Por Bruno Cassucci — Cuiabá
Não foi uma boa atuação da Seleção. Ainda assim, o Brasil poderia ter vencido (até por placar elástico) a Venezuela.
Difícil quantificar o quanto o calor de Cuiabá e o mau estado do gramado da Arena Pantanal influenciaram no empate em 1 a 1, mas é fato que a Seleção errou muito mais do que está habituada. Falhas bobas, de passes curtos, domínios, cruzamentos... Quando Neymar fura bisonhamente, como aconteceu já nos acréscimos do segundo tempo, é sinal de que tem algo fora do normal.
Com sete treinos em campo com grupo completo, é óbvio Fernando Diniz ainda não conseguiu implementar seu estilo de jogo autoral. O "Dinizismo" carece de muitos ajustes, mas esse não foi o maior problema do Brasil diante da Venezuela.
Apesar de alguns movimentos ainda descoordenados, a Seleção conseguiu criar chances suficientes para vencer com facilidade. Porém, pecou muito nas últimas e penúltimas ações, sobretudo no segundo tempo, quando estava em vantagem no placar e a Venezuela passou a ceder espaços.
A etapa inicial foi mais complicada. O adversário, como era de se esperar, se retrancou, formando em muitos momentos uma linha de seis defensores.
Para tentar furar esse bloqueio, o Brasil concentrava seu jogo pelo lado esquerdo, onde Neymar e Vini Jr ganhavam a companhia de Rodrygo, que deixava a ponta direita em busca de tabelas com os outros craques do ataque. Quem ocupava o lugar dele era Danilo, em posicionamento muito mais avançado do que fazia com Tite ou que desempenha na Juventus - onde atua como zagueiro.
O lateral se machucou ainda no primeiro tempo e deu lugar a Yan Couto, que estreou com boa atuação.
A aproximação de talentos pelo lado esquerdo surtia efeito em poucos momentos. Quando funcionava, a Seleção parava em seus próprios erros. Foi assim, por exemplo, aos 22 minutos do primeiro tempo, quando Vini achou Danilo livre na ponta direita, mas o lateral cruzou mal.
Neymar estava longe de sua forma ideal, prendia muito a bola, mas ainda assim era um dos mais lúcidos do Brasil.
Neymar protege bola em duelo entre Brasil x Venezuela — Foto: Vitor Silva / CBF
Sem conseguir penetrar na área, a equipe de Diniz também arriscava pouco de longa ou média distância. Ainda assim, as melhores chances no primeiro tempo foram em chutes de fora da área de Neymar, Rodrygo e Casemiro.
O gol de Gabriel Magalhães logo no começo do segundo tempo deu a impressão que destravaria as coisas. E o Brasil, de fato, passou a ter mais chances... e desperdiçá-las.
Displicência? Cansaço? Falta de objetividade? Ou um pouco de tudo isso?
Com o passar do tempo, a Seleção também foi se desorganizando e abrindo um clarão no meio de campo. Gabriel Jesus entrou bem na recomposição defensiva - após um desarme dele, o Brasil criou ótima chance, que Rodrygo chutou para fora - mas criou pouco na frente.
Diniz tentou dar fôlego novo à equipe com as entradas de André e Gerson, mas foi justamente no setor do flamenguista que a Venezuela empatou. O meio-campista não fez a falta, Arana permitiu o cruzamento, e Ederson nada pôde fazer para evitar o golaço de Eduard Bello, de bicicleta.
De seis jogos em 2023, o Brasil foi vazado em cinco. A solidez defensiva é um dos principais legados da era Tite e não pode ser perdida.
A atuação em Cuiabá foi decepcionante, mas não é novidade a Seleção ter dificuldades contra a Venezuela. Nas últimas Eliminatórias, em 2021, também em casa - no Morumbi - o Brasil sofreu para vencer por 1 a 0. Na Copa América de 2019, empatou sem gols. Lembrar isso não é naturalizar o empate com a última colocada das Eliminatórias passadas, mas fazer a ponderação necessária de que o futebol de seleções é cada vez mais equilibrado.
Com ajustes que só virão com o tempo, o Dinizismo ainda tem muita chance de dar certo. Terça, contra o Uruguai, em Montevidéu, terá o seu maior desafio até aqui.
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