Por Cahê Mota, Carlos Gil e Ivan Raupp — Las Vegas, EUA
O maior dos talentos e o mais jovem deles juntos em breve. A Seleção ainda digere a eliminação precoce na Copa América, mas já é momento de olhar adiante. E o futuro do time comandado por Dorival Júnior passa por dois nomes: Neymar e Estevão, como o próprio treinador admite ainda que precavido nas palavras.
Dois dias depois da queda nos pênaltis para o Uruguai, Dorival atendeu ao ge para avaliar o que já passou e projetar o futuro. Com apenas seis meses e oito jogos no comando da equipe, o técnico da Seleção voltou a falar que viu evoluções na equipe durante a competição disputada nos Estados Unidos e reforçou que o processo de reformulação demanda tempo após um 2023 de frustrações para a equipe nacional.
"Não acontece do dia para a noite. Eu acho que nós tivemos aí alguns anos bem complicados. Os últimos fizeram com que nós tivéssemos algumas dificuldades"
- É o momento em que chegamos a uma apresentação logo em seguida, dois compromissos muito difíceis, com Inglaterra e Espanha. Logo em seguida, um período de observações contínuos, com campeonatos no Brasil e fora dele. Isso tudo é um processo. Às vezes, as pessoas não entendem o que é o processo ou os processos dentro do futebol.
A Seleção volta a se reunir em setembro, para enfrentar Equador e Paraguai, pelas eliminatórias. A tendência é que Neymar já esteja em atividade pelo Al Hilal, e Dorival falou sobre a relevância do craque neste processo de renovação. Por outro lado, deixou claro que é importante que outras referências se consolidem para auxiliar o dono da camisa 10.
- Olha, é tudo que nós estamos trabalhando. Para que o protagonismo se divida. Estamos procurando fazer com que todos nós chamemos um pouco mais da responsabilidade para que ali na frente o Neymar possa complementar ou completar tudo isso. Nós precisamos fazer com que o Neymar tenha tranquilidade para poder jogar dentro das suas melhores condições. Que ele busque ser mais uma peça, naturalmente, porque é um jogador muito importante, diferenciado, acima da média.
Um dos nomes que desponta como possível parceiro de Neymar no futuro da Seleção é Estevão. O talentoso meia-atacante do Palmeiras é a sensação do Brasileirão, foi vendido recentemente para o Chelsea, mas na época da convocação para a Copa América ainda estava um patamar abaixo até mesmo dentro do clube.
diferente. Todos serão observados, todo jogador brasileiro, em qualquer parte do mundo, vem sendo observado. Nós não paramos. Esse trabalho é um trabalho contínuo. É um trabalho delicado, minucioso, para que ele não erre. Eu acho que a maioria dos jogadores que foram convocados aí tiveram a aceitação de um modo do público. Nós estamos sendo bem criteriosos em tudo isso. Saímos de uma Copa América fortalecido, eu garanto isso.
Parte da delegação brasileira ainda está nos Estados Unidos por conta de problemas meteorológico. Um tornado dificulta que aviões pousem na região de Houston e a tripulação do voo fretado que buscará Dorival Júnior e seus pares da comissão técnica em Las Vegas passou por atrasos. A expectativa é de que o grupo chegue ao Rio na quinta-feira.
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O que muda agora com cabeça mais fria?
Bom, não pense que mude muita coisa, não. Até porque é muito difícil para nós, que somos profissionais. Nós estamos totalmente envolvidos com todos os momentos, quer sejam positivos ou negativos. Se fossem positivos, também não estaríamos tranquilos, já pensando no próximo movimento. A grande verdade é essa. Após uma grande competição você sempre tem uma parada necessária para que você possa fazer uma avaliação, e eu acho que é em cima disso que nós temos que começar a aprender o que o futebol nos apresente. São muitos detalhes importantes de todo o processo, de tudo o que foi feito até então. A Seleção vem para cá já 40 dias atrás. Nós, pela primeira vez, tivemos uma temporada. De uma equipe que fez agora, com a última apresentação, a sua oitava partida. Nos últimos dias, 10/15 dias, nós começamos a perceber o quanto foi importante nós termos tido esse tempo para que pudéssemos ambientar, adaptarmos, evoluirmos como equipe.
E isso não acontece do dia para a noite. Eu acho que nós tivemos aí alguns anos bem complicados. Os últimos fizeram com que nós tivéssemos algumas dificuldades. É o momento em que chegamos a uma apresentação logo em seguida, dois compromissos muito difíceis, com Inglaterra e Espanha. Logo em seguida, um período de observações contínuos, com campeonatos fora do Brasil e fora dele. Isso tudo é um processo. Às vezes, as pessoas não entendem o que é o processo ou os processos dentro do futebol. Nós temos a obrigação de tentar mostrar que, como todos pediram uma reformulação, todos exigiram uma reformulação na seleção brasileira, existe uma reformulação, mas essa reformulação ela tem que ser pensada, ela tem que ser estudada, trabalhada, porque você não sai de uma reformulação para resultados imediatos. É muito difícil isso acontecer. Poderia até ter acontecido.
