Kayo César Freire da Silva, 36 anos, está entre os 21 eleitos e eleitas para a próxima legislatura da Câmara Municipal de Mossoró. Certamente, uma das surpresas da concorrida disputa eleitoral encerrada no dia 6 de outubro.
De origem humilde, com base na Ilha de Santa Luzia, Kayo Freire foi eleito pelo PSD com 1.938 votos, na base do prefeito reeleito Allyson Bezerra (União Brasil), desafiando as grandes estruturas dos atuais vereadores.
Para Kayo, a sua vitória faz parte de um processo de vida em que ele sempre, desde jovem, militou na política. Por 15 anos foi assessor parlamentar e chefe de gabinete na Câmara Municipal, acumulando experiência, o que certamente poderá ser um diferencial para ele compor a futura Mesa Diretora, caso seja a vontade do seu grupo político que terá 15 dos 21 vereadores.
Kayo Freire tomou o “Cafezinho com César Santos” na sede do Jornal de Fato, quando falou sobre a história, como construiu o projeto de candidatura a vereador e como desenvolverá o mandato a partir de 1º de janeiro de 2025.
“Serei, efetivamente, o vereador do Povo”, adianta, para justificar: “A minha origem na periferia, de família humilde, credencia-nos para levar o povo para a Casa do Povo.” Leia:
O senhor aparece como uma das surpresas nas eleições deste ano; a sua vitória nas urnas não era esperada pelo grande público. No entanto, a sua atuação política não é de agora, não é recente. Qual é a origem de seu trabalho que consolidou o projeto eleitoral?
A minha militância na política eu costumo dizer que ela iniciou bem antes de eu votar. Na minha juventude, dentro do movimento estudantil, a gente já tinha essa visão de entrar para a política, desenvolver essa atividade que eu considero nobre, exatamente para lutar pelas camadas da sociedade menos favorecidas. Ter o mandato, naquele momento, não era o meu objetivo. Eu entrei para a política para colaborar com a sociedade de alguma forma, então, desde muito jovem eu já estava na política, trabalhando, assessorando e participando de algumas campanhas eleitorais. A minha presença entre os eleitos para a Câmara Municipal de Mossoró pode ser algo novo, mas faz parte de um processo iniciado lá atrás. O novo nesse momento foi eu disputar um mandato e vencer nas urnas, mas a atividade política sempre fez parte da minha vida. Sempre fui atuante, sempre gostei de participar de campanhas eleitorais, assessorar, arregimentar pessoas. A minha eleição agora, com certeza, é o resultado de todo esse processo.
O senhor teve um desafio muito grande que foi enfrentar uma concorrência de grandes estruturas, inclusive, dentro do seu próprio partido, por isso, a sua vitória é considerada surpreendente. Como foi enfrentar os chamados “gigantes” na batalha pelo voto?
Quando o prefeito Allyson Bezerra nos convidou a disputar a eleição para vereador pelo PSD, confesso que nós tivemos que analisar profundamente. Tivemos que repensar estratégias, até porque eu seria candidato pelo Solidariedade, e aceitamos o desafio porque tivemos o entendimento que estávamos preparados para enfrentar essa batalha. A gente sabia que não era fácil diante dos candidatos que já estavam no PSD e que tinha uma estrutura financeira melhor; também analisamos que o nosso grupo nos daria o suporte para nossa candidatura lutar com possibilidade de vitória. Havia uma expectativa, inclusive do próprio prefeito, que o PSD elegeria de quatro a cinco vereadores. No decorrer da campanha, Allyson Bezerra nos dizia: “Kayo, a sua campanha tem crescido e o PSD vai eleger quatro ou cinco vereadores.” A gente passou a acreditar nessa possibilidade, a nossa campanha cresceu muito e nós acabamos conquistando o nosso objetivo.
O grupo que deu sustentação a sua candidatura tem origem em qual segmento e de que forma influenciou o seu projeto eleitoral vitorioso?
Eu sou do segmento evangélico, tenho o respeito dos pastores Saulo e Osair, o apoio de várias lideranças da igreja evangélica. Eles não fazem política dentro da igreja, mas nos apoia de outras formas dentro das comunidades. Esse é um segmento importante que faz parte do nosso grupo. Temos um trabalho de base consolidado, com várias lideranças e posso citar o apoio importante da conselheira titular mais votada em Mossoró, Jeneffer, que nos ajudou muito. A cultura também está presente na minha trajetória. Eu era presidente do Conselho Municipal de Cultura, de onde me afastei para ser candidato. A cultura é uma das minhas paixões, desde de criança que participamos de atividades culturais. Esse segmento nos ajudou muito, os quadrilheiros (membros de quadrilhas juninas), estudantes de teatro e ativistas culturais participaram da nossa campanha, realizaram um trabalho importantíssimo. Então, o nosso grupo está preparado. No primeiro momento, nossa pretensão era apoiar algum candidato comprometido com a nossa causa, mas depois, quando surgiu o convite para eu ser candidato, o grupo entendeu que era o momento de ter nome próprio à Câmara Municipal de Mossoró.
