Segunda-Feira, 18 de novembro de 2024

Postado às 07h00 | 27 Ago 2023 | Paulo Igo: ‘Vamos mostrar à população que o prefeito é um cabra perverso’

Crédito da foto: Jornal de Fato Vereador Paulo Igo no Cafezinho com César Santos

“Derrubaço”. Assim a oposição considera o movimento da bancada governista na Câmara Municipal de Mossoró para evitar prestação de contas do Executivo dos recursos do Finisa. A falta de transparência deixa a gestão do prefeito Allyson Bezerra (União Brasil) sob suspeita.

A avaliação é feita pelo vereador Paulo Igo (Solidariedade), uma das vozes mais ativas da oposição. Na opinião dele, “quem não deve, não teme”. Paulo Igo tomou o Cafezinho com César Santos, quando abordou este e outros assuntos de relevância política.

Ele afirmou, por exemplo, que a oposição terá uma chapa forte para disputar a sucessão municipal 2024, citando nomes de possíveis candidatos. Também garante que os vereadores de oposição estão no processo de definição de nominata à Câmara Municipal, com opções de pelo menos três partidos. Leia a entrevista:

 

Muito se fala que a oposição está desarticulada, fragilizada e que não terá condições de construir um projeto para disputar a Prefeitura de Mossoró. Esse entendimento procede ou a oposição está trabalhando à mineira, de forma silenciosa?

Engana-se que acha que a oposição está fragilizada ou desarticulada. Nós vamos, sim, viabilizar um nome forte para enfrentar o prefeito Allyson nas eleições do próximo ano. Estamos nos reunindo e somando com os setores da oposição que defendem uma Mossoró melhor. Já realizamos várias reuniões e acredito que em breve a população saberá quem será o nome da oposição à sucessão municipal.

O senhor pode antecipar nomes?

Estamos fazendo o debate internamente, procurando unificar a oposição para fortalecer o projeto eleitoral. O nosso objetivo é apresentar um nome que represente o projeto de defesa de Mossoró, uma vez que o atual gestor não consegue executar aquilo que ele prometeu em campanha. Está muito longe disso. Veja a situação que se encontra a cidade hoje. A Mossoró real, que é distante daquela cidade do marketing do prefeito, sofre com muitos problemas que afetam a vida das pessoas. Então, nós da oposição temos a papel de mostrar a realidade e construir um projeto que realmente atenda aos anseios de todos os mossoroenses.

 

Nós temos a informação que o vereador Pablo Aires (PSB), que é de oposição, mostra resistência de participar das reuniões, ficando de certa forma distante do debate. Pablo vai ficar de fora do projeto?

Pablo Aires é bom vereador, ele defende pautas relevantes e um quadro importante da oposição. Pablo também é um bom nome para compor chapa majoritária, assim como vários outros. Ele faz parte da oposição e está inserido nesse projeto. Temos certeza que Pablo também deseja mudança na Prefeitura de Mossoró, por entender que a atual gestão é fraca e deixa muito a desejar.

 

Quais os nomes que a oposição pode oferecer ao eleitor?

A oposição tem grandes nomes e trabalha com todas as possibilidades. Temos Pablo Aires, como citei agora, o vereador Tony Fernandes (SDD), que é líder da oposição na Câmara Municipal, a deputada estadual Isolda Dantas (PT), vereadora Marleide Cunha (PT), entre outros que podem perfeitamente formar a nossa chapa majoritária. Em relação a Tony Fernandes, que é um dos nomes mais citados na oposição, tem todas as condições de fazer o enfrentamento ao atual gestor e apresentar um projeto importante para Mossoró.

 

Como é que o PT se insere no debate? É possível que o partido da governadora Fátima Bezerra aceite unificar um projeto eleitoral de oposição?

