Por Tariq Panja, The New York Times
No momento em que o jato particular que transportara Lionel Messi para um evento publicitário na Arábia Saudita taxiou em uma pista francesa no início desta semana, sua trajetória no Paris Saint-Germain estava, na prática, encerrada. Ele seria suspenso um dia depois; a separação oficial não acontecerá até que seu contrato termine, em algumas semanas; e o jogo de empurra-empurra pode durar meses. Mas já na quarta-feira não havia dúvidas: o argentino nunca mais jogará pelo PSG — e ele e o clube estão tranquilos com isso.
O desfecho não é uma surpresa para nenhum dos lados. A relação entre jogador e clube sempre foi comercial, sem o componente emocional da passagem de Messi pelo Barcelona. E embora as partes tenham conversado sobre a renovação do contrato na esteira do título argentino na Copa do Catar, ninguém parecia comprometido com um acordo.
Mas, ao faltar a um treino na segunda-feira — um dia depois de o PSG ser derrotado em casa pelo Lorient, time mediano e que o elenco do Paris deveria passar por cima —, qualquer chance de renovação foi extinta.
As segundas-feiras são tradicionalmente de folga para os jogadores do PSG depois de uma vitória. Quando perdem, no entanto, espera-se que eles treinem.
Na tarde da última segunda, porém, Messi e sua família já estavam sendo fotografados na Arábia Saudita, cumprindo parte do contrato do jogador para promover o turismo no reino do Golfo. Em Paris, os dirigentes do clube estavam formulando uma resposta furiosa à ausência não autorizada de sua principal estrela.
Messi e a mulher, Antonela, em viagem publicitária à Arábia Saudita — Foto: Autoridade de Turismo Saudita
Na noite de terça, começou a se espalhar a notícia de que o PSG não cederia a Messi. As penas aplicadas ao argentino vazaram rapidamente: ele foi suspenso de treinos e jogos por duas semanas, período durante o qual não receberia um centavo de seu salário gigantesco, estimado em cerca de 800 mil dólares (quase R$ 4 milhões) por semana. Em off, um dirigente do clube disse que é improvável que o atleta volte a vestir as cores da equipe, que neste domingo visita o Troyes, às 15h45, pelo Francês.
Assim como o PSG, Messi e seus representantes permaneceram publicamente em silêncio enquanto cresciam as especulações de que o relacionamento estava desmoronando. A equipe do atacante, no entanto, informou várias personalidades da mídia sobre seu lado da história. Messi tinha a impressão de que possuía permissão do clube para realizar seu compromisso comercial na Arábia Saudita.
O PSG estava fazendo o mesmo. A preocupação, ao que parecia, não era reparar o relacionamento, mas controlar a narrativa.
Na sexta-feira, também através das redes sociais, o astro pediu desculpas ao clube e aos companheiros e afirmou que se tratava de um compromisso que ele não conseguira cancelar. Disse ainda que achava “que teríamos um dia de folga depois do jogo, como sempre” e que aguarda “o que o clube quer fazer comigo”.
O foco nos detalhes ignora o óbvio: o desenrolar dessa novela representa o ponto mais baixo do relacionamento de Messi não apenas com o PSG, mas talvez também com o Estado do Catar. O clube anunciara a chegada do argentino, há menos de dois anos, como um triunfo. Já o país fez de tudo para associar sua imagem à genialidade do jogador.
Torcedores do PSG protestam contra a diretoria — Foto: FRANCK FIFE / AFP
O casamento de conveniência funcionou em certa medida para atleta, clube e seleção. Messi assinou um dos contratos mais gordos do esporte. O PSG, de propriedade do Catar, adicionou outro talento de renome mundial a sua busca infrutífera por um título da Liga dos Campeões. E a nação catari, por sua vez, contou com um “garoto-propaganda” antes do maior evento da história do país, a Copa do Mundo de 2022. E ainda assistiu a Messi desempenhar um papel de destaque no torneio, que terminou com título épico da Argentina e seu principal astro envolto em um bisht — manto cerimonial tradicional muçulmano — pelo Emir do Catar, antes de desfilar pelas ruas de Lusail com a taça.
Algumas fontes próximas ao PSG se surpreenderam com a responsabilização de Messi pela iminente saída. Eles alegam que foi o clube quem demorou a encaminhar a ampliação do contrato, de olho em uma renovação que substituísse o foco em supercraques pelo investimento em talentos ainda em formação. O staff do argentino teria até apresentado as condições financeiras para um acordo — mas ali já era tarde demais.
A tempestade começou a se formar assim que Messi voltou do Catar como campeão mundial. O desempenho do PSG despencou após o Ano Novo, e sua gorda vantagem no Francês diminuiu — está em três pontos com a vitória do Lens sobre o Marselha, no sábado, por 2 a 1. A equipe de Paris ainda foi eliminada da Copa da França e — o que foi mais frustrante para seus donos do Catar e seus torcedores parisienses — da Liga dos Campeões.
Enquanto isso, os protestos de torcedores organizados do PSG ficavam mais barulhentos e focados em Messi.
Pessoas que acompanham de perto a carreira do argentino começaram a especular, nas últimas semanas, para onde ele irá na próxima temporada. Um retorno ao Barcelona, talvez? Uma aventura americana em Miami? Uma estadia mais longa na Arábia Saudita? Todas as opções estão na mesa. Mas uma coisa é certa: seu futuro não será em Paris.
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