O novo líder da bancada de oposição na Câmara de Mossoró, Tony Fernandes, é um nome forte à sucessão municipal do próximo ano. Ele está pronto para a missão, embora não assuma a condição de pré-candidato. No “Cafezinho com César Santos”, gravado na sede do Jornal de Fato, afirma que só tem uma única certeza para as próximas eleições: “Não votarei no prefeito”.
Tony Fernandes não esconde a decepção com Allyson Bezerra, que ele ajudou a eleger em 2020. E cita a falta de respeito do prefeito com os professores para justificar o seu sentimento. “Se eu soubesse que isso ia acontecer, jamais teria subido num palanque para apoiar um candidato que não respeita os professores”, afirma.
Nessa entrevista, Tony Fernandes responde se vai fazer parte da frente ampla sugerida pelo PCdoB, defende um projeto para Mossoró e aponta o caos da atual gestão municipal. Leia:
Com a sua liderança, a oposição ganha um novo rumo a partir de agora?
Nós fomos escolhidos dentro de uma ideia de fortalecimento da oposição. Um dos pontos que chegamos a tratar com todos os membros da oposição é de tentar pacificar a ideia de que a gente precisa não penas fazer as reivindicações, mas também apontar os problemas que afetam a vida das pessoas, além, claro, de apresentar soluções. Eu acho que a oposição para ser construtiva é importante demais que ela possa apontar os problemas, que são muitos no município de Mossoró, mas também soluções. Nós temos essa condição de fazer esse apontamento, até porque o mandato de vereador tem a prerrogativa de analisar todos os orçamentos e destinar essas emendas, realocar recursos para áreas mais necessitadas. E é justamente o que a gente tem feito ou buscado fazer. Muitas vezes, as emendas da oposição chegam a ser derrubadas, sem nenhum critério técnico, mas nós sempre mostramos todos os pontos que a não estão em consonância com o que a gestão atual vem pregando.
Esse é o discurso que a oposição tem para fazer o enfrentamento à gestão do prefeito Allyson Bezerra?
Exatamente. Temos que fazer isso de uma forma equilibrada, com ideias, sem atacar as pessoas. Eu não gosto e não levo o debate para o plano pessoal, para a pessoa do prefeito ou a pessoa da governadora, ou de qualquer gestor público. Eu acho que precisa fazer um debate qualificado, apresentando ideias, causas importantes para a coletividade e também mostrando os problemas vivenciados pela população. Portanto, entendemos que Mossoró precisa mais do que nunca de uma oposição pra apontar as maquiagens apresentadas pelo atual prefeito, e estamos preparados para cumprir essa missão.
A sua liderança vai além da reorganização da oposição? Pode ser dito que o senhor conduzirá um projeto à sucessão municipal de Mossoró?
Olha, o que discutimos com os vereadores da bancada de oposição foi, exclusivamente, a nossa atuação dentro da Câmara Municipal. Nós não temos ideia, nesse momento, de como vai ficar a eleição do próximo ano e não vamos discutir agora sobre a sucessão municipal. Portanto, o futuro político desse grupo não está em debate. Temos discutido sobre o que fazer para melhorar a vida das pessoas. Mas é natural que a oposição chegue a construir um projeto para as próximas eleições, isso vai ocorrer naturalmente.
Mas, alguns nomes, inclusive o do senhor, estão no tabuleiro da sucessão...
Entendemos isso como um processo natural. Mas, dentro da bancada de oposição esse debate não está sendo feito. Ele ainda não aconteceu. Nós não temos discutido nomes, não temos debatido quem vai ser candidato a vereador ou a prefeito e vice-prefeito ou quem vamos apoiar à sucessão municipal. Individualmente, vereadores da oposição têm se movimentado de forma muito natural. No meu caso, entendemos que saímos de uma campanha eleitoral muito desgastante em 2022 (fui candidato a deputado estadual), travamos uma luta intensa, com pouca estrutura, e nós ainda estamos juntando os pedaços para dar uma respirada, vamos assim dizer. A partir daí, vamos pensar melhor, com tranquilidade, o que nós vamos fazer nas eleições do próximo ano.
O PCdoB lançou a ideia de uma frente ampla, com partidos de oposição, para construir um projeto para governar Mossoró. Como o senhor vê essa ideia?
A iniciativa é plausível. No primeiro encontro, reuniu vários partidos e lideranças políticas, como a ex-prefeita Rosalba Ciarlini (PP), o empresário Jorge do Rosário (Avante), representante da deputada Isolda Dantas (PT). Entendemos que a ideia é importante, a partir da proposta de organizar no mesmo ambiente todas as expressões da oposição à atual gestão municipal. Realmente, a gente observa que há uma desarticulação em relação aos grupos políticos e que precisa se organizar melhor. Eu não falo da oposição, muita gente tem confundido a oposição de uma forma geral, e é preciso observar essa diferença. Existe a oposição que funciona na Câmara Municipal, que chamamos de uma oposição administrativa, e existem os grupos e partidos políticos de oposição.
