Quando a revista Papangu surgiu, pelos idos de 2004, o Jornal de Fato era uma criança de quatro anos. À época, desafiando o jornalismo feijão com arroz, com preço a pagar, claro. Os poderosos do momento não gostavam dos impressos fora da lista de “assessoria pg”. Aliás, continuam não gostando.
E daí?
A Papangu veio com a alma da imprensa alternativa, da tribuna livre, identificada com aqueles que ganharam vozes para fazer ecoar os seus sentimentos e opiniões. Time de primeira, textos formidáveis, charges e ilustrações que logo despertaram no leitor uma relação afetiva com a publicação.
A revista jogava com os medos primários da classe política ao estabelecer o debate sem amarras, em defesa do bem comum. Um terror - da melhor qualidade possível - para aqueles truculentos acostumados com a redação cavilosa de assessores e com as “tapinhas nas cotas” da crônica social de festim.
A Papangu nasceu com linguagem jornalística e perfil pedagógico que nos remete ao Pasquim, sem Control C + Control V. A geração Pasquim fincou raízes. O jornalista e escritor Rivaldo Chinem, autor de livros como “Imprensa Alternativa” e “Introdução à Comunicação”, foi quem melhor traduziu: “Não há jornal brasileiro importante que não tenha sido influenciado pelo idioma do Pasquim, direta ou indiretamente.”
O perfil paradoxal da Papangu tem um quê do Pasquim e está na genética de seu criador. Túlio Ratto carrega qualidades de chargista, caricaturista, ilustrador, desenhista, pintor, mas acima de tudo, de um inquieto operário da cultura e das artes que não rifa a liberdade.
E assim Túlio Ratto fez a Papangu escalar os anos para celebrar nessa edição duas décadas de existência, do impresso ao campo virtual, sem perder a essência, nem rifar a alma da imprensa livre.
Vida longa à Papangu, para o bem do Rio Grande do Norte e do Brasil.
P.S – O Jornal de Fato segue impresso, espelhado pelas plataformas digitais e, assim como a Papangu, sustentando a tribuna livre, para desgosto dos poderosos do momento.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.