Domingo, 24 de novembro de 2024

Postado às 10h00 | 03 Mai 2024 | redação Landim faz balanço no Fla e explica estratégia para próxima janela: "Processo contínuo"

Crédito da foto: Fred Gomes Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, em entrevista exclusiva ao ge

Por Fred Gomes, Letícia Marques, Rodrigo Capelo e Rodrigo Cerqueira / ge

A janela de transferências do meio deste ano, de 10 de julho a 2 de setembro, será a última de Rodolfo Landim na presidência do Flamengo. Com mais de R$ 1 bilhão de reforços investidos em reforços desde 2019, sendo R$ 191 milhões no início desta temporada, a diretoria observa o mercado para decidir novas contratações.

Em entrevista ao ge, Landim elogiou o elenco rubro-negro, mas admitiu a atenção voltada ao mercado. O presidente aproveitou para valorizar o investimento em De la Cruz, que, no fim, custou mais de R$ 102 milhões aos cofres - além da multa paga à vista, houve custos com luvas e intermediação.

- A gente entende que está com um plantel bastante bom agora. Claro que vamos ficar olhando. É um processo contínuo que a gente faz de avaliação do desempenho dos nossos jogadores. Quando montamos o plantel, foi para isso. Espero que não tenha lesão nenhuma e que todos os jogadores estejam bem até a segunda janela. A gente vai vendo a avaliação dos desempenhos e vai vendo se tem lesão, como fica o plantel. Sim, pode ser que a gente vá ao mercado na segunda janela para fazer alguma - disse.

- Só lembrando que a gente pagou o De la Cruz à vista porque tivemos que depositar a multa de 15 milhões de euros e, à vista, nós não tivemos nenhuma contratação maior. Mas trouxemos o Arrascaeta por 18 milhões de euros e o Gabriel por16,5 milhões de euros. Foram vários jogadores que contratamos no mesmo nível. A diferença desse (De la Cruz) é que a gente precisava ter em cash. Os outros compramos meio financiado. Não tínhamos atingido esse patamar financeiro em que estamos.

Em compra de jogadores, desde 2019, o clube mais de R$ 985 milhões. Somados os R$ 140 milhões de investimentos nas categorias de base, o Flamengo ultrapassa a marca de R$ 1,1 bilhão investidos em seu elenco nas últimas seis temporadas.

Questionado sobre o balanço da gestão, Landim preferiu se restringir ao futebol. Ele acredita que o time vive sua melhor fase desde a fundação do clube.

- Vou fazer um balanço do futebol. Quando assumi, a gente tinha 58 anos de Libertadores, e o Flamengo tinha disputado uma final, que tinha ganhado. Estamos indo para a sexta Libertadores em sequência. Desses cinco anos, disputamos três finais e ganhamos duas. O Brasileiro existia há 48 anos, e a gente tinha sido campeão seis vezes, mesmo considerando a era Zico. Dá uma média de um campeonato a cada oito anos. Estamos aqui há cinco anos e ganhamos duas vezes.

- Se a gente pegar Carioca, na história da competição nunca um clube havia disputado seis finais consecutivas. Fomos para todas as finais e ganhamos quatro. O Flamengo começou a disputar em 1912 o Campeonato Carioca. Eram 34 títulos até 2018, dá mais ou menos um campeonato a cada três anos. Nós ganhamos dois a cada três anos. Em termos de desempenho do futebol, não tenho dúvida de que o Flamengo está vivendo sua melhor fase desde a sua criação - antes de finalizar:

- O que eu quero deixar como legado? Eu entendo que todos nós que estamos aqui vamos passar. É uma corrida de revezamento. Vem um presidente, e eu tenho que passar o bastão para o próximo. No fim do ano, eu vou passar o bastão para o próximo. E eu espero que ele receba esse bastão numa condição em que ele tenha a chance de vencer as competições que ele vai disputar com muito mais facilidade do que quando recebi o bastão. Meu trabalho é de pegar o bastão, correr mais do que os outros e passar para o próximo para que ele possa continuar com as conquistas do Flamengo.

