Lawrence Amorim (PSDB) iniciou a carreira política aos 23 anos. Foi prefeito eleito (2008) e reeleito (2012) em Almino Afonso, município do Médio Alto Oeste potiguar, onde o seu extinto avô, o velho Abel, foi o grande líder político.
Em 2018, transferiu o domicílio eleitoral para Mossoró, onde nasceu, para encaminhar a nova fase de sua vida pública. Foi candidato a deputado federal naquele ano, terminando como primeiro suplente do Solidariedade.
Em 2020, elegeu-se à Câmara Municipal e assumiu a presidência da Casa, mandato que será concluído em 31 de dezembro deste ano.
Na eleição de 2020, fortaleceu a aliança política com Allyson Bezerra (Solidariedade, hoje União Brasil), que se elegeu prefeito. A parceria, porém, não conseguiu se sustentar e, nas eleições de 2024, os dois se enfrentarão na disputa pela segunda mais importante prefeitura do Rio Grande do Norte.
Lawrence Amorim, pré-candidato a prefeito, tomou o “Cafezinho com César Santos” na sede do Jornal de Fato. Ele falou, sem tergiversar, sobre os motivos que levaram ao rompimento político-institucional com o prefeito Allyson, além de abordar outros temas de valor relevante.
Confira:
A sua pré-candidatura a prefeito de Mossoró é uma imposição por consequência do rompimento político com o prefeito Allyson Bezerra, ou ela nasce pela própria natureza da sucessão municipal?
A nossa pré-candidatura nasceu de forma natural, dentro do projeto do PSDB para as eleições municipais deste ano. No entanto, não há como não levar em contas todas as circunstâncias que anteciparam o lançamento. Todos sabem sobre as dificuldades institucionais que ocorreram entre Câmara Municipal e Prefeitura e que não foi possível superá-las via diálogo. Por consequência descambou para o campo político. A Câmara Municipal foi atacada, a minha pessoa foi atacada, colegas vereadores também. Realmente, nós estávamos em processo de fortalecimento de nossa federação (PSDB/Cidadania), trabalhando em conjunto em prol da reeleição (do prefeito Allyson), mas fomos surpreendidos e descartados pelo prefeito. A partir daí, com respaldo da presidência estadual do PSDB e também nacional, tivemos que tomar uma posição com relação a essa crise política e, por consequência, colocamos o nosso nome como pré-candidato a prefeito.
Mas uma pré-candidatura lançada após um rompimento político e institucional não passa a sensação que ela foi imposta?
O nosso nome à sucessão municipal não chega como uma imposição. Não fazemos política com imposição; quem nos conhece sabe disso. A nossa pré-candidatura chega para somar ao debate sobre um novo projeto para Mossoró, juntamente com outros pré-candidatos lançados por partidos de oposição. Vamos conversar com todos eles e tentar uma convergência de um grupo de oposição. Se vai ser possível a união de todas as forças, é algo que a gente não tem como afirmar agora, mas nós vamos trabalhar para isso. E se não for possível reunir todos no mesmo projeto, vamos lutar para ter o máximo possível de partidos juntos. É importante a gente destacar, aqui, que o nosso diálogo com outros pré-candidatos a prefeito não é apenas para formar um palanque forte de oposição, mas, principalmente, para debater a cidade. Há essa necessidade urgente de discutir a Mossoró de hoje e a Mossoró que queremos para o futuro. É importante estabelecer esse diálogo, não apenas com os partidos que formam a oposição, mas também com a própria sociedade, para buscarmos ideias que possam compor um bom plano de governo para Mossoró. Precisamos resolver os problemas atuais, que são muitos, a médio e longo prazo, mas também precisamos pensar a Mossoró do futuro. Iniciamos esse diálogo com os outros pré-candidatos, não para impor a minha pré-candidatura e fazer com que os outros retirem os seus nomes, mas, sim, para discutir ideias para a nossa cidade. A partir daí, saberemos se é possível a união de todas as forças que formam a oposição.
O senhor considera possível uma frente ampla de oposição?
