Por Marcelo Baltar e Tébaro Schmidt — Rio de Janeiro
O fim de Maurício Barbieri no comando do Vasco foi melancólico. A imagem de Barbieri deixando o gramado de São Januário escoltado por seguranças e hostilizado pelas arquibancadas retrata a cena de um treinador que despertou a ira dos torcedores. Depois da derrota por 1 a 0 para o Goiás nesta quinta, a sexta consecutiva da equipe no Brasileirão, sua situação ficou insustentável.
A demissão foi comunicada no vestiário, logo depois da partida. Não houve coletiva de imprensa do treinador, que deixa o Vasco com 24 jogos disputados: nove vitórias, quatro empates e 11 derrotas. O clube está no mercado em busca de um novo técnico.
Depois de um período de ascensão na carreira, com um trabalho longo e muito elogiado no Bragantino (onde foi vice-campeão da Sul-Americana e fez mais de 150 jogos), Barbieri saiu pela porta dos fundos do Vasco. Literalmente: o treinador evitou a imprensa e fez um caminho do vestiário direto para o estacionamento, sem precisar passar pelos jornalistas presentes no estádio.
O diretor-esportivo Paulo Bracks e o CEO Luiz Mello fizeram o mesmo. O Vasco optou pelo silêncio. Diante de um momento de crise, ninguém do clube assumiu a palavra ou prestou esclarecimentos, nem mesmo para oficializar o desligamento do treinador.
Mais ofensas no ato final
O último capítulo da passagem de Barbieri pelo Vasco foi repleto de emoções: das chances perdidas e bola na trave no primeiro tempo ao caos que se instalou em São Januário depois do apito final.
A torcida, que esgotou os ingressos, fez sua parte e apoiou a equipe durante boa parte do confronto. O primeiro protesto contra Barbieri se deu no gol anulado do Goiás no fim primeiro tempo - antes de o VAR cancelar o lance, os torcedores gritaram "ei, Barbieri, vai tomar no c*!". Os mesmos gritos foram ouvidos no intervalo, durante a caminhada do treinador até o túnel de acesso aos vestiários.
No segundo tempo, a decisão do comandante de tirar Marlon Gomes para colocar Pedro Raul parece ter esgotado a paciência da torcida, que imediatamente passou a gritar em alto e bom som: "Burro, burro, burro!". Daí, as ofensas se alongaram até o apito final.
Episódios causaram desgaste
Internamente, Barbieri até o fim teve o respaldo da diretoria e dos jogadores. Apesar da sequência de derrotas e do pior início do clube na história do Campeonato Brasileiro, Bracks bancou sua permanência apostando nas quase duas semanas para trabalhar antes da "decisão" contra o Goiás. O próprio treinador tinha o costume de dizer que não podia queixar-se nesse sentido - por outro lado, ele tinha uma expectativa maior na montagem do elenco e considerava que o grupo entregue em suas mãos não estava completo.
O apoio externo, por sua vez, praticamente não existia mais. Os pedidos de "fora, Barbieri!" tornaram-se mais constantes passadas as rodadas do Brasileiro, e alguns episódios contribuíram para aumentar essa rejeição.
Na derrota para o Santos, na sexta rodada, o treinador causou polêmica entre os torcedores ao dizer na coletiva que o adversário nunca havia caído e que estava "acostumado a jogar na elite". Ele precisou se desculpas na mesma semana: "Escolhi mal as palavras".
Já na derrota para o Flamengo, na nona rodada, um vídeo de Barbieri sorrindo na coletiva viralizou e irritou a torcida. O ge explicou que havia várias pessoas na sala, e que o sorriso de Barbieri foi uma reação ao pedido dos cinegrafistas para que os jornalistas não levantassem e ficassem na frente da câmera - o treinador a princípio achou que estavam falando com ele.
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