Por Thiago Gonzaga *
Depois da poesia, no Rio Grande do Norte, talvez o gênero que mais se destaque seja a crônica dentro do conceito atual. Temos excelentes cronistas, como Newton Navarro, Berilo Wanderley, Sanderson Negreiros, isso para falar de alguns que já se foram; vários outros estão em plena atividade.
Quando partimos para a crônica, como jornalismo literário, a história não é diferente. Nomes como Jaime Hipólito Dantas, Dorian Jorge Freire, Lauro da Escóssia, Woden Madruga e José Nicodemos, são também de outras notáveis expressões da nossa literatura.
José Nicodemos, que milita na imprensa há quase trinta anos, é filho de Areia Branca, cidade que já doou ao Rio Grande do Norte, escritores como Deifilo Gurgel, Francisco Fausto, Francisco Rodrigues da Costa, Carlos de Souza, Anchieta Rolim, Leonam Cunha e vários outros.
Escritor de vasta cultura, Nicodemos é um artista da palavra, destaca-se sobretudo pela maneira simples de transpor seu pensamento para o texto e o zelo com a língua portuguesa.
Em 2012, lançou uma coletânea de crônicas intitulada “Rastros nas Areias Brancas”, com seleção de textos, apresentação e organização do poeta e escritor Leontino Filho.
José Nicodemos, para os mais chegados, “Seu Nicó”, traz em suas crônicas, lembranças da cidade da Areia Branca, além de reflexões sobre diversos temas. Nesse livro exercita-se um gênero literário que nos propicia refletir sobre fatos do nosso cotidiano.
O escritor é autor do Hino de Areia Branca, cidade onde foi professor, dirigente de estabelecimento de ensino, ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal. Atualmente mantém uma coluna diária aqui no Jornal De Fato. A ideia para publicação da sua coletânea surgiu dos editores Clauder Arcanjo e David de Medeiros Leite, da Sarau Das Letras, que convidaram Leontino Filho para organizar o vasto material do escritor areiabranquense.
A crônica de Nicodemos é atemporal, há ocasiões em que é mais pessoal, memorialística, poética, às vezes, didática, às vezes politica , bem-humorada, ou irônica e, claro, sempre relacionada a fatos cotidianos.
Existe uma linha muito tênue entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se inspira nos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem uma escrita da outra. Após acercar-se dos fatos cotidianos, o cronista dá-lhes um toque próprio, inclusive de humor, poesia, ficção, fantasia e criticismo.
Com base nisso, podemos dizer que o que José Nicodemos escreve situa-se entre o jornalismo e a literatura, e deixa entrever o poeta dos acontecimentos do dia a dia. Isso faz com que a sua crônica desperte uma ampla gama de leitores. Linguagem simples, espontânea, situada entre a coloquial e a literária, contribui também para que o leitor se identifique com o cronista.
Está presente nas páginas de “Rastros nas Areias Brancas” um artista da palavra, que eclode no universo literário com uma prosa de diversas faces e possibilidades. Observador atento dos acontecimentos do seu tempo, também aborda outros veios afins da crônica, como o memorialismo, sempre registrando profundo humanismo.
José Nicodemos é um grande leitor, isto também fica provado em algumas das suas crônicas. Homem das letras, cultor das belas artes. Mas que não perde sua simplicidade.
As inúmeras associações feitas na prosa de Nicodemos, dada a pluralidade estética e temática, configuram, como está visto, um cronista de perfil multifacetado. Percebemos também no seu discurso um forte sentimento telúrico , seja pelo teor memorialístico, seja pelas peculiaridades de expressão.
Senhor da palavra, José Nicodemos interage com o leitor, desperta-o para a importância da leitura prazerosa: a literatura como arte, na medida em que esta concebe a íntima relação entre arte e vida.
“Rastros nas Areias Brancas” semelha um verdadeiro túnel do tempo, especialmente para os nascidos em Areia Branca e região, resgatando tempos que se modificaram, sobretudo com a globalização, com a modernidade.
Se Areia Branca não tinha memórias, passou a tê-las graças a escritores como José Nicodemos, Francisco Fausto, Chico de Neco Carteiro e outros da nova geração, que levam a cidade no coração e nas letras.
Tive a satisfação de conhecer pessoalmente José Nicodemos, em março de 2017, num evento que fizemos, palestra numa escola municipal, na Cidade de Areia Branca, capitaneado pelo poeta Anchieta Rolim. Estava lá Clauder Arcanjo, liderando uma turma vinda de Mossoró, dentre eles, José de Paiva Rebouças , Dom Marcelo e José Nicodemos, com toda a sua simplicidade e talento.
Fica registrada a homenagem a um mestre das letras.
(*) Escritor
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.