O PT está inserido por meio da vereadora Marleide Cunha, que realiza um grande trabalho na Câmara. Ela é bem atuante, está sempre lutando por pautas de interesse coletivo, e está junto conosco. Temos em comum a luta em defesa do servidor público, que é uma das principais pautas de Marleide, e em defesa de toda a população, principalmente daqueles segmentos que mais dependem das politicas públicas. Portanto, Marleide representa o PT aqui em Mossoró, por meio do seu mandato na Câmara de Vereadores, e faz parte dessa junção que a oposição está construindo.

E a deputada estadual Isolda Dantas, que é outro nome de proa do PT, está no tabuleiro da sucessão municipal?

A deputada Isolda também colocou o nome à disposição, inclusive, quero parabenizá-la pela atitude, pela coragem, de fazer o enfrentamento ao atual gestor e de mostrar que Mossoró pode e merece muito mais. A gente espera que a deputada possa somar para que a oposição tenha um nome forte, com apoio de todos, para disputar a sucessão municipal do próximo ano.

 

Como a oposição pretende fazer o enfrentamento ao prefeito de Mossoró que, segundo as pesquisas, tem bom índice de aprovação?

Temos duas Mossoró. Uma real, outra apresentada pelo marketing do prefeito. Nós vamos mostrar a verdade à população. A nossa cidade sofre com muitos problemas que afetam todos os setores, principalmente, aqueles mais vitais como saúde, educação e infraestrutura. A oposição na Câmara já faz o trabalho de mostrar a Mossoró real. A realidade é muito dura. As pessoas que sofrem as consequências sabem o que nós da oposição denunciamos quase que diariamente. É preciso mostrar que muitos recursos entram nos cofres públicos, mas não sabemos como são usados, porque não há transparência. Os nossos pedidos de informação, que é a obrigação do Legislativo como poder fiscalizador, são derrubados pela bancada do prefeito, exatamente para esconder o que está acontecendo com os recursos públicos.

 

Isso é grave, vereador...

É muito grave. A bancada do prefeito derruba pedidos de simples informação. Por exemplo: a população precisa saber onde foram aplicados os recursos do Finisa e das emendas parlamentes federais, que somam valores extraordinários (quase R$ 200 milhões recebidos em 2021). É preciso saber por que até hoje não instalaram o tomógrafo de última geração enviado pelo Ministério da Saúde. O aparelho completou um ano no último dia 15 que está encaixotado no almoxarifado da Prefeitura. Uma máquina de Raio-X móvel também está lá encaixotada. Tem outras demandas na Saúde que devem ser esclarecidas. No Hospital Milton Marques, nas UPAs e nos CAPs constatamos que funcionários estão passando necessidade de alimentos, porque não é feito o devido abastecimento. Por outro lado, existem buffets que ganharam licitações com valores milionários, sem qualquer informação ou algo que justifique. A oposição está cobrando, a bancada governista derrubando os pedidos de prestação de contas, mas a população está vendo e se conscientizando que tem muita coisa errada.

A prestação de contas dos recursos do Finisa se tornou um pesadelo da gestão municipal. Por que o prefeito Allyson tem tanta dificuldade de cumprir o simples dever de prestar conta daquilo que é público?

Temos feito essa pergunta a todo momento, mas o prefeito não responde. E essa não é uma cobrança de agora. Há pouco tempo, o vereador Francisco Carlos (Avante) vinha fazendo essa cobrança, exigindo a prestação de contas dos recursos do Finisa, uma vez que, segundo ele afirmava, várias obras inseridas nesse financiamento da Caixa Econômica não foram executadas, como a construção da Policlínica do Grande Alto de São Manoel, o Hospital Municipal Psiquiátrico, a ampla reforma da Praça Dom João Costa, entre tantas outras. Também tem as obras que foram iniciadas e estão inacabadas como a reforma da antiga Cobal, da Quadra de Basquete do conjunto Santa Delmira, do mercado do vuco-vuco e muitas outras. É um quadro muito grave, que sugere desconfiança, já que a gestão municipal não presta contas. Mas, nós vamos continuar cumprindo o nosso papel de fiscalizar e denunciar o que está errado.

 

As desconfianças são muitas?

