Por Letícia Marques — Rio de Janeiro
O vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, concedeu nesta quinta-feira, no Ninho do Urubu, sua primeira entrevista coletiva após a briga que travou com o entregador Leandro Campos em shopping do Rio de Janeiro na terça.
O dirigente abriu a coletiva com longo pronunciamento, antes das perguntas. Durante 17 minutos, Marcos Braz deu em ordem cronológica sua versão dos fatos de terça. Ele afirmou que ouviu ofensas sem reagir durante alguns minutos no shopping. Segundo ele, a história mudou quando ameaças foram feitas ao lado da filha de 14 anos de Braz. O VP afirmou que partiu para cima quando ouviu a frase "Foda-se a sua filha".
- Quando eu estava dentro da loja, dois ou três homens e mais algumas pessoas no fundo começaram a questionar, começaram a fazer cobranças, e aconteceram vários eventos. Nesse momento, que durou alguns minutos, não abri a minha boca.
- Depois minha filha chega junto com duas amigas, e eu ainda comentei com a pessoa ao lado: "Graças a Deus não estavam aqui". (...) Elas ficam em frente à loja um pouquinho à direita. E aí chega o rapaz que deu problema. Ele chega e começam as ameaças. Aí vem o cara, e eu falo: "Minha filha está aqui do lado". E ele falando, falando, falando. A filha via o pai sendo ameaçado de morte, fui na direção dele e falei sistematicamente que a minha filha estava ali.
- A última frase dele foi "Foda-se a sua filha". O final vocês viram. Eu tenho o problema lá. Os fatos foram postados rapidamente. Parece que fizeram a conta: 40 segundos. Eu saio passando a mão no nariz e procurando a minha filha. Qual foi meu cálculo rápido? Eu não vou para o meu carro porque não tenho segurança e o carro não estava perto.
- Queria deixar claro que quando eu aceitei o cargo de vice-presidente do Flamengo, até por ser criado dentro da Gávea e desse ambiente, eu tinha noção clara do que é ser VP de futebol. Eu sei da pressão, dos questionamentos e das situações políticas.
- Eu sou preparado para estar no cargo. Mas, para o que aconteceu, eu não me preparei. Para ser ameaçado do lado da minha filha e ela sendo ameaçada também verbalmente, in loco. Peço desculpas pelo transtorno que causei, não para ele (torcedor). Peço desculpas a pares da diretoria e à torcida do Flamengo. (...) Não foi dessa vez, mas vai ter uma tragédia no futebol. Uma hora vai ter.
Ao reforçar que se sente preparado para o cargo, Marcos Braz alfinetou o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello, que em 2017 fez uma banana na direção de um torcedor do Flamengo durante uma partida contra o Avaí, na Ressacada.
- Não tenho vergonha de ser vítima. Vocês têm que acreditar em mim. Sistematicamente eu sou xingado por torcedor, e repito que nunca fiz banana para torcedor.
Já na parte das perguntas e respostas, que durou 21 minutos, Marcos Braz garantiu que em momento algum cogitou sair do Flamengo. Ele contou que telefonou para o presidente Rodolfo Landim logo depois do ocorrido na terça-feira.
- Isso foi covardia, mas eu não vou me ajoelhar. Não sou valente nem nada, mas não vou me ajoelhar. Sou vítima, mas vou até o final dessa história. Eu estando no Flamengo ou no cargo, sendo vereador ou assumindo cargo de deputado federal. Isso aqui não tem fim.
Presença na Câmara
Na parte final do pronunciamento, antes da abertura às perguntas, Marcos Braz deu sua versão para o registro virtual de presença que fez na sessão de terça à tarde na Câmara dos Vereadores. Como ele não declarou seu voto, considera-se que ele faltou.
- Às terças e quintas, das 13h30 às 16h, você dá presença virtual para entrar no sistema. Eu posso falar, eu posso ouvir, tenho conhecimento das pautas. Quando chega às 16h, se você não botar o dedo, você toma falta e é descontado. Eu tomei a falta, eu não fiz nenhuma ilegalidade. Vou ser descontado.
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Como pensa a continuidade no Flamengo após um fato extremo?
- Já refleti e já passei aqui. Quem determina a minha continuidade ou não é o presidente Rodolfo Landim. E, ao que me consta, estaremos juntos em 2024. E antes de 2024 temos muita coisa para fazer neste ano.
Por que marcou presença virtual se não iria à Câmara?
- Você às vezes faz a presença virtual para ter acesso às declarações dos outros vereadores. Muitas vezes não entro no virtual e vou para a Câmara. E aí tenho minha presença validada. Posso não estar nessa parte virtual e, se eu chegar lá às 16h, eu participo das votações.
Se não sofresse ameaça de morte, não reagiria?
