Por Raphael Zarko — Doha, Catar
A nova queda precoce da seleção brasileira nas quartas de final da Copa do Mundo não deixou só torcedores arrasados e jogadores entristecidos no Brasil. Treinadores brasileiros também se decepcionaram e lamentaram profundamente a eliminação sob comando de Tite.
Tite é quase unanimidade entre treinadores jovens e veteranos no futebol brasileiro como melhor em atividade no país. Mas, em diversas conversas nos últimos dias, os profissionais viram na derrota nos pênaltis para a Croácia, quatro anos depois de perder para a Bélgica, na mesma fase, combustível para reforço do estigma de que os técnicos brasileiros precisam ser substituídos por estrangeiros.
Em alguns grupos de Whatsapp com quase 200 treinadores e também analistas de desempenho, o debate, do qual o ge colheu impressões, tem sido marcado sobre o impacto da eliminação da Seleção de Tite no mercado de técnicos e de profissionais do futebol no país.
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, já dizia antes do Mundial do Catar que não ia restringir a procura pelo sucessor de Tite a um nome brasileiro. Antes dele, Rogério Caboclo, que deixou a CBF afastado pela Comissão de Ética, fez contato com o espanhol Xavi, hoje no Barcelona, e acenou com a possibilidade dele substituir o treinador na Seleção.
Publicamente, o assunto vai seguir sendo tratado com naturalidade pelos profissionais brasileiros. A resposta padrão é que "competência não tem passaporte" . Mas há percepção de como o efeito Tite pode provocar ampliação da entrada de técnicos estrangeiros no país.
Antes da derrota da Seleção com Tite, a Série A de 2023 já repete a marca de estrangeiros no país de 2022. São 10 nomes, recorde no futebol brasileiro.
Abel Ferreira, do Palmeiras, segue em pauta na CBF, mas ele é apenas um dos outros sete portugueses na elite do futebol brasileiro: Luis Castro (Botafogo), Pedro Caixinha (Bragantino), Renato Paiva (Bahia), Ivo Vieira (Cuiabá), Vitor Pereira (perto do Flamengo) e Antonio Oliveira (Coritiba) completam a lista.
Os outros gringos são os argentinos Eduardo Coudet (Atlético-MG), Juan Pablo Vojvoda (Fortaleza) e Paulo Pezzolano (Cruzeiro).
Tite, recentemente, ficou em sétimo lugar na eleição promovida pelo ge, apenas com treinadores. Mais de 100 pessoas votaram, de todas as idades, de todas as regiões do país, em atividade ou aposentados. Ele foi citado 14 vezes.
Era nome de referência no mercado interno e, de certa maneira, retribuía o reconhecimento ao dizer que tinha preferência de que fosse substituído por um brasileiro no comando técnico da Seleção.
Nos fóruns, há temor até pela interrupção da agenda de valorização de profissionais do futebol. Tite tinha comissão técnica e estafe de 74 pessoas em Doha, no Catar. Viajou o mundo para observar jogadores, tinha oito membros fixos na comissão da Seleção e contou com geração jovem e reconhecidamente talentosa, mas não foi suficiente para vencer outra Copa.
As medidas são consideradas prudentes para melhorias do futebol, mas que podem ser cortadas após a derrota. Em bom português, serem consideradas superficiais quando a bola não entra. Antes da Copa, Tite, no "Bem, Amigos", já havia comentado que seria importante para a CBF manter estrutura semelhante à que ele teve à disposição, independentemente da escolha futura de treinador.
Todas questões ficam pendentes de análise da direção da CBF e que são vistas como incógnitas neste momento de transição. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, prometeu voltar a cargo para a escolha do novo treinador apenas em janeiro.
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