Onde seria construído o Hospital Municipal Psiquiátrico, o prefeito realizou uma gambiarra, como bem denunciou no passado recente o vereador Francisco Carlos, para instalar em péssimas condições o Hospital Milton Marques. Estivemos lá várias vezes e a situação é deplorável. A população mossoroense quer saber o que foi feito com os recursos do Finisa, já que o prefeito não foi transparente até aqui. Além disso, há desconfiança que projetos do Finisa estão sendo inseridos no programa Mossoró Realiza, que receberá 200 milhões de reais do novo empréstimo da Caixa Econômica Federal. Então, eu pergunto, cadê as obras que eram para ter sido realizadas com os recursos do Finisa e não saíram do papel? Será que essas obras vão ser realizadas com o novo empréstimo do Mossoró Realiza? Tem outra situação também grave. O prefeito anunciou a construção de 10 UBSs com recursos do Mossoró Realiza, quando todos sabem que os recursos são oriundos de emenda parlamentar da senadora Zenaide Maia (PSD). São esses questionamentos que a oposição faz, mas a gestão municipal não responde.

 

O senhor considera qual motivo para essa falta de transparência?

Não fazemos pré-julgamento. O nosso papel é cobrar, foi para isso que fomos eleitos. Agora, nós podemos sugerir que o prefeito Allyson mande secretários à Câmara Municipal para apresentar a prestação de contas. Os titulares da Infraestrutura, Saúde, Educação, podem esclarecer para onde foram ou estão indo os recursos do Finisa. Sabemos que em 2022 o Governo Federal liberou 15 milhões de reais para o Fundo Municipal de Saúde, mas esse dinheiro ainda não foi aplicado aparentemente. Um dos projetos, que seria bancado com esses recursos, era a Policlínica que até agora não foi instalada. Aí eu pergunto aos moradores do Grande Alto de São Manoel: vocês viram alguma policlínica municipal em seu bairro? Outro questionamento que estamos fazendo é que, recentemente, teve um remanejamento de 75 milhões de reais, com objetivo de fazer toda a piçarra da estrada de acesso à fazenda São João, e essa obra está agora colocada no Mossoró Realiza. São várias coisas, desse tipo, que o prefeito está fazendo, sem qualquer explicação ou prestação de contas. Enquanto isso, os problemas se acumulam. Na comunidade Barrinha, a UBS está sucateada, com médicos atendendo na sombra de uma árvore em meio às galinhas. O Conselho Regional de Odontologia precisa fiscalizar em Mossoró por que tem profissionais que são colocados em situação como esta que citamos agora. É um absurdo.

A oposição provocou o Ministério Público para investigar esses supostos desmandos?

Nós entregamos várias demandas ao Ministério Público, devidamente documentadas, que mostram situação bem embaraçosas. Estamos aguardando que o MP se manifeste.

 

Em relação aos concursos públicos, considerados urgentes, mas que não saem do papel. O senhor tem acompanhado essa situação?

Em 2022, o prefeito Allyson assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público para realizar o concurso da Educação. Esse documento foi assinado antes do Mossoró Cidade Junina, que estava ameaçado de não ter shows de Xand e Wesley Safadão em razão de uma ação do MP. O compromisso era lançar o concurso no segundo semestre do ano passado. O prefeito não cumpriu. Agora em 2023, antes do Cidade Junina, para não ter problemas com o Ministério Público, Allyson prometeu o concurso para o segundo semestre deste ano, mas até agora nada. Melhor, o prefeito lançou um processo seletivo para contratar temporários, em completa e total falta de respeito ao Ministério Público e à população. Mas, nós vamos continuar cobrando. Não podemos aceitar que os alunos e alunas sofram prejuízos de aprendizagem por déficit de professores e especialistas em sala de aula. Sabemos que Allyson não é um homem de palavra, está sempre tentando enganar, mas vamos mostrar à população o prefeito que Mossoró tem.

 

E qual é o prefeito que Mossoró tem?

Não é aquele Allyson do chapeuzinho de couro, que está bom, ótimo e maravilhoso. O Allyson prefeito é um cabra perverso.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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