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Postado às 12h15 | 04 Jul 2021 | Redação Coleção Juliano Escóssia - Manifestação artística nas imagens de São Francisco

Crédito da foto: Reprodução Coleção de São Francisco, de Juliano Escóssia

Por Marcio de Lima Dantas - Prof. Doutor UFRN

Juliano Lauro da Escóssia Nogueira nasceu em Mossoró/RN, em 1940, vindo a falecer em Fortaleza (CE), em 2014. Formado em Economia pela Universidade de Brasília, cidade onde foi residir em 1967, tendo se tornado servidor de carreira do Senado Federal.

Detentor de uma grande coleção de imagens de São Francisco de Assis, cerca de quase quatrocentos itens, pois não se limitava às esculturas, mas também tudo o que dissesse respeito à retratação do santo, fossem telas ou outros artefatos.

Essa saudável obsessão do ato de colecionar, praticamente extinta em nossos dias, tendo em vista que a deusa Mnemósine a pouco e pouco perde legiões de adeptos em nome de se levar em conta o instante ancorado no presente, - como se fosse passar a página de um livro, seu usofruto e imediato esquecimento, - teve em Juliano um dos seus últimos e fervorosos adeptos.

Antes de falecer, fez questão que a coleção ficasse com a sobrinha, a Sra. Sandra Rosado, hoje encontra-se na sua residência. Opulento acervo que enriquece o mundo das artes na cidade de Mossoró.

A coleção teria sido iniciada quando sua esposa, Sra. Otília, o presenteou com uma imagem de São Francisco feita de argila por um artesão gaúcho. Oriundo de uma tradição familiar católica, não seguiu. Somente após uma certa idade retornou a praticar a religião dos seus ancestrais, o Catolicismo, tendo feito a caminhada de Santiago de Compostela. Quer dizer que não era devoto do santo, costumava dizer que o interesse se encontrava na atração e no aspecto plástico de como estava formatado o ícone-primevo de onde partiu toda a coleção. Em síntese, buscava a dimensão estética, não a religiosidade com seus dogmas de fé e devoção. Com o tempo, esse pensamento transmutou-se.

A coleção detém um caráter metalinguístico bastante evidente, sendo monotemática. Ou seja, as inúmeras possibilidades que um conteúdo base (ícone de São Francisco) pode variar numa multiplicidade de suportes (materiais). Uma espécie de variação sobre o mesmo tema. Nesse sentido, a arte fala da arte, debruçando-se sobre o Como se diz, não o Que se diz.

Para o linguista Roman Jakobson (Linguística e comunicação), sempre que a linguagem fala da própria linguagem temos a função metalinguística. Ou seja, sempre que o discurso focaliza no código, constata-se a metalinguagem. Isso significa dizer que em sua grande maioria os enunciados fazem referência implícita ou explicitamente ao próprio código em questão.

Trazendo para o que tratamos: a coleção de imagens de São Francisco de Assis de Juliano Escóssia é uma manifestação artística em quase todas as peças, uma forma do humano se expressar, uma linguagem, visto que o termo linguagem não se restringe apenas à língua, mas a tudo o que refere como cultura, aquilo construído pelo homem.

De outra parte, também é considerado como um código ou sistema semiótico ou sistema de signos, detendo eventual sentido ou uma multiplicidade de sentidos, metáforas ou simbologias, consoante tempo ou espaço onde foi engendrado, ou mesmo relativo a determinada cultura ou etnia.

Para além, do aspecto estético há uma série de coincidências ou sincronicidades entre Juliano Escóssia e datas referentes à vida de São Francisco de Assis. O aniversário dele cai no dia dedicado às Chagas de São Francisco. Ele não tinha consciência dessas informações ao iniciar a coleção. Também costumava passar o dia dezessete de setembro, em Canindé (CE), cidade famosa pela devoção do santo, cujos devotos em sua grande maioria são os pobres ou desfavorecidos socialmente.

Sabendo do interesse de Juliano Escóssia por São Francisco, os amigos viajavam e ofertavam itens de muitos lugares do mundo. A coleção detém peças que vão de um autêntico exemplar de arte Cuzqueña, passando por uma peça vinda do México, elaborada em conchas e búzios, o santo esculpido em um palito de fósforo, um Playmobil franciscano, até mesmo encomendou a um santeiro de Pirapora (MG) uma imagem de São Francisco da altura dele (1,69m), o maior da coleção, finalmente, chega à contemporaneidade com uma imagem no estilo Romero Brito.

Enfim, diria apenas do santo São Francisco de Assis: respeitado mais como homem detentor de um comportamento eivado de caráter, honestidade e autenticidade consigo próprio. Tanto é que abandonou uma vida de filho de gente abastada para peregrinar em busca de seus projetos espirituais. Prova disso é que pessoas praticantes de outras religiões o admiram e respeitam seu modo de vida.

Juliano Escóssia faleceu no dia quatro de outubro, exatamente um mês antes do dia de São Francisco de Assis. Paz e bem.

 

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