade para apresentar um nome à mesa, se assim preferir. A escolha pode recair sobre quaisquer dos nomes colocados à disposição. Esse nome deve ter consciência que estará à frente de um projeto coletivo, construído por muitas mãos; deve transmitir confiança e respeito diante dos compromissos assumidos com cada membro da Frente Ampla; governará para todos os segmentos da cidade, daí a importância do diálogo e o respeito à diversidade. O representante da frente deverá ter claro que seus compromissos serão os compromissos da Frente Ampla. Todos os nomes do campo da oposição que participarão da Frente têm com certeza um nome em potencial e "independente de matriz política e ideológica, se a Frente entender que Maria reúne as melhores condições para vencer a disputa, será Maria, mas se entender que é João que reúne essas condições, então será João". Como fazemos parte de uma Federação, junto com o PT e o PV, é muito provável que indiquemos um nome para ser apreciado pela Frente. Hoje, o nome da deputada Isolda Dantas aparece bem nas pesquisas. Isso é importante, mas pode não ser determinante para uma escolha. A Federação tratará dessa escolha com PT e o PV, e se for o caso, apresentará à apreciação da Frente Ampla para o debate.

 

O PCdoB sempre, ou quase sempre, foi coadjuvante do PT em Mossoró. A ideia de coordenar o processo de formação da frente ampla pode ser visto, também, como uma redenção do próprio partido?

O PCdoB tem muito claro o seu papel e a necessidade dessa Frente Ampla, seja coordenando ou contribuindo junto com os demais. Não somos favoráveis ao exclusivismo. O projeto dessa Frente, para seu êxito, tem que ser uma obra coletiva. O importante é que sua direção seja um colegiado, com a presença de todas as agremiações. Estamos para somar e dialogar com todos. A Frente Ampla é uma concepção política vitoriosa do PCdoB, dos comunistas. Foi assim em vários momentos da vida nacional. Foi imprescindível o reconhecimento por outras forças políticas dessa nossa formulação, para a vitória de Lula, por exemplo. Tanto em 2002 quanto em 2022. O nosso evento, com a presença de todas as lideranças ou representantes de expressão do campo oposicionista, foi uma grande contribuição do Partido e a primeira vitória foi o reconhecimento da importância dessa ideia de Frente Ampla para pensarmos a atuação em 2024.

O senhor tem dito, também, que a frente ampla atuará para livrar a população do descaso da atual gestão municipal. Essa é a avaliação que o senhor faz da administração Allyson Bezerra?

O sentimento de abandono, e de que foi enganado, cresce no meio do povo, mesmo com o poderio midiático do prefeito, vendendo uma falsa imagem. O prefeito vive numa bolha, num mundo à parte.  Logo essa bolha vai explodir, o prefeito não conseguirá continuar enganando o povo o tempo todo. A postura preconceituosa e autoritária de seus aliados com setores da imprensa, o tratamento dado às crianças com algum transtorno; o descaso com a causa animal e com a população de rua; o desrespeito com que o prefeito tratou os servidores em greve e o desrespeito com o piso do magistério; a buraqueira que toma conta da cidade; a falta de um projeto de desenvolvimento para o município; o alinhamento cada vez maior do prefeito com o bolsonarismo amplia o seu isolamento político. Sem dúvidas, a Frente Ampla é a melhor opção para a cidade ao descaso da atual gestão com a população.

 

O senhor foi candidato a reitor da Uern e depois a deputado federal nas eleições 2022, com a proposta de colocar em debate demandas poucos visitadas pela política tradicional. O seu nome estará à disposição em 2024? O senhor disputará algum cargo eletivo?

Como militante do PCdoB, temos uma formação política toda voltada para o trabalho coletivo, a organização do nosso povo nas mais diversas frentes. Neste sentido, sempre estaremos à disposição do Partido para cumprir suas tarefas, deliberações.  Hoje, a nossa preocupação maior é com a construção dessa Frente.  O PCdoB tem excelentes nomes. Certamente, estaremos com um bom time para participar da eleição de 2024 à majoritária ou proporcional, podemos citar alguns: Aldeirton Pereira, Albaniza, Gutemberg Dias, Luzia Bessa, Pedro Lúcio, Denise Costa, Edson Gurgel, Nildo da Pedra Branca.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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