Por Sergio Santana — ge
Menos de três meses depois de estrear pelo Botafogo, Igor Jesus se tornou o centroavante titular da seleção brasileira. O sucesso imediato desperta a dúvida: como o clube identificou um jogador que deu tão certo, mas só havia disputado 10 partidas do Brasileirão na carreira e estava longe dos principais centros do futebol mundial?
A resposta começa em um emprego anterior do atual diretor de gestão esportiva e chefe do departamento de scout do Botafogo, Alessandro Brito. Há quase uma década, ele era olheiro do Athletico-PR e conheceu Igor, então com 14 anos e jogador da base do rival Coritiba, que frequentemente enfrentava os times de divisões inferiores do Furacão.
Igor chegou ao Coritiba após se destacar em projetos esportivos em Mato Grosso, como o ge contou esta semana. Desde o início, impressionou pelo porte físico avançado e pela facilidade de jogar contra atletas mais velhos. Aos 19 anos, após duas temporadas na equipe principal do Coxa (uma na Série B e uma na Série A), transferiu-se para o Shabab Al-Ahli, dos Emirados Árabes.
De longe, Alessandro Brito acompanhava o desempenho do atleta. Em 2021, por exemplo, quando estava no Atlético-MG, o executivo tentou contratar o atacante, sem sucesso, já que a oferta foi recusada pelo clube dos Emirados.
Interesse do Botafogo
Em 2022, Alessandro Brito assumiu o Botafogo com a missão de chefiar o departamento de scout do clube. Nos últimos dois anos, centenas de jogadores foram observados de alguma forma pela equipe. Desde a janela do início de 2023, um nome fazia brilhar diversos olhos alvinegros: Igor Jesus.
Praticamente todos os funcionários, mesmo vindo de áreas diferentes, consideravam Igor interessante. O nome do atacante sempre era citado quando o departamento fazia a varredura dos nomes observados.
No começo da reformulação do departamento, com a entrada da SAF, o atacante estava machucado — ele sofreu grave lesão que o tirou dos gramados de setembro de 2021 a setembro de 2022. Antes da contusão, o jogador teve ótima sequência no Oriente Médio, com 14 gols em 15 partidas, e chegou a receber sondagens de Galatasaray (Turquia) e Olympique de Marselha (França).
Com a volta de Igor Jesus aos gramados dos Emirados Árabes no segundo semestre de 2022, o Botafogo passou a observar de perto o atleta, tratado desde o início de 2023 como um dos principais alvos para o ataque.
Um olheiro da Eagle Football, empresa multi-clubes de John Textor, assistiu a jogos de Igor in-loco pelo Shabab Al-Ahli e deu sinal verde para o clube manifestar o interesse.
No ano passado, a diretoria alvinegra fez uma sondagem por Igor, mas o Shabab Al-Ahli não mostrou interesse em negociá-lo. Em boa situação financeira, o clube dos Emirados Árabes pedia valores considerados fora da realidade.
Encerrado o ano de 2023, o Alvinegro ganhou uma carta na manga: o contrato de Igor Jesus estava no fim. No meio de 2024, o atacante poderia se transferir sem pagamento de direitos ao Shabab Al-Ahli.
Identificada a necessidade de contratar mais um centroavante depois da saída de Diego Costa, o Botafogo abriu as negociações. Inicialmente, tentou contratar Igor Jesus em janeiro, o que foi negado pelo clube dos Emirados Árabes. Assim, a diretoria decidiu assinar o pré-contrato com o jogador para a janela do meio deste ano. Por mais que precisasse esperar seis meses, o clube entendia que era um atleta promissor.
O desejo do atacante de voltar para o Brasil facilitou a negociação. Ele tinha um sonho em mente: vestir a camisa da Seleção. Mas surgiu um obstáculo. Um clube dos Emirados Árabes ofereceu 10 milhões de euros (R$ 61 milhões) ao Botafogo, que poderia ter lucro por um atleta que nem havia entrado em campo pela equipe.
Igor estava valorizado no Oriente Médio porque só faltava um ano atuando no país para poder se naturalizar e defender a seleção dos Emirados Árabes. Porém, o jogador não se interessou, e Alessandro Brito foi um dos que defenderam que o Botafogo recusasse a proposta. Hoje, o clube só liberaria o atacante por uma proposta bem acima dos 10 milhões de euros.
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