Por Letícia Marques — Rio de Janeiro
A premissa é quase rotineira no Flamengo: ataque resolve, mas defesa complica. O discurso se repetiu mesmo diante de um adversário fragilizado que é o Santos. Mais dois gols sofridos para a soma de Sampaoli, que possui uma média superior a um por jogo: 22 gols sofridos em 18 partidas.
O jogo na Vila Belmiro começou morno. O primeiro tempo foi marcado pela falta de intensidade e de criatividade. Ainda assim, o time de Sampaoli abriu o placar com Éverton Cebolinha praticamente na primeira chance clara de gol, aos 22 minutos. A vantagem fez o Fla acalmar o jogo e ter o controle, que aconteceu até a defesa sofrer um apagão.
As falhas combinadas de Ayrton Lucas, Wesley e Léo Pereira fizeram o Santos empatar com Mendonza, em um contra-ataque rápido articulado aos 40 minutos. Eram quatro jogadores do Flamengo contra dois do time da casa.
Mas este não foi o único lance do jogo em que foi possível ver a defesa comprometendo o trabalho do ataque. No início da segunda etapa, Everton Ribeiro marcou de cabeça após uma boa jogada de Gerson. Demorou apenas dois minutos para a defesa se mostrar frágil novamente.
Lucas Lima cobrou uma falta, quase no meio campo, cruzando na área. O zagueiro Messias subiu praticamente sozinho entre Erick Pulgar e Léo Pereira e cabeceou para defesa de Matheus Cunha, que rebateu nos pés de Rodrigo Fernández colocar para o fundo da rede. Um lance de desatenção total gerou o empate na Vila.
Foram apenas cinco minutos até o ataque do Flamengo articular mais uma jogada que resultou em gol. Quando o time estava com quase 70% de posse de bola, Erick Pulgar colocou a bola para o fundo da rede aos 11 minutos do segundo tempo. Gerson e Cebolinha trocaram passes até o chileno clarear para bater sozinho na área do Santos.
O 3 a 2 foi construído com lampejos de bons lances do setor ofensivo e quase foi comprometido pela atuação defensiva. O Flamengo sustentou o resultado mesmo com as recomposições espaçadas, que acabam deixando o time bem exposto. A atuação da defesa foi inclusive citada por Sampaoli em coletiva.
- É algo que havia melhorado, mas agora voltou a acontecer. Mas isso é futebol, temos que seguir trabalhando. Sabemos das dificuldades que vamos encontrar. Somos uma equipe que ainda não está pronta e que muitas vezes não consegue definir. Então temos que trabalhar para que, nos momentos ruins do jogo, quando não tivermos domínio, a gente tenha uma fortaleza que evite esse tipo de gol.
A 'fortaleza' dita por Sampaoli precisa ser encontrada. São 10 gols sofridos nos últimos 10 jogos, sendo seis nas últimas duas partidas: Bragantino e Santos. Apesar do baixo desempenho defensivo neste período, o Flamengo construiu resultados: seis vitórias, três empates e uma derrota.
Foram 97 finalizações contra a meta rubro-negra nas últimas cinco rodadas do Brasileirão. Curiosamente a partida contra o Santos foi a que o Flamengo menos sofreu: 12. Contra o Bragantino e Grêmio foram avalanches: 30 e 24 respectivamente. Foram seis gols sofridos neste período, além de dois de Vasco e Cruzeiro, que fizeram 13 e 18 finalizações, respectivamente.
Roteiro repetido
A história não é exclusiva de Sampaoli. Pelo contrário, o desequilíbrio defensivo do elenco do Flamengo é algo que afetou o trabalho de praticamente todos os treinadores que passaram no clube na história recente. Vítor Pereira, o último técnico antes do argentino, é um exemplo.
A oscilação da defesa por muitas vezes é mascarada com os resultados e com a ideia de que a formação ideal da zaga foi definida. As críticas, por enquanto, não se caracterizam de forma nominal aos zagueiros, mas sim em um sistema que parece não ter encaixado.
A temporada de 2023 desenha um roteiro repetido: o ataque cumpre o papel enquanto a defesa rubro-negra coloca em xeque o trabalho. No ano, são 79 gols marcados em 41 jogos e 49 sofridos. Não à toa, em alguns momentos o Flamengo já chegou a figurar como a pior defesa entre os clubes da Série A.
No Brasileirão, por exemplo, o Rubro-Negro só não sofreu mais gols que os quatro times que estão na zona do rebaixamento (Goiás, América-MG, Vasco e Coritiba), além do Bahia que ocupa a 14ª posição.
O jogo contra o Santos foi o 18º de Sampaoli. Vítor Pereira ficou no comando do Flamengo por um jogo a mais, ou seja, 19. O retrospecto foi de 37 gols marcados e 24 sofridos. Os números são bem similares e reforçam que os rubro-negros ainda precisa encontrar o caminho da 'fortaleza'.
Caminho esse que o Flamengo precisa encontrar já contra o Aucas, na quarta-feira, pela Libertadores. O jogo é válido pela última rodada da fase de grupos e vai selar a classificação às oitavas de final da competição.
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