Por Gabriela Macêdo e Michel Gomes, g1 Goiás
Após o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, denunciar o suposto esquema de manipulação em resultados de jogos, o ex-jogador do Vila Nova acusado de envolvimento nas fraudes, Marcos Vinicius Alves Barreira, conhecido como Romário, reclamou sobre exposição na mídia.
- “Como que arrumo clube agora?”, questionou o jogador.
- “Se vira, meu jovem”, respondeu o presidente a Romário.
O jogador está entre os acusados pelo MPGO por aceitar ou pedir propina duas vezes pra alterar o resultado do jogo. Ao g1, a defesa do atleta, representada pelo advogado Odair de Meneses, informou que o jogador não foi denunciado por crime de associação ou organização criminosa e que a inocência dele "será provada no curso do processo" (veja nota completa ao final da reportagem). O g1 ainda tentou contato com o presidente do Vila Nova, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Na conversa, o jogador afirma que não estaria conseguindo conversar com uma pessoa que já estaria em negociação.
- “Já estava quase certo com um, os cara nem responde mais”, disse Romário.
- “Quero te agradecer por tudo que você fez por mim, mas não precisava me expor desse jeito”, completou o jogador.
Em resposta, o presidente do Vila Nova questionou o jovem e afirmou que o jogador estaria pensando apenas ‘nele mesmo’.
“Eu vou ficar apanhando de graça? Eu não devo nada. Torcedor falar que eu estou com esquema. Se vira, meu jovem. Você só pensa em você, por mim estava era preso”, escreveu o presidente.
Antes de denunciar o caso, o presidente chegou a questionar o jogador sobre a participação dele no esquema.
“Como você entra em um negócio desse?”, questionou o presidente.
Conversa entre o presidente Hugo Jorge Bravo e o jogador Marcos Vinicius Alves Barreira, conhecido como Romário — Foto: Wildes Barbosa/O Popular, Reprodução/Redes Sociais, Reprodução/Ministério Público e montagem/g1
Na conversa com o presidente do Vila Nova, o jogador justificou ter entrado no esquema por não estar jogando com frequência.
“Não sei, estava ‘grilado’ sem jogar, só treinando, mas quando fui cair a ficha, pedir para sair, já era tarde”, respondeu o ex-jogador do Vila Nova.
Romário ainda detalha para o presidente sobre R$ 7 mil que estaria devendo. Segundo ele, esse dinheiro teria “caído na conta dele” e ele teria “gasto sem ver”. Mais uma vez, o presidente o questionou.
- “Como você não viu R$ 7 mil na sua conta, moço?”, perguntou Hugo.
- “Não chega notificação. Fui gastando pensando que era o salário”, justificou Romário.
Conversa entre o presidente Hugo Jorge Bravo e o jogador Marcos Vinicius Alves Barreira, conhecido como Romário — Foto: Reprodução/Ministério Público e montagem/g1
Informações para denúncia
Além de questionar o jogador sobre a participação dele no esquema, o presidente do Vila Nova também conversou com Bruno Lopez, apontado pelo Ministério Público como chefe do grupo. Prints mostram que, na conversa, Hugo conseguiu fazer com que o apostador admitisse como o esquema funcionava e ainda enviasse comprovantes de transferências realizadas.
A defesa de Bruno Lopez disse que vai se posicionar sobre as acusações formal e processualmente no momento oportuno (veja nota completa ao final da reportagem).
Como a operação começou
A Operação Penalidade Máxima já fez buscas e apreensões nos endereços dos envolvidos. As investigações começaram no final de 2022, quando o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro. Romário recebeu um sinal de R$ 10 mil, e só teria os outros R$ 140 mil após a partida, com o pênalti cometido. À época, o presidente do Vila Nova-GO, Hugo Jorge Bravo, que também é policial militar, investigou o caso e entregou as provas ao MP-GO.
Atuação em núcleos
Segundo o MP, o grupo criminoso cooptava jogadores com ofertas que variavam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para que cometessem lances específicos nos jogos - como um número determinado de faltas, levar cartão amarelo, garantir um número específico de escanteios para um dos lados e até atuar para a derrota do próprio time. Diante dos resultados previamente combinados, os apostadores obtinham lucros altos em diversos sites de apostas.
Segundo o Ministério Público, o esquema era dividido em quatro núcleos: de apostadores, financiadores, intermediadores e administrativo.
- “Núcleo Apostadores”: formado por responsáveis por contatar e aliciar jogadores para participação no esquema delitivo. Eles também faziam pagamentos aos jogadores e promoviam apostas nos sites esportivos.
- "Núcleo Financiadores": responsáveis por assegurar a existência de verbas para o pagamento dos jogadores aliciados e também nas apostas manipuladas.
- "Núcleo Intermediadores": responsáveis por indicar contatos e facilitar a aproximação entre apostadores e atletas aptos a promoverem a manipulação dos eventos esportivos.
- "Núcleo Administrativo": responsável por fazer transferências financeiras a integrantes da organização criminosa e também em benefício de jogadores cooptados.
Nota da defesa de Marcus Vinicius Alves, conhecido como Romário:
"A defesa do atleta Marcos Vinicius Alves Barreira, vulgo “Romarinho”, com referência às acusações contidas e veiculadas na operação “penalidade máxima”, vem informar que a investigação criminal envolvendo o atleta já foi concluída pelo Ministério Público do Estado de Goiás e encaminhada ao Poder Judiciário, com o oferecimento de denúncia por suposta infração ao art. 41-D da Lei nº 10.671/03(Estatuto de Torcedor), cuja defesa já apresentou respota à acusaçãp, estando o processo aguardando a manifestação dos demais corréus para designação de audiência de instrução. Destacando que o mesmo não foi denunciado por crime de associação ou organização criminosa. Cuja inocência será provada no curso do processo. Não tendo o atleta firmado acordo de delação premiada ou de não persecução penal com o Ministério Público."
Nota da defesa de Bruno Lopez na íntegra:
"De igual forma à primeira fase da operação, entendemos que, por se tratar de uma denúncia extensa, com diversos anexos oriundos dos elementos extraídos na investigação, é necessário muita cautela em qualquer comentário. Apesar de se tratarem de fatos novos, jogos diferentes daqueles que foram objeto de denúncia na primeira ação penal, o crime pelo qual Bruno se encontra acusado é exatamente o mesmo, mas por situações diferentes. Como de praxe, sempre com muito respeito ao trabalho do Ministério Público e do Poder Judiciário, as acusações serão formal e processualmente respondidas no momento oportuno."
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