Por Diogo Dantas - O Globo
Os 42 anos de vida, sendo mais de 15 anos de carreira, de Adriano ganharam as páginas de uma biografia que será lançada hoje, mas que já está à venda. Em “Adriano - meu medo maior”, o ex-jogador enfim se abre em mais de 500 páginas com narrativas sobre sua história pessoal e passagens do futebol. Revelado pelo Flamengo em 2001, tornou-se o Imperador na Inter de Milão, mas caiu em depressão e enfrentou problemas com o alcoolismo. A cura, como a obra mostra, veio de suas origens, na favela Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Lá esteve o jornalista paulista Ulisses Neto, de 2020 a 2023, para retratar em palavras o que transbordava do imenso coração de Adriano, hoje com 42 anos.
— Foram mais de três anos trabalhando no projeto. Vinha ao Rio a cada três meses. Tentava não ficar muito tempo sem falar com ele. Conversa por telefone não funcionava, tinha que ser pessoalmente. O que eu fazia era bloquear dez dias na minha agenda, vinha para o Rio, ficava perto da casa dele, aguardando contato com Adriano, porque ele também tem a agenda dele, nem sempre responde, não quer falar, é um trabalho de paciência, eu tinha que esperar — conta o autor, também impactado pela imprevisibilidade que Adriano mostrou nos clubes que passou.
— Dentro dessas janelas conseguia encontrar com ele três a quatro dias. E eram dias intensos, de muito contato, observava o que é narrado no livro, e fazia as entrevistas, vivia as experiências com ele — completou.
Os encontros, como mostra o livro, sempre tiveram a presença dos parceiros do jogador e de um primo, que o acompanharam desde o início da carreira. A assessora Renata Battaglia também ajudou no processo ao convidar Ulisses para escrever o livro depois de uma publicação do “Players Tribune” que caiu nas graças de Adriano, e o fez romper com uma editora italiana.
Entre as camadas expostas por Adriano estão os amores com as várias namoradas, a rotina de festas e álcool — ele ressalta que nunca usou drogas, só cigarro —, e as dificuldades de se manter no peso, ser atleta.
“Minha depressão tinha chegado a um nível que eu não gosto nem de lembrar. Nada mais funcionava. Uma coisa leva a outra, negão. Pra jogar bem, eu precisava de sequência, e eu não tive isso. Para ter sequência, eu tinha que treinar bem, e eu não conseguia manter o foco por muito tempo. Para não beber e não ir para a balada, eu tinha que estar com a cabeça no lugar. E sem jogar nem fazer gol era impossível. Tá entendendo o tamanho da cagada?”, descreve em um trecho do livro. Em diversos outros, se vê como perseguido da imprensa e deixa claro o incômodo com o tratamento dado no Brasil e na Itália. O principal motivo para não ter sido o que poderia ser não fica claro, mas a lesão no tendão de Aquiles quando tentou voltar a jogar pelo Corinthians é o momento que praticamente decreta o fim da carreira de forma precoce.
— Ele se vê como responsável pelas atitudes dele, não culpa ninguém. Aponta erros que cometeram com ele, mas não diz que as coisas que aconteceram foram culpa de alguém. Não sei se ficou em paz por não ter chegado mais longe na carreira, mas tem essa compreensão de que poderia alçar voos maiores. Os que ele alçou foram muito grandes — reconhece Ulisses.
Adriano morava na Vila Cruzeiro, e sua mãe Rosilda comprou um título do Flamengo no começo dos anos 1990. Foi assim que ele começou a jogar pelo clube, não fez peneira na Gávea.
“Você sabe o que é ser uma promessa? Eu sei. Inclusive uma promessa não cumprida. O maior desperdício do futebol: Eu. Gosto dessa palavra, desperdício. Não só por ser musical, mas porque me amarro em desperdiçar a vida. Estou bem assim, em desperdício frenético. Curto essa pecha”, disse no livro.
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