Acho possível uma frente ampla com todos os partidos de oposição. Se não acreditasse, não estaria buscando o diálogo com todos. Agora, se isso não acontecer, o que também é natural, não inviabiliza o projeto de oposição por sua própria natureza de trazer novas ideias, fazer o contraponto, e promover um debate saudável com a sociedade para discutir o que Mossoró precisa para atualidade e o que precisa para o futuro. Se houver uma divisão da oposição, com algumas candidaturas, isso também não prejudica o nosso projeto. Nós vimos isso nas eleições de 2020, em que a oposição teve várias candidaturas e uma saiu vitoriosa, que foi justamente o atual prefeito. Então, não seria um fato novo, muito menos impossível de acontecer. Se houver a união de todos os agentes de oposição será muito bom, mas essa união deve ser construída a partir de ideias, de plano de governo, e não apenas para formação de um palanque eleitoral. Essas pessoas, esses partidos que compõem a oposição, se convergirem ao mesmo projeto, governarão juntos a Mossoró do futuro. Isso é muito importante porque as ideias que cada um vem trazendo se somarão em prol da cidade. Então, a nossa proposta não é que a união se limite ao palanque eleitoral e depois das eleições cada um siga o seu caminho.
A polarização da política nacional, com o lulismo versus o bolsanarismo, esquerda versus direita, não é uma barreira intransponível para a formação de uma frente ampla em Mossoró?
Eu penso que a política nacional não vai influenciar na disputa municipal, ou não deve influenciar. Temos que pensar que o nosso foco é Mossoró. As divergências ideológicas e partidárias existem, claro, mas do ponto de vista institucional é preciso buscar as parcerias, ter uma convivência em nome do bem comum, que é justamente construir um projeto que possa elevar a qualidade de vida das pessoas. Entendemos que Mossoró tem que estar em primeiro lugar, ser a prioridade absoluta. Por isso, tenho dito que a nossa pré-candidatura é de Mossoró, pela cidade de Mossoró, e estamos justamente propondo o debate de ideias que possa convergir para o futuro de nossa cidade.
O senhor, realmente, considera possível colocar na mesma mesa de debate o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, e o PT, do presidente Lula?
Possível, é. Se isso ocorrer, não seria uma novidade. Em outras cidades existem essa abertura em nome de uma discussão local. O PL e o PT têm as suas resoluções partidárias a nível nacional, que proíbem, por exemplo, oficializar coligação com determinadas siglas partidárias, mas isso não impede, principalmente do ponto de vista do eleitor, uma união conforme a realidade local. Os eleitores desses dois partidos, por exemplo, podem defender juntos um projeto para a sua cidade, conforme a realidade local, então, eles podem escolher o mesmo nome para votar. Em relação aos partidos, nós vamos dialogar com todos, sem radicalismo, sem fechar portas. Sou um político que tenho as minhas posições, mas isso não impede o diálogo com todos os outros, justamente porque faço política de forma moderada, não tenho dificuldade de sentar com nenhum outro partido da oposição em Mossoró. Eu acredito que a cidade precisa de uma atuação política dessa forma, aonde a gente esqueça as diferenças político-partidárias na hora que deve priorizar o institucional. Então, o político não pode colocar o seu problema político, o seu problema pessoal, acima do interesse da cidade, do interesse da sociedade. O gestor passa, a cidade continua.
O senhor está se referindo à forma como o prefeito Allyson faz política, individualizada, em detrimento da impessoalidade?
Quando um gestor se nega, por questão pessoal, de firmar parceria político-administrativa com órgãos a nível estadual e nacional, isso é muito ruim para o cidadão que precisa das politicas públicas. É um prejuízo não se recupera mais, porque o investimento que seria para a sua cidade já foi para outra cidade, a obra que beneficiaria o cidadão local, já foi transferida para outro lugar. Ter posição política, ter seu partido, ter seu voto declarado, acredito que é algo que deve acontecer dentro do processo democrático, mas, passada a disputa eleitoral, o político tem que descer do palanque e administrar a cidade. E administrar bem a cidade, o gestor tem que compreender que é buscar a maior possibilidade possível de parcerias, sejam elas no campo institucional, sejam elas no campo público-privado e isso só é possível quando você consegue agregar em prol da cidade.
Então, o senhor acha que o prefeito Allyson não desceu do palanque?