O senhor tem origem em família humilde, com base na Ilha de Santa Luzia, onde sempre morou. Certamente, sentiu as consequências da forma como as camadas mais humildes ficam à margem das políticas públicas. O seu mandato, de certa forma, credencia-se pela luta por justiça social e como ele representará as suas origens?
Eu quero estar na Câmara para fazer política para quem precisa, para trabalhar para que as políticas públicas cheguem aos mais carentes, aos mais necessitados. Eu conheço bem essa realidade. Sei o sofrimento das famílias mais pobres que precisam de saúde pública, precisam das políticas sociais, precisam do ensino público de qualidade. O nosso mandato será construído nas ruas, nós vamos estar sempre ao lado daquelas pessoas que precisam. Vamos continuar de mãos juntas, unidas, pois assim seremos mais fortes. Graças a Deus eu consegui com muita luta vencer na vida. Não foi fácil, passamos por muitas dificuldades. Eu sei o que é receber um não, uma porta fechada, eu sei o que é precisar de uma alimentação e não ter, eu sei o que é buscar um espaço dentro da sociedade em que as portas estão fechadas para aquelas pessoas negras, que são da periferia, que são humildes. Mas a partir de janeiro de 2025, a Câmara de Mossoró terá efetivamente um vereador do povo.
O eleitor promoveu grande mudança na Câmara Municipal de Mossoró, tanto que dos 23 vereadores atuais apenas oito retornarão em 2025. Esse processo provavelmente é uma resposta ao baixo rendimento da atual legislatura e, principalmente, ao fato de a Câmara não cumprir o seu papel de fiscalizar o Executivo. Qual a sua expectativa para a Legislatura que o senhor fará parte? Como vai ser a sua atuação política dentro da Casa?
Eu fui eleito na base do prefeito e, logicamente, sou da bancada governista e seguirei a orientação do nosso líder político, que é Allyson Bezerra. Mas posso garantir que a minha atuação na Câmara Municipal será de muita responsabilidade com o povo de Mossoró. Tudo aquilo que for para o benefício para a nossa cidade, para contribuir com o nosso desenvolvimento, contará com o apoio do nosso mandato. Eu quero estar na Câmara para defender a união. O confronto político temos que fazer na época da campanha, dentro do processo democrático, e o trabalho na Câmara deve ser cumprido sem o radicalismo político. O processo eleitoral se encerrou, agora todos nós temos que trabalhar pelo bem comum, em defesa do desenvolvimento da cidade. Mossoró não precisa de brigas paroquiais, de picuinha política, precisa, sim, de união para continuar crescendo. É essa união que vou defender na Câmara Municipal.
Mas o senhor acha que o prefeito Allyson, tomando por base a sua atual gestão, respeita as diferenças políticas na Câmara, respeita o debate com a oposição?
O prefeito Allyson tem feito um grande trabalho, Mossoró avançou muito nos últimos quatro anos, e acredito que vai avançar cada vez mais. Mas é preciso que a classe política tenha o entendimento da união, da parceria, para que a cidade possa receber ainda mais benefícios. Defendo essa união e acredito que o prefeito é um político de diálogo e que está aberto nesse sentido. Então, acho que a governadora Fátima Bezerra (PT), os deputados estaduais e federais e os senadores, que têm votos em Mossoró, precisam dar as mãos e fazer com que a nossa cidade siga verdadeiramente nos trilhos do progresso, do desenvolvimento. Na Câmara, combaterei tudo que for contra a nossa cidade, e terá o meu apoio tudo que for para o benefício do povo.
Na atual legislatura, a bancada governista apoiou todos os projetos encaminhados pelo Executivo, inclusive aqueles polêmicos que retiraram direitos dos servidores públicos. Qual será a sua posição, mesmo governista, em relação a esse tipo de projeto?
Eu acredito que o prefeito Allyson não mandará nenhum projeto à Câmara que não seja para beneficiar a população. E, se isso acontecer, claro, terá um posicionamento firme do vereador Kayo Freire. Votarei conforme as minhas convicções, que são exatamente de defesa de Mossoró, de defesa da população. Reafirmo: estarei na Câmara para defender a nossa cidade.
