Por Amina Costa / Repórter do JORNAL DE FATO
O documentário Solo Negro, produzido pela equipe de comunicação da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, foi contemplado com dois troféus no III Cine Caatinga – Experiências audiovisuais no sertão, Festival de Cinema de Petrolina, em Pernambuco, que reúne produções audiovisuais de toda Região do Semiárido Brasileiro. O filme curta-metragem, de 28 minutos, aborda as vivências dos moradores de duas comunidades quilombolas de Portalegre, Pêga e Arrojado, sendo um produto de extensão universitária.
O documentário recebeu os troféus Cabrito Prateado e Cabrito Dourado. O primeiro foi conquistado porque a produção estava entre as 50 finalistas entre mais de 200 inscrições de curtas-metragens de gêneros variados, como ficção, documentário, experimental e videoclipes. O segundo troféu foi conquistado por “Solo Negro” ter sido vencedor na categoria voto popular, alcançando 36,8% dos votos do total de mais de 30 mil de todo o festival.
Nesse quesito foram contemplados os três filmes mais votados, ficando o documentário da UFERSA na primeira colocação. Foram selecionadas 16 produções para receberem o Troféu Cabrito Dourado. O Solo Negro também está inscrito no Festival Curta Caicó e a intenção da equipe é participar de outros que aparecerem no decorrer do ano.
Com direção de Passos Júnior e roteiro de Carlos Adams, a intenção da produção é documentar o dia a dia dos moradores e dar visibilidade a essas comunidades. O diretor agradeceu o empenho de toda a equipe de Comunicação da Universidade, da comunidade acadêmica e de todas as pessoas que votaram e escolheram o documentário mossoroense como favorito.
O documentário aborda a questão das comunidades quilombolas, com a captação das memórias passadas, presentes e futuras de duas comunidades de Portalegre: Pêga e Arrojado. “Encaramos como um compromisso social da Universidade proporcionar uma maior visibilidade dessa população que ainda, apesar de alguns avanços, continua a necessitar de uma maior atenção por parte da sociedade e, principalmente, do poder público”, informou Passos Júnior.
O diretor do documentário informou que a ideia de produzir um documentário a partir da percepção de que a importância do povo negro para o desenvolvimento do país continua desconhecida ou sendo desconsiderada. Isso acarreta preconceito, o racismo, a discriminação, entre outras mazelas sociais pelo simples fato da cor da pele. Ele ressalta que essa é uma realidade que precisa mudar. “Entendemos que cabe também à Universidade esse resgate histórico/ antropológico dos descendentes de pessoas que foram escravizadas e que hoje denominamos de populações quilombolas”.
A gravação e a edição do material ocorreram no final do ano passado. “Gravamos no início de novembro de 2021 e, corremos para editar o material e poder lançar ainda em dezembro. Na semana do Natal, mais precisamente no dia 21 de dezembro, voltamos ao Sítio Pêga onde montamos uma estrutura de exibição com o apoio dos moradores e lançamos para a comunidade o ‘Solo Negro”, informou o roteirista Carlos Adams.
O documentário foi produzido com o mínimo de interferências na realidade da comunidade, captando memórias dos membros das comunidades quilombolas, partindo da perspectiva de futuro para os jovens, a partir do princípio da educação e do ingresso em uma universidade. Com isso, foram colhidos depoimentos marcantes de pessoas idosas e de jovens que vivem nas localidades.
Carlos Adams acredita que as populações afrodescendentes têm muito a contar dos seus antepassados. Ele lamenta que os livros de história não trazem com profundidade a riqueza da cultura e das tradições afro que chegaram ao Brasil a partir dos povos escravizados africanos durante as épocas do Brasil Colônia e Império.
Passos Júnior fala ainda sobre a satisfação de estar levando o nome da Ufersa para outros estados. “Foi o resultado de um trabalho bonito, profissional que nos encheu de orgulho. Ainda mais por saber que estamos levando o nome da UFERSA para todo o Semiárido, com uma temática importante e comprometida com a questão social, cultural e política da população negra, num Festival importante que já chega a sua III edição e que extrapola a Região Nordeste.
Produção trouxe à tona a identidade de um povo até então esquecido
Dezessete personagens concordaram em compartilhar suas histórias e vivências em frente às câmeras, inclusive dona Aldizes da Conceição Bessa, uma das moradoras mais antigas do Sítio Pêga. Com quase noventa anos, a anciã foi uma das personagens principais do filme. Além do Pêga, moradores do Arrojado contaram suas histórias.
O filme Solo Negro nasceu a partir da visita realizada em setembro pelo Secretário Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Paulo Roberto, às comunidades. Nesse momento, o diretor e chefe de comunicação da Ufersa, o jornalista Passos Jr, percebeu a importância de dar mais destaque a esse povo e resolveu fazer um resgate de sua memória.
“O documentário trouxe a alma, a identidade e a memória e, acima de tudo, eternizou momentos e a história de uma comunidade que precisava ser contada”, afirma a reitora da Ufersa, Ludimilla Oliveira, que acompanhou todo o processo de produção do conteúdo audiovisual.
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