Foliões se divertem em bloco de Carnaval 2024 na Redinha
Por Tribuna do Norte
Fantasia igual não tem. É só pintar uma terça-feira de Carnaval e lá estão eles para provar que tirar proveito da folia depende de uma receita simples, mas bastante criativa, afinal, dá para pegar uma pitada bem generosa de alegria e irreverência, misturar tudo com uma boa dose de descontração, cair no mangue e pronto! Está completa a alegoria. E sabe qual é o melhor? Não precisa gastar nada para confeccionar a fantasia mais inusitada de todo o País, quiçá. É assim há muito tempo com o bloco Os Cão, que reúne uma multidão em cortejo pela Redinha, na zona Norte de Natal, com os foliões ‘vestidos’ de lama. A ‘peça’ é extraída do mangue e garante a descontração durante a passagem da multidão pelo bairro.
“Estou vindo pela primeira vez e estou achando ótimo. Nunca tive interesse em vim, mas agora que me aposentei, quis saber como era e está sendo muito divertido. Foi bom demais se melar. Se Deus quiser, no próximo ano estarei aqui de novo”, diz o aposentado Antônio Pereira. Luzia Sirino veio ao bloco pela terceira vez. ” Quando vim de primeira, fiquei um pouco desconfiada, mas a galera me empurrou para o mangue e eu não quis mais sair. A lama faz bem para a pele, para o cabelo. É hidratante”, garante a mulher entre gargalhadas.
Um dos blocos mais tradicionais da capital potiguar, Os Cão é considerado Patrimônio imaterial e cultural de Natal desde 2021, após aprovação da Lei Municipal nº 7.192. Em 2024, de acordo com estimativa da organização, cerca de 8 mil pessoas se reúnem para mais um ano de festa. A concentração acontece no mangue, embaixo da Ponte Newton Navarro. Uma vez o folião devidamente trajado, é hora de percorrer as ruas do bairro com muito frevo e animação. A saída do mangue será embalada pela Orquestra do Velho Tunga, mas a festa também terá participação do grupo de percussão Pau e Lata para puxar a multidão pelas ruas, como ocorre tradicionalmente, além dos paredões de som, que animam os brincantes no final da festa de momo.
“Os Cão é um bloco extremamente democrático, com muita alegria e com um abadá totalmente disponível. Nossa fantasia é a lama. Já são 60 anos de irreverência, com um trabalho de educação para preservar a natureza e só melar quem realmente está na folia. Cão que é cão não mela quem não é cão”, afirma Ana Paula Nunes, madrinha e uma das organizadoras do bloco.
O bloco nasceu em 1962. Para o surgimento do grupo são contadas duas versões. A mais plausível, descrita pelos brincantes, afirma que os fundadores são Francisco Ribamar de Brito (Dodô), o irmão dele, Armando Ferreira de Brito (o Gago), Francisco Clemente da Silva (Chico Baé), Francisco Valdécio (Chico do Cabo) e Djalma de Andrade (Uá), além de José Gabriel de Góes (Zé Lambreta). Em um momento de bebedeira, eles tiveram a ideia de se ‘vestir’ de lama e sair pelas principais ruas da praia da Redinha.
O entrudo foi batizado pelas próprias pessoas do bairro, que ao verem Zé Lambreta, Dodô e os amigos lambuzados de lama no meio da rua gritavam: ‘Olha os cão!’ O tempo passou e o bloco tomou uma grande dimensão nos carnavais contemporâneos, com milhares de seguidores que se lambuzam de lama no manguezal próximo à ponte Nova para sair brincando pelas ruas da praia da Redinha e Redinha Nova, ao som de marchinhas de carnaval, orquestra de frevo e percussão de pau e lata.
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