Por Tébaro Schmidt — ge
Pressão? Os crias do Vasco mostraram na noite deste sábado que sabem lidar com a responsabilidade e podem ser uma solução caseira para momentos de crise. A goleada por 4 a 1 sobre o São Paulo, em São Januário, passou pelos pés de Guilherme Estrella, Leandrinho e JP.
Estrella foi titular e assumiu com destreza a função de organizar o meio de campo na ausência de Payet, que desfalcou a equipe pela quarta partida consecutiva. Fez um gol, o seu primeiro como profissional. Leandrinho e JP entraram no segundo tempo e ajudaram a construir o placar elástico: o lateral-esquerdo foi o autor do terceiro gol, um chutaço de canhota, e o volante deu a assistência para David fechar o placar.
Diante do momento conturbado na temporada, com três derrotas nos últimos quatro jogos, os garotos da base surgiram como opção e fizeram valer a aposta. Méritos do interino Rafael Paiva, que conhece bem os jogadores por ser treinador do sub-20 e não teve medo de colocá-los em campo.
- O Vasco tem esse DNA da base, sabia que a gente precisava oxigenar um pouco o grupo para dar, com os meninos, um pouquinho de energia. Acho que era o momento de colocá-los. Sabia do risco, era difícil, mas é nesses momentos que tem que mostrar o potencial - explicou Paiva, que comandou a equipe após a demissão do português Álvaro Pacheco na quinta-feira passada.
Foi apenas a terceira vitória do Vasco no campeonato - a última havia sido há mais de um mês, em cima do Vitória, na sexta rodada. Com o resultado, a equipe respira, sai da zona de rebaixamento, se distancia do Grêmio (que perdeu para o Internacional) e ultrapassa o Atlético-GO (que empatou com o Cuiabá) na tabela. Os outros jogos ocorrem neste domingo.
A goleada sobre o São Paulo também foi marcada por um protesto que esvaziou as arquibancadas de São Januário. As principais organizadas do Vasco convocaram um boicote e pediram para os torcedores não irem a São Januário. Resultado: público presente de 5.036 pessoas, um dos menores já registrados pelo clube no Brasileirão.
Futebol convincente
Não que houvesse necessidade disso. O Vasco, na atual situação, precisava vencer de qualquer maneira, um meio a zero que fosse. Mas o time comandado por Rafael Paiva venceu e convenceu. Foi a melhor atuação da equipe até aqui no Brasileirão.
O time teve menos posse (41% contra 59%), mas apostou desde o primeiro minuto em uma postura vertical, trocando passes no campo ofensivo e partindo para cima do São Paulo. Depois de atuações recentes muito ruins, foi comovente ver Hugo Moura virando o jogo, Estrela tratando a bola com carinho, os pontas David e Adson dando sequência às jogadas e os laterais apoiando no ataque.
O Vasco estava diferente neste sábado e começou jogando dessa forma, apesar do gol marcado pelo São Paulo logo no início, numa cabeçada de rara felicidade de André Silva. Mas os jogadores não se deixaram abalar: colocaram a bola no chão e, de pé em pé, buscaram o empate. Depois, a virada.
O São Paulo teve um ligeiro momento de superioridade depois de abrir o placar e poderia, inclusive, ter aumentado essa vantagem: em uma hora, Maicon se jogou para cortar a finalização de Calleri; na outra, João Victor se esticou quase em cima da linha para não deixar a bola chegar ao atacante do São Paulo. Foi uma partida segura da dupla de zaga, embora o camisa 4 tenha sofrido com os protestos e ouvido vaias toda vez que tocava na bola.
Jogadores do Vasco comemoram gol contra do São Paulo — Foto: André Durão
O gol saiu de uma trama pelo lado direito, onde Adson e Paulo Henrique se entenderam muito bem. O ponta também participou do segundo gol, com assistência para Estrella. O primeiro tempo acabou com o São Paulo nas cordas. A torcida percebeu isso e cantou alto no intervalo.
Time brigador
O Vasco foi um time elétrico neste sábado, com todos os jogadores na mesma voltagem. A atuação de Mateus Cocão nesse sentido merece um bom espaço nas mesas de debate: o volante correu do início ao fim, protegeu a zaga e foi o maior ladrão de bolas da equipe na partida, com seis desarmes. Incansável em campo.
O terceiro gol nasceu de uma roubada de bola de Rossi no meio de campo. A bola circulou verticalmente até chegar em Leandrinho, que havia acabado de entrar. Ele fuzilou o goleiro Jandrei e desafogou, que àquela altura controlava algumas investidas do adversário e segurava um placar perigoso.
Já no fim, com o São Paulo entregue, o Vasco aproveitou para transformar a vitória em goleada pelos pés de David, um dos melhores jogadores da partida. Ele já havia participado dos dois primeiros gols antes de receber assistência de JP e dar uma chicotada para selar o placar que, além de significar um reencontro com a vitória, eleva a moral da equipe para o restante do campeonato.
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