- Claro que não. Como 10 minutos antes teve um mesmo fato. Minha filha não estava e em nenhum momento falei para parar de falar porque ela não estava. Quando minha filha não estava e quando não teve ameaça de morte para mim e para ninguém que estava presente, eu simplesmente fiquei quieto.
- Num segundo momento, eu alertei várias vezes que minha filha estava ali. Não sou louco de falar isso aqui. Louco não, burro. E depois não apareceram as imagens dela comigo na loja me abraçando, me beijando e depois saindo ao lado.
- Ele me ameaçou de morte, falou que se o resultado não viesse, a cobrança seria muito diferente. E no final falou o que eu disse há pouco tempo.
Você mordeu a virilha do torcedor?
- Depois que eu falei a última frase que ele falou, eu me lembro de pouca coisa.
"Sou vítima, sou vítima, sou vítima"
- Sou vítima, sou vítima, sou vítima. Sou vítima sendo vereador, sendo primeiro suplente de deputado federal, sendo VP de futebol. Não tenho vergonha de ser vítima. Vocês têm que acreditar em mim. Sistematicamente eu sou xingado por torcedor, e repito que nunca fiz banana a torcedor. Vários jornalistas que me acompanham podem falar tudo, mas nunca tive problema mais sério com torcedor. Quem em sã consciência com filha e mais outras duas crianças vai querer arrumar problema? Se eu nunca arrumei problema quando fui xingado em outras situações, eu ia optar por fazer uma reação ao lado da minha filha?
- Esse fato da minha filha é preponderante nessa questão. Ele foi avisado cinco vezes. O que ele vai falar é o que ele vai falar. O game é esse. Vai ser orientado pela advogada. Minha filha estava perto, ao lado, e eu estava fora do lado de visão. Quem é pai deve saber o que é uma filha fazer 15 anos, e quem é mulher sabe o que é fazer 15 anos. Amanhã vai dar entrevista, e eu sei como é.
Braz vê premeditação
- Vá à internet. É sistêmica a premeditação. O vídeo foi postado 30 ou 40 segundos depois do negócio. Lógico que todo mundo tem um celular, mas o próprio primeiro vídeo em que falei que cobraram e fizeram um monte de situações eu não retruco. Esse vídeo está postado. Eu não preciso falar que estava premeditado, estava na internet três dias antes.
- Agora existe delegacia, existe poder público. Não é com Marcos Braz, é com o poder público. Todo mundo sabe que tinha premeditação. Talvez quem me alcaguetou não viu que eu estava com a minha filha não tivesse pensado. Ou de repente pensou. A Justiça pode entender que não teve ameaça e que sou louco. Eu vou respeitar qualquer decisão da Justiça.
Convocação da Comissão de Ética da Câmara
- Vereador pode ir na casa e votar o que quiser. Essa matéria não tem nada a ver com Comissão de Ética. Comissão de Ética é usado por estupro ou assassinato. E eu vou pra Comissão de Ética porque fui comprar um presente para a minha filha. É do jogo. Mas vou resolver isso antes.
Você agrediu o torcedor? A mordida ocorreu?
- Já falei que fui ameaçado de morte, minha filha estava próxima. Eles fez várias ameaças, eu sistematicamente pedi que ele parasse porque minha filha estava lá. Vê se tem áudio meu pedindo aos outros para pararem. Eu não estou entendendo sua pergunta, campeão. Tinham três pessoas me xingando, e eu estou falando que não fiz absolutamente nada enquanto não houve ameaça de morte e quando minha filha não estava ao lado.
- Sistematicamente eu falei para ele: "Não me ameaça, estou do lado da minha filha". Falei uma, duas vezes. Ele não fala com a verdade quando diz que não me ameaçou. Cheguei perto dele e deu o problema que deu.
Você chegou a cogitar sair do cargo?
- Em nenhum momento.
Conversou com Rodolfo Landim?
- Relatei ao meu chefe direto o ocorrido. Imagine meu chefe direto com agenda em Brasília, em lugares importantíssimos. E em lugares que são um canhão tem gente falando que fui para cima de um torcedor com vários seguranças. E em outros lugares que eu não estava com a minha filha e que a minha filha não estava no shopping. E eu tive que relatar ao meu presidente.
Considera razoável faltar a uma pauta importante na Câmara?
- Vou falar por mim. Em outras votações, votei contra o empréstimo. Sou um vereador. Fiquei com um jornalista dois ou três meses me acompanhando lá. Sou bastante independente. Eu não voto com o Governo sempre, eu voto causas LGBT. Sou bastante independente. Se eu errei, foi uma coisa. Fiz a opção de estar com minha filha um dia antes. Uma filha que não mora comigo, que mora com a mãe. E eu faço viagens. Estou enriquecendo sua pergunta. Já houve outros pedidos de empréstimos que fui contra.
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