Domingo, 24 de novembro de 2024

Postado às 13h45 | 07 Jun 2024 | redação Patrocinador máster rescinde contrato de patrocínio com o Corinthians

Crédito da foto: Reprodução Augusto Melo, presidente do Corinthians

Por Bruno Cassucci, Emilio Botta e José Edgar de Matos — São Paulo

A casa de apostas VaideBet comunicou ao Corinthians nesta sexta-feira que rompeu unilateralmente o contrato de patrocínio máster com o clube.

Assinado no começo do ano, o vínculo entre Corinthians e VaideBet tinha validade até o fim de 2026 e previa o pagamento de R$ 370 milhões – o clube recebeu cerca de R$ 66 milhões desde janeiro. Em nota, o clube alfinetou a empresa pelo rompimento.

A empresa acionou a cláusula anticorrupção para romper o vínculo. A decisão foi tomada após abertura de investigação da Polícia Civil sobre possível repasse de parte do valor de comissão do acordo a uma empresa supostamente "laranja".

Agora, o Corinthians e a casa de apostas vão tratar sobre o pagamento da multa de 10% do valor restante do contrato (o equivalente a cerca de R$ 30 milhões). Baseada em entendimento de que houve justa causa para a rescisão, a VaideBet pode se negar a indenizar o clube.

No último dia 27, a casa de apostas notificou a diretoria alvinegra de que estava sendo prejudicada pelo noticiário recente e que poderia rescindir o contrato. No documento, a companhia disse que “a vinculação do nome da VaideBet com o presente escândalo envolvendo a diretoria do Corinthians e a intermediadora tornam a presente relação contratual excessivamente onerosa para o patrocinador, na medida que vincula a marca a uma situação negativa, causando desprestigio, potencial prejuízo e risco de baixo retorno do investimento realizado na entidade desportiva”.

O escândalo ao qual a VaideBet se refere é a denúncia feita pelo "Blog do Juca Kfouri" de que a Rede Social Media Design, empresa que intermediou o contrato de patrocínio, supostamente repassou parte do valor recebido em comissão a uma empresa "laranja", chamada Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda. Ela estaria em nome de Edna Oliveira dos Santos, uma mulher residente na cidade de Peruíbe, litoral Sul de São Paulo, que nem sequer saberia da existência da mesma.

O Corinthians respondeu a notificação da VaideBet na última quinta-feira, mas os esclarecimentos prestados foram considerados insuficientes.

Sem a VaideBet, o Corinthians tem, além do seu principal espaço na camisa, outras quatro quatro propriedades vagas: barras traseira da camisa, ombro, parte traseira do calção e meião. São quatro anunciantes fixos neste momento: Ale (peito), BMG (manga), Ezze Seguros (costas) e Unicesumar (parte frontal do calção). Na reta final de 2023, o uniforme chegou a ter nove anunciantes.

Graças ao contrato com a VaideBet, assinado em janeiro, o Corinthians projetava mais do que dobrar a sua receita com patrocínios em 2024. Após fechar a temporada passada com arrecadação de R$ 117 milhões, o clube projetava faturar R$ 263,2 milhões, o que representaria um aumento de 125%.

Em documento apresentado a conselheiros nos últimos meses, o Corinthians afirmava que ainda buscava garantir mais R$ 59,4 milhões com patrocínios - destes, R$ 43,4 milhões viriam com a equipe masculina profissional.

Sem a VaideBet, a missão fica ainda mais complicada. O acordo com a casa de apostas havia aumentado o valor recebido pelo clube no principal espaço da camisa: de cerca R$ 22 milhões ao ano para R$ 130 milhões brutos.

 

Entenda o caso

A relação entre Corinthians e a patrocinadora começou a estremecer no mês passado, em virtude de notícias envolvendo uma suposta irregularidade no repasse da comissão pela intermediação do acordo entre a casa de apostas e o clube.

O contrato gerou uma série de questionamentos internos e externos no Corinthians, sendo investigado pelo Conselho Deliberativo do clube. Isso fez com que Sérgio Moura, diretor de marketing do Timão, pedisse afastamento até o fim das investigações sobre o caso.

Sérgio Moura, diretor de marketing do Corinthians, pediu afastamento após polêmicas sobre o contrato  — Foto: Jozzu/Agência Corinthians

Sérgio Moura, diretor de marketing do Corinthians, pediu afastamento após polêmicas sobre o contrato — Foto: Jozzu/Agência Corinthians

O clube e a ex-patrocinadora confirmam que foi estabelecido em contrato o pagamento de R$ 25,2 milhões em comissão à Rede Social Media Design, o equivalente a 7% do valor total da parceria. A empresa pertence a Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, que trabalhou na campanha de Augusto Melo à presidência.

A prática não configura nenhuma ilegalidade. Porém, de acordo com o "Blog do Juca Kfouri", parte do valor já pago em comissão teria sido repassado a uma suposta empresa "laranja", Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda.). Isso resultou em abertura de investigação pela Polícia Civil.

Todo esse imbróglio resultou em uma crise administrativa na gestão Augusto Melo. Além do afastamento de Sérgio Moura, o diretor jurídico Yun Ki Lee pediu para deixar o cargo depois de a presidência não cumprir com o pedido de afastamento do diretor administrativo Marcelo Mariano durante as investigações. Marcelinho, como é conhecido, teria pressionado funcionários do clube a realizarem o pagamento de duas parcelas de comissão na ausência do diretor financeiro, Rozallah Santoro.

Em reunião com o Corinthians no dia 8 de maio, a VaideBet manifestou o incômodo sobre as notícias negativas. No dia seguinte, o clube emitiu nota oficial defendendo a legitimidade e idoneidade do contrato celebrado e pedindo respeito à parceira.

Posteriormente, o próprio Corinthians cobrou extrajudicialmente a empresa de Alex Cassundé para prestar esclarecimentos.

Até o momento, o clube ainda não se manifestou sobre a rescisão do contrato de patrocínio máster.

Leia nota da VaideBet:

"A VaideBet informa que exerceu nesta sexta-feira (7) a rescisão do contrato de patrocínio com o Sport Club Corinthians Paulista. Desde o início de abril a marca acompanha e solicita esclarecimentos sobre as suspeitas levantadas, tendo já realizado reuniões, comunicações formais e notificação extrajudicial. Diante das explicações apresentadas sem nenhuma resolutividade, a VaideBet lamentavelmente se vê obrigada a tomar tal atitude.

A marca avalia que não se pode manter a parceria enquanto pairar sobre o acordo qualquer suspeita em relação a condutas que fujam à conformidade com a ética e os preceitos legais. Só a dúvida, no crivo ético da marca, já é suficiente para determinar a rescisão - que foi exercida pela VaideBet suscitando cláusulas do contrato que protegem direitos da marca nessa decisão.

A VaideBet lamenta pelo fim de uma parceria que deveria ter durado no mínimo três anos e agradece, pelo carinho e pelo respeito, à imensa e apaixonada torcida do Corinthians, que diariamente sustenta a história e os valores da instituição."

 

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