Por Fred Gomes — Rio de Janeiro
Alvo de brincadeira nas redes sociais pelo tratamento dado aos companheiros mais próximos de Flamengo, o "querido" Filipe Luís não tem conseguido em 2023 viver dentro de campo a intensa e constante troca de carinho que sempre teve com a torcida do clube do coração. Jogou apenas duas vezes na temporada por conta de lesões. A primeira, sofrida na final da Libertadores, o fez temer pela continuidade no futebol. A segunda lhe tirou das últimas 10 partidas do Flamengo.
A da decisão em Guayaquil é raríssima. Lesionou a pata de ganso (região formada por três músculos: Sartório, grácil e semimembranoso) da perna direita e foi substituído no primeiro tempo. A de fevereiro aconteceu na fáscia plantar do pé direito.
- Eu tive uma lesão muito complicada na final da Libertadores. E eu não sabia. Fiquei aqui nas férias tratando, optamos por um tratamento conservador, e eu não sabia realmente se ia conseguir voltar a jogar. A gente renovou, mas sempre foi uma coisa que ficou em aberto. Se eu não conseguir, eu paro e pronto.
Não parou, voltou a jogar em 21 de janeiro, participou dos 90 minutos da goleada por 5 a 0 sobre o Nova Iguaçu e deu assistência para Gabigol. Tornou a atuar no dia 1º do mês seguinte, mas sofreu nova lesão durante o Mundial, esta totalmente diferente da outra. Recuperado de ambas, Filipe garante que está pronto para encarar a temporada e entregar muito ao Flamengo.
O momento, segundo o atleta de 37 anos, é de lutar por uma vaga no time titular. A briga pode ser com o também lateral Ayrton Lucas ou com um dos zagueiros para fazer a saída com três.
- Eu tive medo porque eu sinto que estou bem fisicamente, que tenho forças e que eu tenho um entendimento de jogo melhor do que eu nunca tive. Então eu não queria encerrar a carreira assim. Foi um momento de dúvidas. Consegui me recuperar, botei essa lesão para trás depois de dois meses e meio. Aí depois da semifinal do Mundial eu tive uma lesão no pé, que é completamente diferente.
- Foram momentos difíceis, só joguei dois jogos, mas agora já estou 100% e agora o meu principal objetivo é competir por posição. Seja com o Ayrton na ala, seja com o Léo na zaga, com o David ou com quem estiver ali. Eu vou vender caro essa vaga. Quero jogar, me sinto capacitado para jogar e tenho certeza que tenho muito para ajudar o Flamengo. A partir do momento que eu não sentir esse frio na barriga, essa ambição por ser campeão, por jogar e fazer história no Flamengo aí sim é o meu momento de parar. Mas no momento estou me sentindo muito bem.
"O Gerson continua sendo o nosso Gerson"
Lesões superadas e recuperação passada a limpo, Filipe também encontra espaço para falar de um dos atletas que mais admira como jogador e pessoa dentro do Flamengo: Gerson. Em dezembro do ano passado, ao ge, comentou que estava ansioso por um desfecho positivo na negociação com o Olympique. O lateral-esquerdo discorda de quem vê o Coringa em momento ruim.
- Eu e Gerson somos muito diferentes. De cidades, idades e criações diferentes, e eu tenho um elo muito forte com ele. Me identifico muito com ele. Ele é um craque. Sabendo que o Gerson está no meu time, eu me sinto afortunado, me sinto um homem de sorte. Sei que ele tem um potencial infinito para crescer, é um jogador de seleção brasileira. Muita gente fala que ele não está vivendo um bom momento, mas eu não vejo assim. Eu vejo que ele está jogando muito bola, porém o momento do time faz com que todos os jogadores sejam colocados contra a parede.
- Aí falam: o Gerson não é o mesmo de 2020. Mentira, ele está jogando bem, não erra passe, faz as jogadas, marca e corre. O Gerson continua sendo o nosso Gerson, só que ele precisa que o time também consiga essa estabilidade e organização que estão faltando agora para a gente poder ser sólido e conseguir uma sequência de vitórias. A partir daí o Gerson cada vez mais vai crescer. Quando as vitórias não vêm, os jogadores fazem mais do que devem e acaba parecendo que a gente não está fazendo o que precisa.
Comentarista do Sportv na última Copa do Mundo, Filipe garante que o trabalho nas telinhas foi temporário e não se tornará uma constante em sua vida. Quer seguir no campo para fazer suas ideias mudarem o rumo das partidas e a história da vida de seus pupilos. Quer educar e ajudar o próximo a vencer.
- Eu prefiro ajudar no campo, mas eu gostei muito de ser comentarista. Fui super bem tratado, vivi uma coisa que nunca tinha vivido. Pensei que não fosse gostar e adorei, mas o meu amor realmente, a minha paixão é falar: "Se eu mudar isso aqui, vai dar certo, e o time vai melhorar". "Eu vou mudar a criação e a educação desses jogadores, eu vou ajudá-los como pessoa". Isso é uma coisa que eu tenho e vou seguir com ela para o resto da vida.
É chegada a hora de um dos mais queridos jogadores da história do Flamengo voltar a sorrir em campo. Às vésperas de voltar a ser utilizado por Vítor Pereira, não esconde o quanto quer reviver aquela troca de energia com os fãs rubro-negros no estádio.
- Obrigado pelo querido (risos), isso é muito catarinense. A gente chama todo mundo de querido. Realmente quando cheguei no Flamengo me senti muito bem acolhido, me senti em casa. Eu sinto o carinho do torcedor em cada momento que saio na rua. Inclusive nos piores momentos aqui, onde nosso time estava muito mal com troca de treinador e tal, e sempre fui muito bem acolhido pelos torcedores. E o torcedor se sente agradecido. Isso, para mim, não tem preço.
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