São duas vertentes da oposição que vão ser unificadas para as eleições 2024? Ou essa possibilidade não existe?
Como falei antes, a bancada de oposição na Câmara Municipal não está debatendo sobre as próximas eleições, isso vai acontecer no momento certo e de forma muito natural. O que eu acho é que a oposição política está desorganizada, enquanto a oposição administrativa está funcionando na Câmara. Nós, vereadores de oposição, estamos observando tudo que está acontecendo e estamos levantando todas as discussões possíveis. Agora, a gente não tem o poder de resolver os problemas que a cidade enfrenta, até porque as soluções não dependem do Legislativo, porque essa missão é do Executivo. Nós fiscalizamos, denunciamos, apresentamos sugestões, mas só o gestor municipal pode solucionar os problemas que afetam a vida das pessoas.
Mas, é possível a unificação da oposição para enfrentar as eleições municipais do próximo ano?
Existem vários grupos de oposição, vários partidos que, inclusive, estão representados na Câmara Municipal e que fazem parte da nossa bancada. Entendemos que são grupos heterogêneos, com os seus objetivos e projetos políticos, por isso, não sei se será possível juntar todos no mesmo projeto.
O senhor vai atender a convocação do PCdoB? Vai participar da chamada frente ampla?
Hoje, não temos uma definição. Não participamos do primeiro encontro e o nosso grupo está avaliando como devemos nos posicionar sobre as eleições municipais do próximo ano. Só tem uma coisa que afirmo com certeza, é que eu não vou apoiar o prefeito Allyson. Quanto ao meu futuro político, eu não sei se serei candidato a vereador ou se disputarei eleição majoritária. Não tem definição nesse momento, até porque temos mais de um ano para as próximas eleições. Agora, meu nome está à disposição e nós vamos dialogar com o nosso grupo político, com os segmentos que nós respeitamos muito e com outros grupos que estejam interessados no futuro melhor para Mossoró. Então, voltando à pergunta, não sei nesse momento se nós vamos participar da frente ampla, mas isso não quer dizer que não tenha discutido política. Já conversamos com vários grupos e estamos abertos ao diálogo. Nós não somos um Styvenson (senador Styvenson Valentim) de Mossoró, que não fala com ninguém, não dialoga com ninguém; pelo contrário, estamos abertos ao diálogo, a somar, tanto que fomos escolhidos para liderar a bancada de oposição. Portanto, estamos à disposição para conversar com vários grupos, mas não posso garantir agora que vamos amadurecer a ideia de participar da frente ampla posteriormente.
Então, o senhor admite um projeto político-eleitoral dentro do grupo de oposição sem participação da frente ampla?
Eu acredito que a gente precisa nesse momento focar nos problemas sociais que o povo de Mossoró enfrenta, que são muitos, reconheça-se. São problemas em quase todas as secretarias municipais. A Secretaria de Infraestrutura está com problemas de buracos por toda a cidade e o prefeito Allyson não tem nenhum planejamento para amenizar essa situação. Tem o caos na saúde pública do município, com as UPAs e UBSs não funcionando para oferecer assistência digna à saúde das pessoas. Mossoró tem filas para cirurgias eletivas, filas para exames, filas no Centro Especializado para pessoas com deficiência (CER). Posso afirmar aqui que tem mães que relatam que há mais de um ano tentam que seus filhos possam receber atendimento no CER. Veja que o município vem perdendo milhões de reais porque a Prefeitura não adequou o CER 3 ou CER 4, que é justamente onde vem mais recursos do Governo Federal para fazer os investimentos na saúde de pessoas com deficiência. Quem está dizendo isso é o Ministério da Saúde, por meio de relatórios que mostram que o município está perdendo recursos, e o prefeito nada faz para mudar essa realidade. A minha maior preocupação é levantar essas discussões para a população no sentindo de estabelecer uma linha de confronto ao Instagram do prefeito, onde ele diz que está tudo perfeito, que tudo funciona a contento, quando não é verdade. Enquanto isso, a população sofre, clama e nada acontece. A nossa concentração hoje é fazer esse trabalho, mostrar os problemas e lutar por soluções. Depois daí, no momento certo, discutiremos sobre projeto eleitoral para o próximo ano.
O senhor tem uma definição, um encaminhamento em relação à filiação partidária, já que continua filiado ao mesmo partido do prefeito Allyson, o Solidariedade?
