Por Bárbara Bruno* — Sorocaba, SP
A vida dividida entre treinar, estudar e brincar está longe de atrapalhar o desempenho da Ana Júlia da Silva no esporte. Muito pelo contrário: utilizando o tempo livre para fazer atividades da escola, Julika junta a diversão da adolescência com a seriedade de disputar campeonatos importantes nos patins.
O resultado dessa leveza nas pistas? De 18 campeonatos disputados até hoje, a pequena gigante faturou oito títulos de campeonatos federados. O último deles - e um dos mais importantes -, foi a Copa do Mundo de Patins, disputada na França nesta semana.
A sorocabana conquistou o lugar mais alto do pódio na categoria profissional do torneio, que é conhecido como "Fise Montpellier".
Além de ser a primeira brasileira a disputar a Copa do Mundo na categoria profissional com 14 anos, ela foi a primeira mulher a fazer a "manobra 900º", que consiste em dar dois giros e meio no ar (veja abaixo).
Antes de chegar à França, a patinadora esteve em Florianópolis, onde conquistou o bicampeonato brasileiro, nas categorias Park e Street.
Julika, a princesa dos patins — Foto: Eduardo Ribeiro Jr.
Roger Campos é o treinador da Julika e a acompanha desde os primeiros passos dela nos patins no projeto social dele em Sorocaba, no interior de São Paulo. Em entrevista ao ge, Roger disse que a conquista de mais um título internacional da pupila é a realização de um sonho.
– A Ana Júlia acabou de ganhar a Copa do Mundo de Patins que é realizada todo ano aqui na França. Sempre foi um sonho para nós. Ela disputou em duas categorias, conquistou o pódio em uma e conseguiu a vaga para o Campeonato Mundial em Roma. Foi o maior campeonato em questão de público, de cinco a dez mil pessoas. É um evento que acontece em um bairro e tem outras modalidades, skate, patinete, BMX. A energia de disputar um campeonato desse é descritível – disse Roger ao ge.
– Para ela é uma diversão, ela brinca bastante, se diverte em fazer as manobras. Está sendo algo novo para nós, ano passado viemos para a França para ela treinar, e agora ela se consagrou. A Ana Júlia concorreu com as mais fortes do mundo, que são as coreanas e japonesas. Nós sempre buscamos recursos porque no Brasil não tem pistas para ela se desenvolver nesse patamar.
Julika conquistou o primeiro lugar na Copa do Mundo de Patins — Foto: Arquivo pessoal
A oportunidade de expandir os horizontes e passar a disputar campeonatos internacionais só veio após Julika conseguir um patrocínio.
Antes disso, Roger revelou que chegaram até a fazer rifas, mas ficava inviável por conta do alto valor das viagens.
– Sempre foi um sonho para nós disputar os internacionais, mas é muito difícil para conseguirmos isso. Há cerca de 10 meses ela conseguiu o patrocínio, a empresa quis investir nela como pessoa. Agora, almejamos ir para os campeonatos na Europa e ela disputar com as melhores do mundo. Para mim, não tenho dúvidas do pontecial dela. Além de ter o projeto social, tenho aulas particulares, treino faz mais de dez anos.
– De todos eles, ela tem algo especial, diferente de outras crianças. Ela faz o difícil parecer fácil, ela faz brincando. Para ela sempre vai ser uma diversão patinar. Quanto mais difícil, mais divertido vai ser para ela o campeonato. Não comparo com a Rayssa, a fadinha do skate, mas nos patins ela está se tornando um ícone brasileiro, dizem que é a princesa dos patins. Fabiola da Silva, uma das maiores patinadoras, sempre ajuda ela a treinar e da direcionamento. Ela disse que ela vai ser a melhor do mundo – contou o treinador.
Treinador Roger, Julika e — Foto: Arquivo pessoal
Roger também explicou ao ge a diferença da estrutura dos campeonatos de patins disputados no exterior com os do Brasil.
Ele ressaltou a dificuldade para os treinamentos enquanto ela está no país. Segundo ele, na pista que ela treina em Sorocaba, a situação é precária e eles precisam viajar para a capital para terem o básico, como água, luz e banheiro.
Além da diferença nas pistas, os campeonatos também são diferentes do Brasil.
– Para ela vir aqui, teve que fazer cadastros, cursos e eu também. São para explicar sobre regras de campeonato. Os do brasil são sérios mas não chegam nem aos pés.Uma coisa bem diferente que foi a primeira vez que aconteceu, foi quando ela ganhou e aí ela desceu do pódio, chamaram ela fazer o antidoping, porque é um campeonato rígido. Ao mesmo tempo que fomos fazer o exame, muita gente começou a parar ela para tirar a foto, parabenizar. Nós nos preparamos e sabíamos que ia acontecer, mas a hora que acontece levamos até um susto como 'Nossa, é antidoping' – disse o treinador.
Julika, patinadora de Sorocaba — Foto: Arquivo pessoal
Julika descreveu qual a sensação de ter conquistado o título na Copa do Mundo.
– Foi muito bom. É muito diferente dos outros campeonatos, a pressão é maior, não é igual do Brasil, que tem uma pressão, mas não é muito forte. Quando é um campeonato diferente você fica bem nervosa e tudo mais, mas é bem divertido competir com as mulheres, conhecer outras categorias – disse a patinadora ao ge.
Por fim, a adolescente contou sobre sua trajetória como patinadora. Ela pratica o esporte desde os cinco anos.
– Tudo começou quando eu era criança e tinha uma pista perto de casa. Eu via vários patinadores lá e comecei a falar para eles deixarem eu patinar. Eles deixavam, eu fui indo, patinando, e aí comecei a pegar paixão pelos patins. Agora estou onde eu estou aqui e sou muito grata por tudo e pelo Roger que sempre esteve ali comigo – disse a patinadora.
Julika, ainda pequena, nas pistas de patins — Foto: Arquivo pessoal
Em setembro, Julika tem mais um compromisso importante como patinadora: o Campeonato Mundial em Roma, na Itália. A jovem busca o bicampeonato no torneio, que conquistou a primeira vez em fevereiro.
* Bárbara Bruno colaborou sob supervisão de Arcílio Neto
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