Por Thiago Lima - ge
Antes de qualquer análise, uma ponderação é mais do que necessária: é uma vergonha um jogo da Série A do Campeonato Brasileiro em um gramado deplorável como o atual estado do Serra Dourada. O simples fato de a bola não rolar, obviamente, afeta diretamente a (má) qualidade para os dois lados. Dito isso, campo pavoroso à parte, o Flamengo venceu, mas ficou devendo bastante no 2 a 1 sobre o Atlético-GO na tarde do último domingo.
A verdade é que, por mais estranho que isso soe, o Flamengo ganhou flertando com sua primeira derrota em 2024. Foi o jogo em que o time mais sofreu junto com o do Millonarios em Bogotá na Libertadores, com o agravante de o Atlético-GO ter perdido um pênalti quando o placar era de 1 a 1. Por falar na partida na Colômbia, há uma outra triste coincidência para os rubro-negros: ter um jogador a mais e mesmo assim ser inferior ao adversário.
Vantagem numérica, como o próprio nome diz, é para ser uma vantagem (ou pelo menos deveria). Mas para o Flamengo parece que foi pior nos dois jogos. Em Bogotá, o Millonarios teve o zagueiro Larry Vásquez expulso aos 16 do segundo tempo por cometer um pênalti em Arrascaeta, que foi convertido por Pedro. À frente do placar, o Rubro-Negro teve 32 minutos para jogar com um jogador a mais, mas não soube aproveitar no ataque e atrás ainda tomou o empate.
Jogadores do Flamengo comemoram vitória sobre o Atlético-GO — Foto: Heber Gomes / AGIF
No Serra Dourada, o zagueiro Alix foi expulso por fazer falta em Pedro, sendo o último homem, aos 43 do primeiro tempo. Na cobrança, De la Cruz acertou o ângulo: ou seja, vantagem no placar e numérica com um segundo tempo inteiro pela frente. Mas outra vez mal produziu e viu o Atlético-GO empatar. O Dragão só não virou porque pouco depois Shaylon perdeu um pênalti (infantilmente cometido por Léo Pereira, diga-se de passagem) e porque o gol de Baralhas foi anulado por um impedimento milimétrico.
Na entrevista coletiva após o jogo, Tite falou que o Atlético-GO marcou na única bola que o Flamengo permitiu ao errar na marcação. Não é verdade. Além do gol de Luiz Fernando, o Dragão teve uma chance clara em que Emiliano Rodriguez parou em Rossi, aos 33 minutos do primeiro tempo, e ainda chegou com perigo em outros três lances de bola aérea onde finalizou mal (veja abaixo):
- Com apenas um minuto de jogo, Alix subiu mais que Léo Pereira após escanteio, mas cabeceou mal, por cima do gol;
- Três minutos depois, Luiz Fernando cruzou e achou Shaylon entre Léo Pereira e Viña, mas ele cabeceou em cima de Rossi;
- E já no segundo tempo, após novo escanteio, Pedro erra o tempo da bola, e Emiliano Rodriguez ganha de Fabrício Bruno no alto, mas cabeceia no meio do gol.
Cabeçada de Alix em Atlético-GO x Flamengo — Foto: Reprodução / Premiere
Ao todo, o Atlético-GO teve 10 finalizações e seis chances de gol, apesar de uma posse de bola de apenas 35%. Enquanto o Flamengo, com 65%, até finalizou mais, 15 vezes, mas levou pouco perigo e teve só quatro oportunidades reais: os dois gols de bola parada; um lance em que Cebolinha demorou a finalizar e permitiu a chegada do marcador, numa rara jogada trabalhada no primeiro tempo (veja na imagem abaixo); e o chutaço de Ayrton Lucas no travessão.
Lance de Cebolinha em Atlético-GO x Flamengo — Foto: Reprodução / Premiere
Das 15 finalizações, 11 foram no segundo tempo, quando o Flamengo teve vantagem numérica e territorial, mas pouco assustou. Com o 1 a 1 no placar, Tite inclusive mostrou uma faceta de ousadia pouco vista, de lançar o time para frente colocando jogadores de ataque no lugar dos de defesa: Gerson no lugar de Viña e Carlinhos na vaga de Léo Pereira. Nessa brincadeira, Pulgar virou zagueiro e Luiz Araújo, lateral-direito. O "tudo ou nada" em nenhum momento pareceu que ia achar o segundo gol, até o pênalti em Bruno Henrique aos 51 minutos, que foi convertido pelo artilheiro Pedro.
Scout - Atlético-GO x Flamengo
Quesito | Atlético-GO | Flamengo |
Posse de bola | 35% | 65% |
Finalizações | 10 | 15 |
Chances de gol | 6 | 4 |
Passes (precisão) | 242 (72%) | 496 (86%) |
Desarmes | 11 | 8 |
Faltas | 11 | 12 |
Escanteios | 4 | 4 |
Impedimentos | 2 | 1 |
No clichezão, o Flamengo ganhou com "mais sorte que juízo" dessa vez. E até o vice-presidente de futebol Marcos Braz admitiu nas redes sociais que foi um "resultado melhor que o jogo". Um fator que ajuda a explicar a queda recente de rendimento do time é o rendimentos dos meias. Pulgar, De la Cruz e Arrascaeta formam talvez o melhor meio de campo do Brasil, mas os três vinham mal. No Serra Dourada, só De la Cruz do trio esteve em um bom nível. Além do golaço de falta à la Zico, o uruguaio ainda foi quem mais desarmou da equipe, com três roubadas de bola.
Com uma atuação fraca, mas com três pontos na bagagem, o Flamengo retornou ao Rio de Janeiro no fim da noite de domingo e volta aos treinos na tarde desta segunda-feira no Ninho do Urubu. Tite terá dois dias para recuperar os jogadores e preparar o time para o próximo compromisso: o Rubro-Negro recebe o São Paulo na próxima quarta-feira, às 21h30 (de Brasília), no Maracanã, pela segunda rodada do Brasileirão.
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