Eu já estive reunido com a direção estadual do partido para discutir sobre esse assunto. Ouvi da direção que ainda há uma indefinição sobre o futuro do partido, porque continuam negociando algumas junções em Brasília, conduzido pelo dirigente Paulinho da Força. Uma coisa que eles me relataram é que o prefeito Allyson, provavelmente, está saindo para outro partido. Pelas entrevistas que ele, Allyson, vem concedendo, deve ir para o União Brasil ou PSD. Ou seja, o Solidariedade não aparece nas opções do prefeito. Algumas pessoas até me questionam: você é do mesmo partido do prefeito e faz oposição? Só que estamos rompidos, politicamente, há muito tempo e eu não deixei o Solidariedade por uma questão de fidelidade partidária.
Como está a situação das emendas impositivas ao orçamento municipal, que são importantes para beneficiar entidades que prestam serviços sociais à população? A gestão municipal tem cumprido com a liberação de recursos?
De novo, o prefeito se limita ao discurso. Na prática, ele está muito longe de ser o novo, de ser o diferente na política e na administração pública. A mudança que eu esperei, porque votei nele, ela não aconteceu, nem vai acontecer. Todas as emendas impositivas encaminhadas pelos vereadores não foram respeitadas até aqui. São emendas, inclusive, para a própria Secretaria Municipal de Saúde, que o prefeito se nega a pagar. O nosso mandato aprovou uma emenda de 100 mil reais para a UBS do Sumaré que está caindo aos pedaços, mas não foi utilizada. Os vereadores encaminharam emendas para A Liga do Câncer, Instituto Amantino Câmara (Abrigo de Idosos), Lar da Criança Pobre, APAE, Associação de Defesa dos Animais, entre várias outras. Tem associação que está fechando as portas, esperando essas emendas, mas o prefeito não tem a sensibilidade e o respeito com essas instituições.
É possível dimensionar o tamanho do prejuízo para essas instituições e, por consequência, para os segmentos sociais por elas assistidas?
Os prejuízos são enormes. Veja o caso da Associação dos Surdos de Mossoró (ASMOR), que está ameaçada de ser despejada da casa onde funciona porque o prefeito não libera recursos há quatro meses. A Asmor tem quase 100 mil reais de emendas a receber, além de um contrato que existe há 23 anos que a Prefeitura ainda não renovou. O prefeito, com essa atitude pequena, não pode falar que a sua gestão é inclusiva, porque não é. As instituições que tiveram emendas aprovadas pelos vereadores prestam serviços importantes à população; elas precisam da atenção e do compromisso do poder público. Veja a omissão do prefeito na causa animal, que é uma questão de saúde pública. Existe uma grave omissão, inclusive o castramóvel, que ainda não foi adquirido, mesmo tendo os recursos na conta do município. O curioso é que quando as entidades vão fazer um movimento em protesto ao descaso, o prefeito diz que é política. Então, quer dizer que uma associação não pode fazer um movimento pra reivindicar? Isso é um absurdo. Essas emendas impositivas são prerrogativas dos vereadores, que o prefeito tem obrigação de pagar. Veja que só Mossoró não paga essas emendas impositivas. Assú paga emendas impositivas, Baraúna, Apodi, Natal e muitas outras gestões municipais pagam as emendas impositivas, mas, infelizmente, Mossoró caminha na contramão e não paga essas emendas impositivas por pura maldade contra as instituições que prestaram relevantes e importantes serviços sociais à população.
O senhor não só votou como fez parte da campanha vitoriosa de Allyson Bezerra nas eleições 2020. O senhor considera uma mudança muito grande do Allyson candidato para o Allyson prefeito?
Totalmente. Vou citar um exemplo disso: Allyson, quando era deputado e até mesmo quando era sindicalista na Ufersa, defendia o piso salarial dos professores, dizia que era lei, posicionava-se contra os gestores que não cumpriam e até criticava aqueles que pagavam de forma parcelada. Agora, na Prefeitura, ele não só descumpriu a lei do piso, com zero de reajuste salarial, como humilhou a categoria dos professores. Jogou uma parte da imprensa, paga com recursos públicos, para atacar os professores de manhã, de tarde e de noite, num massacre midiático absurdo. Isso não é a mudança que eu apoiei em 2020. Se eu soubesse que isso ia acontecer, jamais teria subido num palanque para apoiar um candidato que não respeita os professores. Hoje, Mossoró tem uma categoria completamente indignada, revoltada com a situação, e com toda razão, porque a lei não é um favor, mas, sim, uma obrigação. O prefeito maquia a educação pública do município, ele engana as pessoas, mas, aos poucos, a população tem mostrado que está começando a ver o que está acontecendo em Mossoró. A popularidade dele tem caído.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.