 

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Em qual degrau se coloca na história dos presidentes do clube?

- É muito difícil falar porque eu não posso me comparar a fundo com a história de todos os presidentes que passaram, também não conheço as dificuldades pelas quais passaram. Existem grandes presidentes aqui no Flamengo. Tem aquele que conseguiu o terreno aqui na Gávea e começou a fazer nosso estádio. Colocou uma semente importante para o crescimento do Flamengo. Foi um presidente importante também porque ele começou uma campanha para se tornar um clube popular.

- A parte do futebol tinha saído do Fluminense, e o clube era meio de elite. E o Flamengo se tornar um clube popular, que é uma marca registrada do Flamengo, deveu-se muito a ele. Há outros vários grandes presidentes, e eu prefiro não me comparar com nenhum. Sou apenas mais um dos diversos que estiveram aqui. Tenho certeza de que todos que passaram aqui tentaram fazer a mesma coisa que eu, uns com mais sucesso e outros com menos. Correram o pedaço deles e passaram o bastão da melhor forma possível.

- Tenho boa relação e até admiração pelo trabalho realizado por vários deles, apesar de saber que foram em condições completamente diferentes. O mercado hoje é completamente diferente. Lembro de algumas passagens, como por exemplo a do Márcio Braga, que, quando tinha jogo, a primeira coisa que ele fazia era olhar para a janela e ver se ia chover. Porque se fosse chover, não ia ter público no Maracanã e não ia ter dinheiro para pagar as contas. O que a gente conseguiu foi em cima de uma série de produtos e conteúdos que permitem hoje que o Flamengo possa ter uma diferenciação bem maior usando seu tamanho. O meu trabalho ficou um pouco mais facilitado com isso.

As reclamações sobre calendário

- A minha percepção de como isso funciona: nos estaduais são 16 datas, e as federações estaduais acabam reagindo demais para que aquilo seja modificado. E politicamente elas têm um peso muito grande, porque quando você olha o colégio eleitoral para se eleger o presidente da CBF são 27 federações que têm peso 3, então elas têm 81 votos. Os 20 clubes da Série A com peso 2 e os da Série B com peso 1, eles (juntos) têm 60 votos. No momento em que elas dizem: "Olha, não quero que modifique o número de datas que eu tenho do meu campeonato regional". Isso traz um problema para a CBF, porque são os principais eleitores do colégio eleitoral que estão ali dizendo que não querem modificar aquilo.

- Você tem que seguir a Fifa e em segunda linha a Conmebol. E aí o que que acaba acontecendo: elas fazem as competições delas, tem uma competição no Brasil que é organizada pela própria CBF (Copa do Brasil), e para mim ficou muito claro que a CBF acaba priorizando essa competição.

- Os próprios clubes chegaram a uma discussão de calendário esse ano e propuseram, por exemplo, que em vez de utilizar várias datas do Brasileiro (para a Copa América), usar parte dessas datas colocando a Copa do Brasil. De forma que equilibrasse um pouco mais a competição em que a gente perdesse jogadores numas fases mais preliminares da Copa do Brasil, onde talvez a competição não fosse tão grande, para poder preservar um pouco o Brasileiro. E a decisão da CBF foi: "Não, eu não vou modificar, eu faço o calendário". O que que acaba acontecendo? Você tem de um lado as competições estaduais com um peso político enorme; de cima, as competições da Fifa e da Conmebol que marcam o seu calendário; e o que sobra são Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro.

 

- O Brasileiro, que na minha maneira de ver deveria ser a competição de maior importância para o Brasil, é o patinho feio. Todo e qualquer ajuste que é feito no calendário acaba sendo no Brasileiro. Em vez de preservar esse que seria o mais importante campeonato, ele acaba sendo o mais impactado de todos pelo calendário. O que é muito lamentável.

