Domingo, 17 de novembro de 2024

Postado às 07h30 | 04 Mai 2024 | Escândalos desafiam o poder midiático do prefeito Allyson Bezerra

Kadson Eduardo, o braço direito do prefeito Allyson Bezerra

Por César Santos – Jornal de Fato

O prefeito Allyson Bezerra (União Brasil) sempre apostou na benevolência de grande parte dos veículos de imprensa de Mossoró, e nas redes sociais, para construir uma imagem de bom gestor inatingível. De certa forma, conseguiu êxito ao longo de três anos. Controlando quase a totalidade dos veículos tradicionais e com um batalhão de blogueiros remunerados, a sua imagem passou ilesa durante esse tempo e, praticamente, não enfrentou crise de identidade.

Paralelamente, supostos casos de corrupção não tiveram a devida atenção porque foram abafados pelo poderio midiático e, por gravidade, não tiveram força para provocar os órgãos responsáveis pela fiscalização e controle da coisa pública.

No entanto, o poder do chefe do Palácio da Resistência não foi suficiente para calar a sociedade, que agora se mostra disposta a reagir. Nos últimos 30 dias, escândalos que estavam escondidos vieram à tona e passaram a desafiar a imagem de gestor humildade e de mãos limpas. Coube à imprensa livre descortinar uma realidade e despertar as instituições responsáveis pelo zelo do bem público.

Três escândalos subiram as escadarias da sede da Prefeitura de Mossoró:

1 – Denúncia de superfaturamento do projeto “Estação Natal”;

2 – Suspeita de crime de responsabilidade por ter mantido no secretariado municipal um condenado à prisão, no caso, advogado Kadson Eduardo;

3 – Vazamento de áudio que mostra suposta negociação de superfaturamento de contratos na Secretaria de Cultura.

No primeiro caso, que partiu de denúncia formulada pelo vereador Paulo Igo, em entrevista ao Jornal de Fato, o Ministério Público Estadual (MPRN), por meio da 19ª Promotoria do Patrimônio Público, instaurou inquérito para investigar a gestão Allyson. A denúncia envolve suposto superfaturamento do projeto, tendo como provas itens com valores fora da realidade. Vasos (jardineiras) que custam entre R$ 24 a R$ 26 a unidade, a Prefeitura pagou R$ 790 pela unidade.

No segundo caso, o prefeito Allyson manteve Kadson Eduardo no cargo de secretário do Planejamento, Orçamento e Gestão, mesmo depois de o auxiliar ter sido condenado à prisão por crime de falsificação de documentos públicos, com trânsito em julgado em janeiro de 2023. Allyson só exonerou Kadson, visto como o seu “braço direito”, no dia 19 de abril de 2024.

O terceiro escândalo estourou nesta semana, quando vazou áudio com a voz de um auxiliar do prefeito supostamente negociando superfaturamento na Secretaria de Cultura. Trata-se de Francisco Thiago Bento da Silva, que vinha ocupando o cargo de diretor administrativo do Departamento de Gestão Cultural. Em um dos trechos do áudio ele diz: “Se os valores cobrados fossem 20 ou 25 mil, colocamos 50 mil.” Após a imprensa livre noticiar o fato, o prefeito decidiu exonerar o seu homem de confiança na Cultura.

Os três casos são gravíssimos e exigem explicações, no mínimo, convincentes, mas, até agora, Allyson Bezerra não apresentou declarações sobres os fatos. A estratégia do Palácio é usar a forte estrutura paga em veículos tradicionais e o apoio de blogueiros remunerados para tentar desviar as atenções da população mossoroense.

A estratégia, porém, ainda não vingou, isso porque a oposição tem ocupado espaços e, de forma mais clara, afirmado que os escândalos estão sendo levados para a investigação dos órgãos de controle do bem público.

Além disso, a oposição recebeu novos documentos, vazados de dentro das secretarias municipais, que mostram outros casos graves e que, provavelmente, serão revelados nos dias próximos. A fase do chefe do Palácio, que hoje não é boa, deve piorar.

 

 Problemas nos bairros e na saúde pública pressionam prefeito

Além dos escândalos que pipocam na gestão municipal, o prefeito Allyson Bezerra também está sendo confrontado aos problemas acumulados na cidade de Mossoró, principalmente nas áreas de saúde e de infraestrutura nos bairros da periferia.

Nesta semana, veio a público a decisão do Conselho Regional de Odontologia (CRO-RN) de interditar quatro consultórios de Unidades Básicas de Saúde (UBS), por falta de condições mínimas para funcionamento. O CRO apontou equipamentos quebrados, pisos rachados, paredes com mofo, entre outras mazelas.

Somam-se aí as reclamações das UPAs sucateadas e UBSs com falta de medicamentos, materiais e profissionais.

Nos bairros, a infraestrutura está bastante avariada. O Jornal de Fato mostrou a situação do conjunto Vingt Rosado, onde a praça de esportes e lazer está destruída. Populares têm gravado vídeos denunciando o descaso, com repercussão nas redes sociais.

No feriado do Dia do Trabalhador, 1º de maio, moradores dos conjuntos Isla Verde, Arizona e Jardins realizaram um protesto e reivindicaram melhorias para as comunidades. Segundo os moradores, os loteamentos enfrentam grandes problemas com buracos, falta de água, quedas constantes de energia e insegurança devido à falta de iluminação. O problema se agravou devido ao período chuvoso, no qual várias ruas ficaram sem condições de tráfego de veículos.

As reclamações se multiplicam nos bairros, sem que a gestão municipal tenha mostrado capacidade de resolver os problemas que afetam a população mossoroense.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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