Se talvez alguns detalhes acontecessem a nosso favor dentro das partidas que tivemos. Porém, eu acho que coisas muito boas aconteceram. É natural aqui, quando não se tem o resultado principal, a conquista, as vitórias, tudo o que foi feito, é apagado. Mas para nós que estamos aqui dentro, foram momentos muito importantes, de um crescimento, onde nós sentimos o quanto essa equipe evoluiu em todos os aspectos. No principal, como grupo. Grupo que começou a sentir a vibrar, bem diferente daquilo que foi os dias iniciais da nossa apresentação.
Você acha que os aproveitamentos dos que vieram foi positivo?
Foi muito positivo. Não se tem ideia do que do que é a formatação e a formação de uma equipe. Para todos nós foram dias importantes. Foram dias importantes em todos os sentidos. A qualificação de treinamentos, a condição que nos foi dada. Pensamos em todos os detalhes para que não passássemos nenhuma, nenhuma sensação diferente ao nosso torcedor, a não ser de trabalho, de dedicação, comprometimento, compromissos com a nossa entidade, com o nosso país, com os jogadores que aqui estiveram.
Agora estamos aí, talvez completando 45 dias de trabalho aqui. Nós não tivemos um problema de lesão porque tomamos muitos cuidados. Tivemos cautela. Trabalhamos com um volume de treinamento, porém sempre observando a grande maioria desses jogadores que estavam em final de temporada e vinham se apresentando nessas condições. Nós não tivemos um atrito ao longo de todo esse processo. Nós sentimos que esse grupo começou a se formar, começou a ter uma ligação muito alegre.
Natural que fizemos partidas de oscilações, até dentro da própria partida das apresentações que tivemos. Tivemos detalhes muito interessantes a favor. Tivemos também alguns outros contrários. Nós chegamos aqui tendo que nos preocuparmos com o número de gols, todos nos questionávamos. Nós estamos fazendo gols, mas estamos tomando gols também, e isso, de repente, não foi um problema.
Tudo que foi sendo sanado, desde que fossem treinados, mostrados, melhorados. Tudo vinha acontecendo. Poderíamos estar numa outra estação. Talvez poderíamos ter tido um rendimento um pouco melhor. Concordo, concordo. Tudo é um processo. Ele é trabalhoso, ele é moroso. E para vocês terem uma ideia, o nível de treinamento que nós tivemos nos levavam a acreditar e a gerar uma expectativa muito grande em relação a tudo o que poderíamos fazer, porque o que foi apresentado chamava muita atenção.
Todos pontuaram isso, quer seja a comissão técnica, as pessoas que estavam em volta acompanhando, observando alguns detalhes, então gerou, sim, uma expectativa ainda maior. É natural que as dificuldades de uma partida como aqui tivemos também foram apresentadas ao longo das jornadas e fatos positivos e negativos também aconteceram.
Nós convivemos com uma dificuldade de criarmos um campo, que para todo mundo foi um pouquinho complicado. Jogamos em campos um pouco mais reduzidos. A morosidade na troca de passes em alguns momentos de todas as equipes, dificultando o sistema de criação, nós tivemos muitos jogos com placares abaixo até daquilo que de repente poderiam acontecer. Foram poucos jogos com um número excessivo de gols, como 5 a 0 da Colômbia, 4 a 1 do Brasil sobre o Paraguai, mas foram raros resultados. e isso mostrando que as dificuldades, todas as equipes enfrentaram. Até porque quem precisa criar é natural que tenha muito mais dificuldade em campos de dimensões menores, que foi o que aconteceu, as marcações estavam muito próximas, muito fechadas.
Os bloqueios aconteciam rapidamente, as mudanças de coberturas, elas se aproximavam com muita velocidade. Então tudo isso foi uma grande dificuldade que todos os clubes passaram, ainda mais nós que estamos no processo de formação. É uma iniciação, são apenas nessa fase agora seis jogos, 2 amistosos e 4 jogos oficiais. Eu sentia que com o passar da competição, talvez ganhássemos um pouco mais de corpo. E olha que nós fizemos jogos onde oscilamos um pouco, como todas as equipes oscilaram. Só que o nosso processo é um pouco diferente das demais. Então por isso que eu friso muito esse assunto. Falamos em modificações dentro da equipe, sim, mas não temos que ter essa paciência. O futebol não queima etapas e nós precisamos desse tempo. Eu sei que os resultados têm que acontecer e precisam ser imediatos, mas não é assim.
Foram as opções corretas?
