Por Redação do ge — Natal
A CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas ouviu na terça-feira Felippe Marchetti, gerente de integridade da SportRadar AG, empresa que monitora possíveis fraudes e que presta serviços para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e várias casas de apostas. Durante a reunião, o senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) falou que "coincidentemente 16 atletas que tem vestígios que já passaram por um tipo de manipulação se encontraram num time lá no interior do meu estado", citando o Globo FC. No debate, Felipe afirmou que este caso se tratava do Força e Luz.
- Existem relatórios mostrando que esse clube manipulou duas ou três partidas no Campeonato Potiguar - declarou Felipe.
- Não é coincidência. Foi feito para manipular mesmo mesmo. Quando não é com um, é com o outro. Tem 16 chances de manipulação - comentou Styvenson.
Sobre a "coincidência", Felippe Marchetti destacou esse "fato de vários atletas que manipularam" estarem no mesmo clube, mas disse que não pode afirmar categoricamente que o clube tivesse conhecimento da fraude.
- A gente começa a cruzar evidências que a gente está pegando do mercado de apostas com histórico de atletas, e aí conseguir predizer muitas vezes o que pode acontecer. Esse trabalho de inteligência é muito importante. É algo que a gente recomenda pras federações que seja feita essa análise de risco antes das competições para ver quais os clubes que estão em condição mais vulnerável e fazer um levantamento posterior de quem são esses agentes que estão por trás também desses clubes porque os contratos de gaveta muitas vezes a gente não tem acesso quem são - relatou.
Questionado pelo senador Styvenson Valentim, Felipe explicou como funciona o rastreio dos jogadores suspeitos.
- Dentro do nosso sistema a gente tem as escalações das partidas e os atletas que participaram de jogos manipulados. E aí tem dois níveis de classificação. A primeira é quando o atleta só participou do jogo e a segunda é quando ele teve uma atuação direta no resultado. Vamos pegar um exemplo: um atleta que participou de um jogo manipulado, fez um gol contra, fez um pênalti. Ele vai ter uma marcação especial dentro daquele jogo, mas a gente consegue saber atletas que participaram de vários jogos. Às vezes, ele não esteve envolvido diretamente com um pênalti, com um cartão, com gol contra, mas ele estava no jogo. Aí pode parecer aquela coisa: ele está jogando hoje no Rio Grande do Sul, e o time dele está manipulando e acabou o campeonato, na divisão de acesso gaúcha, ele sai de lá e vai jogar na Paraíba. Aí, de novo, coincidentemente, o time que ele chega na Paraíba, um mês depois que ele chegou lá, esse clube começa a manipular. 'Opa, aí tem coisa'. Ou não, mas provavelmente tem - disse.
Styvenson solicitou cópia de relatório da SportRadar "porque ficou curioso" para acompanhar as denúncias contra Globo e Força e Luz. Felippe Marchetti também frisou a importância de delimitar as competências da SportRadar nestes casos de manipulação.
- A SportRadar não tem poder de polícia para chegar ali quebrar um sigilo bancário, quebrar um sigilo telefônico. A gente tem, sim, uma equipe de investigação, de inteligência, que consegue mostrar potenciais conexões. Por exemplo: se a pessoa que arrendou esse clube tem alguma conexão com algum manipulador de resultados internacional ou se o atleta que estava lá num clube que manipulou, ele saiu do Brasil e foi jogar no exterior. Digamos que foi jogar na América Central num clube, será que esse clube não tem uma conexão ou será que o dirigente desse clube não tem uma possível conexão com algum grupo internacional de manipulação de resultados?
Em nota, a Federação Norte-rio-grandense de Futebol informou que "apoia o combate à manipulação de resultados, e contratou a empresa SportRadar para o monitoramento de jogos. A FNF colaborou enviando denúncias ao Tribunal de Justiça Desportiva do RN, Ministério Público do RN e CBF e espera que as autoridades procedam com a apuração e punição rigorosa aos possíveis infratores".
Operação Gol Contra
Em março, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) deflagrou a operação "Gol Contra", que apura a existência de suposto esquema de manipulação de resultados em jogos de futebol. À época, foram cumpridos mandados de busca e apreensão nas cidades de Ceará-Mirim, no RN, e ainda em Rio Branco, no Acre.
Segundo o MP, o esquema de manipulação de resultados estaria ocorrendo em campeonatos organizados pela FNF, e "havia um arranjo a fim de favorecer determinados grupos em apostas predatórias realizadas no chamado 'mercado bet'".
Operação do Ministério Público do RN em Ceará-Mirim — Foto: Divulgação
Em janeiro, a FNF havia encaminhado ao MP uma denúncia de suspeita de manipulação de resultados em dois jogos do Campeonato Potiguar 2024. As partidas citadas foram ABC 6 x 0 Força e Luz, realizada no dia 17 de janeiro, e Globo FC 0 x 2 Santa Cruz de Natal, no dia 21.
De acordo com o presidente da FNF, José Vanildo da Silva, a suspeita de manipulação foi fornecida à entidade por uma empresa contratada pela Confederação Brasileira de Futebol para monitorar possíveis fraudes em sites de apostas.
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