Sem diálogo com as diversas categorias de servidores públicos municipais, o prefeito Allyson Bezerra (União Brasil) tem recorrido à Justiça para impedir a mobilização dos trabalhadores. Nesta semana, o prefeito conseguiu no Tribunal de Justiça do Estado (TJRN) suspender a paralisação da Guarda Municipal, com um mandado de segurança deferido pelo desembargador Amaury Moura Sobrinho.
Antes, usando o mesmo expediente, Allyson Bezerra conseguiu suspender a greve dos professores e professoras da rede municipal de ensino, sem sequer negociar o pagamento do novo piso salarial do Magistério. No Palácio da Resistência, sede da Prefeitura, a informação é que qualquer categoria do serviço público que suspender as atividades na luta por direitos será combatida com ações na Justiça.
A falta de diálogo levou os servidores da Guarda Municipal a iniciarem uma série de protestos contra a gestão de Allyson Bezerra. Nesta terça-feira, 10, os guardas ocuparam as ruas do centro comercial de Mossoró e, em seguida, concentraram-se no pátio da sede da Prefeitura, onde realizaram assembleia convocada pelo Sindguardas.
Em razão da decisão do desembargador Amaury Moura, a categoria decidiu não suspender as atividades, mas garantiu que a luta continuará. Os guardas municipais, que não têm reajuste salarial há sete anos, reivindicam a recomposição e um plano de reestruturação profissional. Esses dois pontos foram prometidos por Allyson durante a campanha eleitoral em 2020, mas não cumpridos até agora.
Judallyson
A primeira grande mobilização dos guardas ocorreu durante o Cortejo da Liberdade, no dia 30 de setembro, com protesto no Corredor Cultural de Mossoró. Ao chegar para o evento que celebrou os 140 anos de Abolição da Escravatura na cidade, Allyson foi “saudado” pelos manifestantes com gritos de “mentiroso” e “prefeito blogueirinho”, uma alusão a atividades de Allyson nas redes sociais.
Na mobilização desta terça-feira, “Judallyson” voltou às ruas de Mossoró. Trata-se do boneco criado pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (SINDISERPUM) que, segundo a entidade, representa o que o prefeito é. “O nariz de Pinóquio é devido às mentiras ditas pelo prefeito e a roupa de Judas representa a traição do prefeito aos servidores públicos”, justifica.
Além dos professores e dos guardas municipais, os agentes comunitários de saúde e de combate às endemias também estão se mobilizando em defesa de direitos represados. A categoria cobra o Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR), melhores condições de trabalho e respeito aos direitos garantidos por lei.
Há pouco mais de uma semana, o prefeito Allyson Bezerra enviou à Câmara Municipal um projeto que cria novo PCCR dos servidores gerais. A proposta foi criticada pelos servidores porque não foi discutida com os sindicatos que representam as categorias.
A diretoria do Sindiserpum considerou um “novo golpe” contra os servidores e faz pressão para que a Câmara não aprove o projeto da forma como foi enviado pelo chefe do Executivo, afirmando que traz “enormes prejuízos” aos servidores municipais.
Câmara tenta ser o ponto de equilíbrio entre guardas e prefeito
A Câmara Municipal de Mossoró pode ser a via de abertura de diálogo entre os guardas municipais e o prefeito Allyson Bezerra. O Legislativo se coloca à disposição para intermediar as negociações entre a categoria e o chefe do Executivo.
A possibilidade de trégua foi encaminhada em audiência entre comissão da categoria e vereadores, nesta terça-feira, 10. A reunião ocorreu após manifestação de guardas municipais na Prefeitura, de onde saíram em passeata até a sede do Legislativo.
A pedido dos guardas civis, a Câmara recebeu diretores do Sindicato dos Guardas Municipais do Estado (Sindguardas/RN), com a presença do presidente da Casa, Lawrence Amorim (Solidariedade), os líderes das bancadas da oposição e da situação, respectivamente, vereadores Tony Fernandes (Solidariedade) e Genilson Alves (Pros). Também participaram da reunião os vereadores Ozaniel Mesquita (União Brasil), Francisco Carlos (Avante), Marleide Cunha (PT), Isaac da Casca (MDB) e Omar Nogueira (Patriotas).
Tensão
O presidente da Câmara propôs reduzir a tensão e retomar o diálogo entre Prefeitura e Guarda Civil. “Acredito que podemos avançar nesse sentido, porque a decisão judicial não trata sobre o mérito das reivindicações, mas sobre a paralisação. Portanto, peço calma para que se possa tentar reabrir o diálogo”, disse.
Tony Fernandes e Genilson Alves concordaram. “Precisamos reconstruir o canal de diálogo, reabrir negociação. A Guarda não quer radicalismo, não quer paralisação”, disse o oposicionista. “Temos que distensionar (a relação). Vamos procurar o Executivo para construir esse caminho e dar retorno até amanhã”, assegurou o governista.
Diretor do Sindguardas, Heber Monteiro, firmou o acordo. “Vamos dar um tempo para que haja uma reunião. Vamos dar mais esse voto de confiança, a Câmara agora se somando ainda mais. A gente distensiona e aguarda a categoria ser chamada para conversar com a Prefeitura”, comprometeu-se.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.