Totais. Nós tínhamos um leque de 45 nomes, 47, talvez. Levamos em conta o momento, as qualidades. A maioria dos nossos grandes jogadores estão fora do país. Eu sempre falei que gostaria muito de trabalhar e oportunizar aqueles que estão no Brasil. Pensamos também em todas as situações possíveis, os clubes jogando dentro de uma Copa América e continuando o Campeonato Brasileiro, tudo o que foi avaliado, tudo que foi muito bem pensado, mas estes jogadores que estão são muito qualificados. Eu não tenho dúvidas que nós estamos no caminho. Eu tenho uma convicção muito grande que todas as coisas podem acontecer de uma maneira natural. Temos que ter um pouco de paciência.
E as modificações que foram feitas, foram modificações importantes. Não se alcançam resultados de uma maneira imediata. A seleção viveu ainda no ano anterior e jogando contra a mesma Colômbia e a equipe do Uruguai, foram dois jogos bem complicados, bem difíceis. Tivemos dois derrotas. Hoje, ao contrário, foram dois jogos totalmente iguais. Aliás, tivemos um pênalti que poderia ter mudado toda a história da Copa América, não anotado pelo trio de arbitragem, mas reconhecido por todos. Ali seria um 2 a 0. Poderíamos tomar uma virada, poderia acontecer, mas seria muito difícil para a equipe adversária se recuperar na partida.
E por isso que eu sempre pontuei que nós tivemos coisas muito mais positivas do que negativas. E dentro de uma competição muito difícil, onde as equipes estão evoluídas em todos os aspectos. E as dificuldades foram grandes, assim como eles tiveram muitas dificuldades para jogar. Enquanto o Brasil também, na minha opinião, se comportou de uma maneira digna, onde jogadores valorizaram, se entregaram ao extremo e buscaram fazer tudo aquilo que estão ao nosso alcance.
Convocações de Pedro e Estevão na próxima?
Assim, de um modo geral, Pedro sempre esteve no nosso lado. Sempre. Ele sabe disso. Eu não preciso falar. Contingências, momentos, necessidades até de conhecer um pouco mais outros jogadores. E naturalmente que teve momentos em que ele próprio chegou, ele sabe disso. Mas é um jogador que eu tenho um carinho, respeito muito grande. O Estevão é um menino que no momento da convocação ainda não era titular da Sociedade Esportiva Palmeiras, hoje já vive um momento diferente. Todos serão observados, todo jogador brasileiro, em qualquer parte do mundo, vem sendo observado.
Nós não paramos. Esse trabalho é um trabalho contínuo. É um trabalho delicado, minucioso, para que ele não erre. Eu acho que a maioria dos jogadores que foram convocados aí tiveram a aceitação de um modo do público. Nós estamos sendo bem criteriosos em tudo isso. Saímos de uma Copa América fortalecido, eu garanto isso.
Um grupo que se começa a se estabelecer, um trabalho que às vezes as pessoas não veem, não observam resultados imediatos. Não, não vai acontecer. Eu nunca escondi nisso. O meu objetivo não era a Copa América. O meu objetivo é a Copa do Mundo, lá na frente. Eu sabia o tipo do trabalho que nós faríamos, as mudanças necessárias, tudo o que foi implementado, toda a condição que nos foi dada e o quanto foi importante esse período que nós tivemos para que tivéssemos aí um crescimento importante.
A Seleção ainda precisa do Neymar?
Olha, é tudo que nós estamos trabalhando. Para que o protagonismo se divida. Estamos procurando fazer com que todos nós chamemos um pouco mais da responsabilidade para que ali na frente o Neymar possa complementar ou completar tudo isso. Nós precisamos fazer com que o Neymar tenha tranquilidade para poder jogar dentro das suas melhores condições. Que ele busque ser mais uma peça, naturalmente, porque é um jogador muito importante, diferenciado, acima da média.
É um atleta que eu conheço muito bem. Ele sabe da importância que tem. O que eu quero é que ele se sinta muito tranquilo para que no momento em que ele aqui esteja, ele possa ofertar no seu melhor aproveitamento possível.
Copa América de Vini Jr e Rodrygo decepcionou?
De modo geral, eu evito falar individualmente, eu acho que são dois jogadores que chegaram num momento muito complicado porque você chegando com o seu emocional numa final de um campeonato tão importante. A conquista tem aquele período de acomodação, de celebração para uma "remotivação" , 10 dias depois, em busca de uma nova competição. Não é um momento simples, fácil, eu acho que nós tivemos também um período de oscilação como equipe, de modo geral.
Eu acho que são jogadores promissores, altamente qualificados, e temos que ter muito cuidado, qualquer avaliação imediata. Se tivéssemos um outro tipo de resultado, hoje estaríamos falando de uma outra forma. Mas eu acho que são jogadores que prometem muito e ainda poderão entregar muito com a camisa da Seleção.
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