Já está bastante avançado o debate sobre a escolha do futuro presidente da Câmara de Mossoró, com dois citados como favoritos: Genilson Alves (União), atual líder da bancada governista, e Thiago Marques (SDD), da cota pessoal do prefeito Allyson. O senhor tem participado das articulações, já foi chamado para discutir o assunto? Como está esse processo dentro da base política de Allyson?
Nós não fomos procurados por nenhum vereador para tratar sobre esse assunto. O que é que eu defendo? A base do prefeito Allyson Bezerra, que elegeu 15 vereadores, tenha o entendimento para eleger o presidente da Câmara. Nada mais natural que dentro dessa base surja um nome que venha ser consenso, que seja Thiago Marques, Genilson Alves ou qualquer outro. Quero dizer que tanto Thiago como Genilson têm competência para presidir o nosso Legislativo. Thiago já foi secretário, chefe de Gabinete Civil; e Genilson já tem quatro mandatos na Câmara, então, são dois nomes preparados. Espero que a nossa base política defina um candidato de consenso para liderar a nova legislatura municipal. E um detalhe: espero que o próximo presidente consiga aproximar a Câmara da sociedade, que o próximo presidente tenha a sensibilidade de levar a Casa do Povo para o povo de Mossoró.
Durante a campanha, o senhor apresentou alguns projetos que chamaram a atenção e, certamente, foi apoiado pelas camadas mais carentes. Um deles é a implantação de um programa de distribuição de leite e pão para os mais pobres. O senhor realmente acha possível que o município acolha esse projeto social?
A Prefeitura de Mossoró, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, tem condições de implantar essa nossa proposta. Também podemos pensar numa parceria com o Governo do Estado ou Governo Federal para viabilizar o projeto. Em Brasília, na área social do governo federal, tem recursos para essas ações nos municípios. O nosso papel será apresentar o projeto e buscar os apoios necessários para viabilizar a proposta. Eu quero ser, e serei, se Deus quiser, o vereador da alimentação do povo de Mossoró. Essa questão social me sensibiliza muito. Conheço o sofrimento nos bairros da cidade. Nessa campanha, visitei todos os bairros, andei casa a casa, porta a porta, e vi verdadeiramente as dificuldades das famílias mais simples. Ouvi muito e em muitas casas as pessoas dizerem: “hoje só fizemos uma refeição”. Então, levantarei essa bandeira na Câmara e farei o que for possível para o município criar essa política pública de assistência a quem tem fome.
O senhor também defende a criação de um programa que incentive a produção textual e a leitura nas salas de aulas da rede pública de ensino. Como seria desenvolvida essa proposta?
Entendemos que a prática da redação deve começar muito cedo nas escolas públicas, assim como já acontece na rede privada. A redação define vagas no Enem, é um diferencial que os alunos da rede pública acabam não acompanhando. Se o aluno começa a praticar logo cedo, desenvolvendo essa habilidade ao longo dos anos de estudo, quando chegar ao momento de disputar vagas nas universidades, por meio do Enem, esse aluno estará muito mais preparado para a concorrência. Então, a ideia do programa Aluno Nota 1000, que apresentaremos na Câmara, será justamente o incentivo que o aluno precisa para desenvolver as suas habilidades logo cedo e, por consequência, ser melhor preparado para a concorrência na hora do Enem.
A votação histórica do prefeito Allyson Bezerra, com mais de 78% dos votos válidos, de imediato o colocou no tabuleiro da sucessão estadual 2026. Ele já é visto como pré-candidato a governador do Rio Grande do Norte. Como o seu grupo político está tratando sobre essa possibilidade?
Dentro do nosso grupo nunca tratamos sobre esse assunto. O que se sabe é o que setores da imprensa divulgam, colocando Allyson Bezerra como um nome possível ao cargo de governador nas eleições de 2026. A votação do prefeito Allyson consolida ele como uma liderança também estadual, que certamente será ouvido dentro do processo da próxima sucessão do governo do Rio Grande do Norte. Veja a importância que Mossoró tem no cenário político estadual. Nas últimas quatro eleições, a cidade foi fundamental para o resultado das eleições. Somos o segundo maior colégio eleitoral do estado, então, Mossoró será chamada no momento certo. Acreditamos que Allyson Bezerra está credenciado para disputar o Governo do Estado, mas isso será debatido no tempo certo, se assim for o desejo do prefeito.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.