Eu costumo dizer que política não se faz com os cotovelos. Acredito que ele precisa fazer a política da união, a política que busca agregar. Os últimos fatos mostram que o prefeito faz o contrário. Veja o número de pessoas que o apoiaram na primeira hora, que estavam ao lado dele nas eleições de 2020, na conquista da vitória que era vista como improvável, e que agora foram afastadas de perto dele pelas circunstâncias que a própria gestão criou. Essas pessoas não pediram para sair, elas foram jogadas fora. Todas essas pessoas estão erradas e somente uma pessoa, que é o prefeito, está certa? Ou está faltando compreensão, está faltando diálogo, faltando sensibilidade para ouvir mais, falar menos e fazer mais pela sociedade. Na política, a gente tem que buscar diálogo mesmo os contrários, porque ele, o contrário, não tem tudo de ruim ou tudo de bom, mas tem algo que você pode absolver em prol da coletividade. Veja que é importante para o gestor ouvir a todos, até a crítica da oposição, que seja construtiva, é importante absorver para tirar o melhor possível. Agora, o gestor que gosta de ouvir só aquilo que lhe agrada, ele não está pronto para administrar uma cidade como a de Mossoró. E isso é muito ruim.
Essa postura de Allyson tem atrapalhado a cidade?
Mossoró tem quase 300 mil habitantes, é a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, com potencial imenso para se desenvolver. Uma única pessoa não consegue administrar sozinha esta cidade, é necessário ter pessoas próximas com ideias, dá autonomia a essas pessoas, deixar que essas pessoas possam também realizar um trabalho em prol da cidade e ser reconhecida por esse trabalho. O grande papel do líder é esse, de construir novos líderes ao seu lado. Então, acredito que a política não se faz com revanchismo, isso é muito ruim. E na hora que você tem um gestor com esse perfil, o prejuízo para a cidade, para o cidadão que nela vive, é muito grande.
O rompimento político e institucional entre o senhor e o prefeito Allyson foi declarado no início deste mês, mas desde o início do ano que havia indícios que a relação na era boa, principalmente quando, em janeiro, o prefeito decidiu reduzir os valores do duodécimo repassados à Câmara. Por que o senhor insistiu na tentativa de salvar a relação que estava deteriorada?
A gente acreditava que era possível preservar a parceria que tinha desde as eleições passadas, mesmo com as atitudes do prefeito de nos atingir de forma política e institucional. Mas chegou um momento que a situação tornou-se insuportável. Nós sofremos ataques de toda a ordem. Uma pré-candidata nossa à Câmara, que é médica, com vários anos de serviços prestados à população, foi afastada depois que se filiou ao PSDB. O que ela perdeu da Prefeitura vai recuperar no serviço privado, mas o prejuízo à saúde pública será irreparável, por se tratar de uma grande profissional. Outros pré-candidatos do PSDB sofreram assédio e continuam sofrendo todo tipo de pressão, mas nenhum até o momento quis desistir porque têm o desejo de disputar as eleições. Vereadores que estavam no Cidadania, que forma federação com o PSDB, foram levados para o partido do prefeito. Tudo isso aconteceu e a gente vinha acompanhando desde sempre, mas ainda acreditávamos que encontraríamos melhor solução, mas fomos jogados fora. Todos sabem disso.
A redução do duodécimo da Câmara e a cobrança pública, em nota oficial, de uma dívida do Legislativo, foram determinantes para o rompimento entre o senhor e o prefeito?
Nós sempre procuramos tratar a questão institucional de forma interna, buscando sempre o diálogo. Essa questão sempre foi tratada de forma transparente com os todos os vereadores, mas nunca levei ao conhecimento externo para não atrapalhar a relação institucional. No entanto, isso foi algo que vinha desgastando a relação e aí aquilo que você desconfiava que estava acontecendo, acaba se concretizando. Após o rompimento, várias pessoas foram procuradas e forçadas a saírem de perto de mim e irem para a Prefeitura. Todos sabem disso, porque as pessoas foram expostas nas redes sociais como um troféu de conquista (do prefeito). Eu encaro isso com muita naturalidade, mas só mostra que aquilo que a gente desconfiava já estava acontecendo, então, continuar numa relação como essa seria só adiar o problema. A gente tem que estar onde a gente é bem tratado, respeitado, valorizado. Não adianta de público você (o prefeito) dizer uma coisa e por trás fazer outra. Então, tem muita coisa acontecendo depois do rompimento. Pessoas nossas sendo perseguidas, ameaçadas, como é o caso de uma pessoa simples, que vende tapioca, correndo o risco de perder o seu ponto de venda. Esse tipo de coisa só mostra que tomamos a decisão correta. Agora, vamos seguir o nosso caminho.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.