 

- Um dos movimentos que a gente tem e que os clubes discutem na criação da liga é exatamente por isso, porque aí a liga vai fazer o seu próprio calendário e aí os outros campeonatos é que iriam ter que se ajustar. Sem ter uma liga forte e tendo peso para poder fazer isso, você acaba sendo obrigado a perder datas do campeonato para utilizar jogadores com data Fifa e prejudicando o seu campeonato.

Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, em entrevista exclusiva ao ge — Foto: Fred Gomes

Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, em entrevista exclusiva ao ge — Foto: Fred Gomes

Calendário de 2025 com o Super Mundial de Clubes

- Esse planejamento do próximo ano é algo que a gente ainda precisa de uma série de informações que venham até da própria Fifa. O que temos é a data, o que já dá uma ideia para tentar começar a conversar com a CBF. E no caso do Flamengo, entendo que pelo menos Fluminense e Palmeiras, você tem três clubes que já estão podendo ter um quarto classificado para o Mundial, a expectativa que nós temos é a de que haja uma paralisação no campeonato. Porque assim, um absurdo no meio de um campeonato te tirar também durante não sei quantos jogos em que você está disputando um Mundial da Fifa. É um negócio louco, né? Mas nem isso até hoje foi claramente dito, que essa paralisação vai existir no ano que vem. Então isso é uma preocupação enorme que temos.

Melhor treinador da sua gestão e o pior? A melhor contratação de atleta?

- Pelos resultados que deu, pela revolução que foi, eu não tenho dúvida de que a contratação do Jorge (Jesus) foi especial. Por vários motivos. Até pela coragem da turma do comitê de futebol que estava comigo lá. Por tudo. Pelo valor que estava envolvido. Estávamos trazendo um técnico com uma filosofia de trabalho completamente diferente do que a gente tinha e do que a gente via no país. E acabou dando muito certo. E, se a gente vir pelos resultados, não dá para não creditar aquela temporada de 2019 como a de maior sucesso que a gente teve. A gente nem estava tão bem no Brasileiro e a gente ganha com 90 pontos, a maior pontuação da história. A gente ganha a Libertadores. Disputa a Recopa e vence, a Supercopa e vence, o Carioca e vence.

- Em termos de jogador são vários. É muito difícil. Quem foi o jogador mais importante que a gente teve em 2019? Futebol é um esporte coletivo. Se eu fosse te dizer quem era o meu escolhido, que eu fiz mais carga para poder contratar, foi o Arrascaeta. Eu tinha visto o Arrascaeta nos tirar de dois campeonatos e tinha uma vontade muito grande de trazê-lo. Mas aquelas oito contratações tiveram um sucesso gigantesco. Foram ótimas. É difícil diferenciar um do outro. A crítica considera que o maior jogador de 2019 foi o Bruno Henrique, o ídolo foi o Gabriel. Mas o que o Pablo Marí e o Rodrigo Caio jogaram foi um absurdo. O Everton Ribeiro não foi uma contratação, mas teve um desempenho excepcional. É difícil selecionar um jogador. Mas o que mais me envolvi para contratar foi o Arrascaeta. Esse é o erro que o presidente tem direito a ter e, se der errado, a culpa é minha. Eu queria contratar porque acreditava no futebol dele há muito tempo.

Alívio ou felicidade quando o Flamengo vence?

- É uma frase que sempre digo: eu ficava muito feliz quando o Flamengo vencia um campeonato ou uma partida. Hoje eu não fico mais, eu fico aliviado porque eu sei da responsabilidade que eu tenho por ser o presidente. Estão na minha mão as principais decisões. Eu sei que isso influencia significativamente no humor, na esperança e na expectativa de milhões de pessoas espalhadas pelo país.

- Quando o Flamengo ganha, a gente sai no outro dia na rua e vê um monte de gente desfilando orgulhosa com o manto sagrado. Isso é muito bacana. E a gente saber que influencia na vida e no humor das pessoas traz essa grande responsabilidade.

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