Por Bruno Cassucci — Santiago, Chile
Não fosse o gol de Luiz Henrique, aos 43 minutos do segundo tempo, muito provavelmente o principal tema dos debates esportivos desta sexta-feira seria a ausência do Brasil no grupo das seis seleções sul-americanas que se classificam diretamente para a Copa do Mundo. Um empate no Chile deixaria a Seleção atrás da Bolívia e com o mesmo número de pontos que a Venezuela, no sétimo lugar, posição que leva à repescagem. Seria um vexame.
A vitória por 2 a 1 em Santiago não impediu o Brasil de ter sua pior campanha em um primeiro turno de Eliminatórias, mas trouxe, além de pontos importantes, uma trégua fundamental.
A Seleção segue devendo futebol nestes últimos dois anos, ainda há muito o que corrigir e desenvolver na equipe, mas isso fica bem mais fácil de ser trabalhado num cenário de menor pressão.
O Brasil mais uma vez apresentou um jogo pouco empolgante e repetiu dificuldades que já tinham ficado evidentes na Copa América e nas últimas rodadas de Eliminatórias. Ainda assim, é possível notar, mesmo que discretamente, alguns sinais positivos.
Não se pode ignorar, por exemplo, a resiliência e capacidade de reação do time para buscar uma virada como visitante depois de levar um gol com 86 segundos de jogo.
Fora de casa e atrás no placar desde o começo, o Brasil conseguiu superar o choque inicial e controlou a maior parte da partida, tendo posse de bola na casa dos 70% e exigindo muito pouco ou quase nada do goleiro Ederson.
Ofensivamente houve melhora em relação ao visto nos duelos contra Equador e Paraguai, em setembro, mas ainda muito longe do ideal. Com Savinho fixo na direita e Rodrygo e Raphinha com bastante mobilidade, a Seleção abusou das jogadas pelas pontas porque sofria para construir por dentro.
André e Lucas Paquetá cometiam muitos erros na saída de bola, e as linhas de defesa e ataque jogavam distantes no novo esquema de Dorival - uma espécie de 3-2-5 quando o Brasil tinha a posse e 4-4-2 na hora de se defender.
Estreantes com a amarelinha, o lateral-esquerdo Abner e o atacante Igor Jesus mostraram personalidade e tiveram boas atuações. Enquanto o primeiro fez ultrapassagens e ajudou a alargar a defesa chilena, o segundo brigou com os zagueiros e ofereceu um jogo mais físico, algo que Endrick e outros atacantes à disposição de Dorival não conseguem. Com bom posicionamento e cabeceio preciso, o jogador do Botafogo empatou o placar no fim do primeiro tempo.
Embora seja precoce qualquer conclusão a respeito da dupla - para bem e para mal - é animador para o Brasil encontrar alternativas para posições tão problemáticas neste ciclo de Copa.
Porém, problemas antigos seguem lá. A defesa voltou a dar bobeira, Danilo contribuiu muito pouco no ataque e ainda cometeu vacilos atrás, erros técnicos se repetiram e atrapalharam jogadas de ataque...
Essas e outras questões seguirão dando trabalho a Dorival Júnior, mas tudo seria bem mais difícil de resolver se a Seleção não tivesse vencido. Pelo menos até às 21h45 de terça-feira, quando enfrenta o lanterna Peru, o Brasil garantiu um pouco de paz.
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