Por Ângela Karina - Jornal de Fato
“Como a memória constrói a realidade?”. É com esta indagação que o Núcleo Gênero e Interseccionalidade (GENI), projeto de ensino e extensão com foco em cinema e literaturas feministas, ligado ao Programa de Extensão da Educação Superior na Pós-Graduação (PROEXT-PG) Prosol, retoma as atividades nesta quinta-feira, dia 25 de abril, a partir das 16h, após pausa para recesso.
O PROEXT-PG Prosol foi o primeiro projeto de extensão da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) voltado para Pós-Graduação, viabilizado pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e que nele teve a atividade de extensão do Núcleo Geni – tendo à frente como coordenadora a professora Daiany Dantas, do Departamento de Comunicação Social (Decom/UERN) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem (PPCL/UERN) – inscrita pelo PPCL/UERN e que conta também com apoio do Programa de Educação Tutorial (PET) Mídias do Decom/UERN.
A programação de celebração do primeiro ano do Núcleo Geni foi elaborada especialmente com foco nas comemorações do Abril Indígena, oportunidade ímpar para dialogar sobre ancestralidade, memória social e indígena no RN, e o melhor: ofertada à comunidade totalmente gratuita, sendo necessário apenas fazer a inscrição prévia no link da bio do projeto, no ig @nucleo_geni
Para o retorno do Cineclube e Clube de Leitura, realizados mensalmente no auditório do Departamento de Comunicação da Uern, o Núcleo Geni apresenta duas referências femininas no cinema e na literatura potiguares que atravessam fronteiras.
Júlia Batista, mestranda em Literatura feminina indígena do RN
No Clube de Leitura, a apresentação da escritora Eva Potiguara e a obra “Os Herdeiros de Jurema” — uma narrativa que nos conecta à ancestralidade indígena e aos silêncios forçados da nossa história — com a qual Eva recebeu o Prêmio Literatura de Mulheres Carolina Maria de Jesus 2023, na categoria Romance. Júlia Batista, mestranda em Literatura feminina indígena do RN pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem (PPCL/UERN), fará a mediação. Na oportunidade, a escritora Eva Potiguara lança e autografa, além da obra apresentada neste encontro, “O Guardião das Goiabas”.
Marília Gurgel, artista multimídia focada em narrativas visuais
No Cineclube, a exibição do filme “Saudades” — curta-metragem potiguar realizado na pandemia, em que o luto, saudade e memória se entrelaçam com força poética —produzido por Marília Gurgel, artista multimídia focada em narrativas visuais que se fará presente e enriquecerá o debate ao lado de Eva e de outras mulheres fantásticas.
A coordenadora Daiany Dantas explica que “o Núcleo é uma iniciativa pluridisciplinar e transdisciplinar de pensar narrativas contemporâneas com recorte de gênero e interseccionalidade, que é aquele recorte que compreende que o gênero é atravessado por questões de raça e classe, ou seja, ocupa-se em pensar narrativas contemporâneas pelo viés do gênero, raça e classe”. ((FOTO 4)
A idealizadora pontua que a inclusão, a (in)visibilidade, a origem dos filmes e acesso – ou melhor, a falta dele – ao grande público são determinantes para a escolha. “Precisam ser filmes que nós entendamos que vamos estar fazendo um trabalho de sensibilização das plateias; que não sejam tão acessíveis ao grande público, que não sejam alvo constante da mídia”. A docente detalha a seguir qual o escopo e como são as atividades desenvolvidas no projeto.
“O escopo das obras é prioritariamente de mulheres cis, pessoas trans e pessoas não binárias. Tentamos falar de temas, realidades e, também, observamos o viés biográfico das autoras, das realizadoras, porque o recorte de gênero compreende que o cinema sempre visibilizou a autoria masculina como uma autoria consolidada e existem várias pesquisas, como a da ANCINE que aponta que o espaço de visibilidade ocupado pelas mulheres no audiovisual é de apenas 5%; no mercado literário, as mulheres ocupam cerca de 30% do espaço masculino, por isso é tão necessário fazer esse recorte”, revela.
Indagada sobre a escolha das obras a serem debatidas, estudadas, a coordenadora Daiany Dantas explica que há várias formas de fazê-la. “Primeiro a gente elege os critérios, que a cada ano tem sua base atualizada, sendo o primeiro deles o da interseccionalidade; da diversidade de gênero, o de um espectro de classe. A partir dessa curadoria, que alinha esse recorte interseccional de raça, gênero, diversidade sexual, humana e política, é possível, por exemplo, escolher uma obra de Carolina Maria de Jesus, “Quarto de Despejo”, porque dá uma visada sobre uma realidade geográfica social, institucional, política e racial, que não é usual”, reflete.
“Para isso, nós fazemos exibições de filmes vinculados a cinema independente, produzido por realizadoras em contextos de dissidência, filmes de grupos que muitas vezes não têm acesso a grandes editais e que não estão vinculados à grande indústria do cinema, chamado filme menor, cinema menor, documentários, produções de coletivos de mulheres, coletivos LGBT, produções universitárias e também fazemos um clube de leitura. São círculos de atividades que reúnem debates sobre filmes e livros, todos eles atravessados pela lógica da interseccionalidade”, sintetiza.
A professora Daiany Dantas conta com colaboração de mulheres incríveis, a exemplo das professoras e escritoras Leila Tabosa, Verônica Aragão, dentre outras, para que o Núcleo Geni venha se firmando como uma excelente ferramenta de troca de saberes e o mais importante: a difusão e valorização da produção feminina no cinema e literatura, renegada à exaustão por uma cultura de patriarcado enraizada no seio social que, infelizmente, ainda limita a presença feminina em lugares vários, quiçá de mulheres indígenas, afrodescendentes, mas que já passou da hora de ser rompida.
Para isso, um dos caminhos, seguros, é sem dúvida por meio da educação, como bem fazem Daianys, Leilas, Verônicas, Evas, Marílias, Júlias e muitas outras pessoas que enxergam a mulher sem ser pela lente da misoginia, do sexismo, do machismo estrutural e indicam textos literários que foram lidos ou estas tiveram acesso em feiras literárias, festivais, resenhas de revistas especializadas, indicações de leitores e de pessoas do próprio coletivo.
No campo das obras audiovisuais, Daiany revela que esse ano o Núcleo vai ter uma ampliação desse espectro, a partir de um formulário de cadastro de realizadoras do Rio Grande do Norte. “Nos anos anteriores, foram utilizados material de acervo tanto do Youtube quanto de plataformas audiovisuais abertas com esse recorte de gênero e raça e de cineclubes e festivais parceiros, como o Cineclube Fincar – Festival Internacional de Realizadoras, que ocorre em Recife – PE”, finaliza.
Mulheres livres de rótulos preconceituosos são capazes, talentosas, excepcionais!
PODCAST GENI
Pensando em ampliar o alcance de boa parte de tudo o que foi discutido no decorrer de 2024 e dos próximos encontros, o Núcleo Geni passou a produzir o Podcast Geni, que pode ser ouvido on-line no Spotify, por meio do link
https://open.spotify.com/show/2PyEeTnlmXeMg3cFw6fbHN?si=KBKa5koGRTmeUAT3nr_brw
O Podcast Geni é um projeto de extensão do Departamento de Comunicação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Cheios de vozes e perspectivas Núcleo Geni, os episódios são derivados dos encontros do Clube de Leitura e Cineclube do Núcleo Geni – Gênero e Interseccionalidade. Busca unir pontas e construir pontes entre temas como gênero, raça, classe, sexualidade, entre outros.
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