Por Folhapress
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, foi destituído do cargo nesta quinta-feira, 7, por decisão do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). O órgão apontou o presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), José Perdiz, como interventor na entidade.
Uma nova eleição na entidade deverá ser convocada em 30 dias, mas ainda cabe recurso a tribunais superiores. Nesse período, Perdiz será responsável pelas rotinas administrativas da entidade, como o pagamento de contas.
Os desembargadores Gabriel Zéfiro, Mauro Martins e Mafalda Lucchese avaliaram que o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) não tinha legitimidade para ajuizar a ação do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) acordado com a CBF em 2022.
O termo abriu caminho para a eleição de Rodrigues, mas agora foi considerado ilegal pela Justiça.
Ednaldo firmou o acordo quando ocupava a presidência da CBF interinamente, no lugar de Rogério Caboclo, afastado por denúncias de assédio contra funcionárias da entidade.
O termo de ajustamento foi resultado de uma ação movida pelo Ministério Público em meados de 2018, que questionava a CBF em relação ao processo eleitoral para a presidência da confederação.
Alguns dos vice-presidentes da entidade na gestão Caboclo se sentiram prejudicados e questionaram a validade do acordo, agora julgado ilegal pela Justiça.
A decisão tem efeito imediato a partir da notificação e da publicação. A CBF vai recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), porém a entidade, neste momento, está em recesso. Procurada pela reportagem, a confederação ainda não se manifestou.
O desembargador Mauro Martins, que foi o segundo a votar nesta quinta-feira, fez questão de afirmar que a decisão não caracteriza uma interferência externa. "Quero deixar claro que isso não é uma interferência externa na CBF. Estamos nomeando alguém da Justiça desportiva [presidente do STJD], não alguém externo. Portanto, não pode ser considerada interferência externa", disse ele.
Também nesta quinta-feira, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) e a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) enviaram ofícios à CBF alertando sobre os riscos em caso de interferência externa, no caso da Justiça comum, na entidade.
Em cartas endereçadas ao secretário-geral da CBF, Alcino Reis Rocha, a Fifa e a Conmebol reafirmaram que o estatuto da federação mundial "obriga as associações membros a gerir os seus assuntos de forma independente, sem influência de terceiros, incluindo quaisquer entidades estatais".
O artigo 16 do estatuto da Fifa diz que qualquer violação de tal obrigação pode levar a sanções, ainda que a influência não tenha sido causada pela associação membro em questão.
A entidade máxima do futebol diz, ainda, que tomou conhecimento de que o acordo celebrado entre CBF e o Ministério Público correria risco de ser cancelado e pediu para ser informada sobre qualquer avanço em relação ao tema. O documento é assinado por Kenny Jean-Marie, diretor das federações membros da Fifa.
Afastamento ocorre em momento de crise na seleção
O vácuo no comando da CBF ocorre em um momento no qual Ednaldo Rodrigues se vê fragilizado, sobretudo devido aos fracassos recentes acumulados pela seleção brasileira, como a queda nas quartas de final da Copa do Mundo de 2022, além do fraco desempenho apresentado nas Eliminatórias para o Mundial de 2026.
O Brasil é, atualmente, apenas o sexto colocado do torneio classificatório, com sete pontos, oito a menos do que a líder Argentina. A distância na tabela reflete o que tem sido considerado como um ano perdido para a equipe canarinho, que, desde a saída do técnico Tite, logo após o Mundial no Qatar, está sob o comando de interinos.
O primeiro foi Ramon Menezes, técnico da equipe sub-20. Depois, a partir de julho, Fernando Diniz passou a dirigir o time, mas sem desligar-se do Fluminense. O vínculo dele é de um ano. Após o período, a CBF espera a anunciar a chegada do italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid, com quem a entidade diz ter um acordo, embora o profissional nunca tenha confirmado isso publicamente.
O afastamento de Ednaldo Rodrigues torna ainda mais incerta a chegada do treinador italiano.
A instabilidade favoreceu o ressurgimento de uma oposição ao atual presidente da CBF, algo com o qual ele não convivia até o momento. De acordo com o portal o UOL, nomes com Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, ex-presidentes da entidade, mesmo banidos do futebol, têm articulado para minar a gestão de Ednaldo. Eles estariam repassando dossiês nos quais criticam o que consideram gastos excessivos da atual gestão, atrasos de pagamentos e outras decisões administrativas.
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